Política

Casaca emite nota sobre o Bom Senso Futebol Clube

O Presidente do Vasco, Eurico Miranda, lançou por vias oficiais uma interessante pergunta na semana que passou: quem é Bom Senso Futebol Clube? A intenção me pareceu ir bem além da provocação, pois oferece a quem acompanha futebol a reflexão a respeito dos reais interesses dos integrantes desta ONG para abastados.

A resposta emitida pela organização veio através de uma estupidez do tamanho das ideias que defendem. Saudaram as “múmias”, em alusão a Eurico. Não estamparam as fotos dos reais comandantes do troço, que preferem uma penumbra. Apenas dos inocentes úteis. A peça foi ilustrada com fotos de ex-jogadores, jogadores e ex-jogadores em atividade. Esqueceram-se, porém, de colocar os nomes de cada qual sob cada foto. Uma espécie de esparadrapo na identidade de cada um. Descuido que causou a mim, e estou certo que a vários, o desconforto de sequer conhecer muitos dos que ali tentavam se representar e que se entendem como figuras de destaque do futebol nacional. Curioso como isto apenas reforçou a pergunta lançada pelo Presidente do Vasco.

É fato que eu não conheço todos eles, mas o rastro que deixam com as ideias que acham que defendem não cheira bem. Vou usar como exemplo, então, as falas do Fred, em recentes entrevistas postas no ar com vigor pela mídia. Ele mesmo, que depois de usar esparadrapos nas pernas na Copa de 2014 e na boca por uns segundos no domingo passado, desandou a falar.

Na semana que passou, Fred defendeu, além do Flamengo, o fim do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Disse que prefere, em seu lugar, disputas regionais através dos grandes clubes. Um discurso pró-elitização.

Algumas das respostas que sugiram contra esta preferência de Fred apontam que o fim dos estaduais causaria uma série de desempregos diretos e indiretos. A tréplica veio com todo o desconhecimento (ou seria maldade?) de Fred. Disse ele que “Eles deviam lembrar que esses mesmos 3000 jogadores têm dois, três meses de emprego, só durante o Carioca. Seria muito bacana se fizessem um calendário para eles terem emprego o ano inteiro.”

Eu não tenho a pretensão de responder ao Fred e muito menos ao Bom Senso FC. Apenas alertar aos meus 13 leitores (a meia dúzia que me odeia, a meia dúzia que simpatiza e eu mesmo) sobre o que está por trás de declarações como esta, que representa a ideia geral do tal Bom Senso.

A Federação de Futebol do Rio de Janeiro já possui calendário anual que envolve todos os times. O Fred não sabe disso, mas o segundo semestre do Rio de Janeiro é preenchido parcialmente com uma competição chamada Copa Rio, que mantém em atividade times que não se classificaram para a série D brasileira, além de todos os outros filiados que ficaram de fora do calendário nacional. Porém, há um problema: como ninguém acompanha, qualquer atleta que se destaque em tal competição não é sequer notado. E nunca progredirá na carreira.

Imagino que a fala de Fred tenha sido no sentido de que fosse criado em nível nacional o tal calendário por ele sugerido. Teríamos as séries E, F, G, H e por aí vai. Mas, então, esbarra-se em dois problemas: primeiro, quem paga pela estrutura/logística disso? Talvez o Bom Senso preveja em seu estatuto a doação de parte dos salários de seus afiliados para manter o tal calendário nacional. Segundo, qual a diferença da série F de Fred para a Copa Rio, se a exposição será nenhuma, redundando na falta de oportunidade para jogadores de times pequenos aparecerem?

A existência dos Estaduais, aliada às duas primeiras fases da Copa do Brasil, é o gargalo apertadíssimo existente para a progressão na carreira de jogador de futebol, pois é a única chance de visibilidade. O Bom Senso não só desconhece isso, como ignora. Se surge no Tigres um centroavante de 20 anos mais produtivo que o Fred e que aceite receber em 3 anos de contrato 5% do que o Fred recebe, seu mar de rosas está frontalmente ameaçado. E o Bom Senso, com seu senso de ONG elitista, não quer isso. Eles querem preservar a carreira pelo viés da preservação de seus próprios empregos com salários exorbitantes. Assim é fácil colocar esparadrapo na boca, saudar múmias sem assinaturas e votar pelo fim dos estaduais, sem oferecer em troca qualquer contrapartida, ainda que uma ideia que conceda oportunidade a jovens talentos que se perdem pela falta de exposição. A pouca exposição que há, Fred e seus parceiros querem implodir. Não é à toa que o futebol brasileiro passa por uma aridez assustadora de talentos há mais de uma década. Não é à toa que só nos deparemos com alguns quando já estão jogando na Bélgica e se transferem para o Chelsea.

Caso Fred e o Bom Senso, incentivados pelo desejo da televisão, permaneçam fazendo campanha pelo fim dos Estaduais, seria bastante interessante que falassem às claras sobre suas ideias e até previssem como financiá-las. Mas eu desconfio que boa parte daqueles ex-atletas, atletas e ex-atletas em atividade sequer sabe do que fala. Os que estão por trás deles, uma nova leva de teóricos espertalhões e oportunistas, são os donos do projeto e destes pouco se pode esperar, a não ser o benefício próprio.

Assim, contribuo: deveria se providenciar a criação de um fundo entre os filiados ao Bom Senso. Todos devem deixar 10% das quantias que recebem à disposição da elaboração/efetivação de um calendário nacional com mais séries, que permita que todos os atletas do país permaneçam em atividade o ano todo; a extinção voluntária dos irreais salários, que devem possuir o (já altíssimo) teto de, digamos, 200 mil reais, para que os clubes possam honrar com pagamentos e também contribuir com o calendário nacional do Fred e do Bom Senso; o fim do salário “por dentro” e do salário “por fora”, o que é recebido em carteira, o que não é e o que é depositado em favor de empresas criadas pelos atletas na busca contínua de maior “justiça tributária”; a remuneração por produção, quando o jogador só recebe quando joga, tendo direito a plus nas conquistas. Isso para começar. Que tal?

O Bom Senso FC é o novo rosto dos perigos cíclicos que dominaram o futebol brasileiro nos últimos anos. É o novo representante legal (?) daqueles que querem ser os donos da organização do esporte no país. Defende um apanhado de projetos elitistas, todos alinhados com as vontades da televisão, dos empresários e de velhas e novas moscas que se beneficiam a cada ciclo de saques. Invariavelmente, as vítimas dos saqueadores são os clubes, que perdem força, poder de investimento, tornam-se dependentes, são compelidos a pagar salários com os quais não podem honrar e põem-se de joelhos por falta de alternativas. Eles, agora travestidos de Bom Senso, não querem a extinção dos clubes. Querem clubes fracos que dependam deles. Mais um capítulo, apenas, da legislação cruel, da farra de empresários, da profissionalização mequetrefe, da implosão do Clube dos 13 e de outras medidas paulatinas e planejadas. Só não vê quem não quer. Ou não se importa.

João Carlos Nóbrega de Almeida

Fonte: Casaca
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