Futebol

'É pelos gabinetes que o Vasco precisa iniciar sua verdadeira revolução'

Zé Ricardo, Wellington, Paulão... O exercício de buscar vilões após derrotas fragorosas, típico do futebol brasileiro, foi praticado à exaustão após a queda do Vasco na Libertadores. Talvez o mais justo seja perceber que a sucessão de goleadas sofrida na fase de grupos foi lentamente fabricada ao longo dos últimos anos. O campo foi apenas a face mais visível de um gigante fragilizado.

O balanço de 2017 do Vasco oferece um panorama assustador. Juntos, os 22 principais clubes brasileiros, cujos balanços de 2017 foram analisados pela consultaria BDO, apresentaram crescimento de 3% em suas receitas em relação a 2016. O Vasco teve queda de 10%. Os R$ 190 milhões que entraram nos cofres colocam o clube apenas em 12º lugar no ranking de arrecadação, apesar dos R$ 55 milhões obtidos com venda de direitos econômicos de jogadores. Aliás, tal expediente conduziu a um cenário alarmante: apenas um quarto dos jogadores listados no balanço têm 100% dos direitos pertencentes ao Vasco.

Para piorar, as despesas não acompanharam a queda de arrecadação. O endividamento aumentou em 10%, chegou a R$ 506 milhões e colocou o clube com a quinta pior relação entre dívida e receitas dentre os 22 clubes estudados. Ou seja, o Vasco é um dos cinco clubes cuja dívida tem maior impacto em sua vida financeira.

Como se não bastasse, 2017 manteve o clube longe do caminho da reconstrução. O déficit de R$ 22 milhões deu ao Vasco o sétimo pior resultado anual dentre os balanços examinados. Para 2018, segundo nota anexada ao balanço, há 92% de receitas de TV comprometidas. Não por acaso, os R$ 80 milhões que Paulinho rendeu ao clube não puderam ser reinvestidos. O Vasco perdeu sua joia para apagar incêndios.

Clubes não disputam campeonatos de balanços, mas de futebol. E a história do jogo está repleta de campanhas que contrariam a lógica financeira, embora mundialmente a relação entre dinheiro e troféus seja cada vez mais íntima. Mas ainda que a nova gestão vascaína vá, de fato, dedicar-se a revigorar o clube, a sensação é de que a Libertadores chegou cedo demais.

Constantemente citado como exemplo, o Botafogo que, com pouco dinheiro, foi às quartas de final do torneio do ano passado, tinha uma base de time e um projeto de futebol estáveis. O oposto deste Vasco, de sucessivas perdas de jogadores na virada do ano. A estabilidade levou ao sucesso alvinegro em campo no ano passado e, nos bastidores, as finanças ainda preocupam, mas já sinalizam uma recuperação. O Vasco nunca pareceu à altura do desafio continental.

O ano de 2018 começava e, dias após um traumático processo eleitoral, o Vasco corria risco de sequer estrear na Libertadores por falta de dinheiro para as passagens: tomou empréstimo com um empresário para ir ao Chile. Na hora decisiva, Paulinho se machucou e depois foi vendido, enquanto Desábato e Wagner desfalcaram o time. Na arquibancada, o apoio foi sufocado pela guerra entre grupos políticos. Num ambiente assim, retornar à Libertadores como candidato ao título seria exceção, fenômeno. E não regra.

O fracasso do Vasco permite várias reflexões. Uma delas, se o excesso de vagas na Libertadores distribuído via Campeonato Brasileiro nos fará conduzir times pouco preparados ao torneio. Classificados como sétimo e oitavo colocados, Vasco e Chapecoense sucumbiram.

No Brasil dos 12 grandes obrigados a disputar títulos a qualquer preço, o difícil é ser racional. E a razão mandava o Vasco encarar a Libertadores como uma improvável oportunidade, não como obrigação. Fazer da eliminação terra arrasada, propor um novo recomeço ou correr para contratar com um dinheiro que não existe só aumentariam o caos financeiro.

A fragilidade do clube talvez não justifique as três goleadas sofridas e o desempenho tão ruim. E, mesmo com escassos recursos, a política de contratações, até aqui, falhou. Sobre Zé Ricardo, é até possível questionar se tirou o máximo de um elenco sem fartura, mas foi com o trabalho dele que o Vasco ganhou vaga no torneio continental e parece ter chance de fazer um Brasileiro de poucos sustos. Este, sim, um objetivo compatível com o mundo real.

É pelos gabinetes que o Vasco precisa iniciar sua verdadeira revolução.

Fonte: Blog do Mansur – O Globo
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