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Eleições têm baixa participação comparado ao total de torcedores dos clubes

Conhecidos por serem feudos de influência e comando, os clubes brasileiros passaram a conviver nos últimos anos com uma nova cobrança por parte de seus torcedores: a abertura política. Com as várias barreiras que existem para se tornar sócio — dos preços de títulos à falta de estrutura —, agremiações que cativam milhões de apaixonados escolhem seus presidentes em pleitos que passam longe de terem participação de pelo menos 1% de seus torcedores. No mês passado, por exemplo, o Vasco elegeu Eurico Miranda computando 5.592 votos, um recorde histórico do clube, mas que representa 0,077% de vascaínos. O debate recai agora sobre a possibilidade de um novo tipo de sócio, o chamado “sócio-torcedor” — que não frequenta o clube social e que busca vantagens comerciais, como a compra de ingressos mais baratos — ter direito a voto nas eleições para presidente. A exemplo desse novo pensamento, o Internacional-RS espera a participação de mais de 50 mil sócios na votação que acontece no próximo sábado.

No caso do Inter, a mudança ocorreu em agosto deste ano. Em consulta aos sócios, o clube reformou seu estatuto, tendo como maior bandeira a possibilidade de os “sócios-torcedores” terem poder de voto. A aprovação do documento possibilitou que mais da metade dos 126 mil afiliados ao programa, segundo o clube, participassem do processo eleitoral. O Colorado aproveitou para lançar o desafio “A maior eleição do mundo”, onde busca superar o recorde do Barcelona, que, em 2010, levou 57.088 mil sócios às urnas para definir seu novo presidente.

— Temos hoje mais de 64 mil sócios aptos a votar. Destes, pouco mais de 18 mil o farão pela internet — explica Luiz Fernando Costa, coordenador da comissão de eleição do Inter. — Aqui ampliamos a democracia para definir o futuro do clube. A ideia é sempre termos eleições com esse formato, trazendo o sócio no dia da votação. Essa abertura cria novas lideranças. Queremos democratizar ao máximo este processo — conta o dirigente, exaltando o programa que gera mais de R$ 5 milhões por mês ao clube.

Pelo Brasil, outros gigantes também já adotaram essa política. Desde 2011, o Santos resolveu enquadrar todos os tipos de sócios em uma única definição: o sócio contribuinte. Na eleição deste ano, cerca de 19 mil pessoas estão aptas a votar. No Fluminense, os torcedores tiveram até o mês passado para aderir a um dos planos de associação e, assim, terem o direito a voto nas eleições de 2016. O próximo pleito deve bater recorde de participação, já que o último, em 2013, reuniu 2.452 votantes.

— Em todos os clubes brasileiros, exceto o Inter, as votações costumam movimentar um número pequeno de sócios — recorda Itamar Ribeiro de Carvalho, presidente da Assembleia Geral do Vasco, órgão responsável pela eleição. — Aqui, eram 13 mil sócios aptos a votar, mas pouco menos de 6 mil o fizeram. Isso vai muito da conscientização. Pode ser que para o futuro isso mude — afirma Itamar, antes de reiterar a necessidade de uma mudança no estatuto cruzmaltino para a inclusão de “sócios-torcedores” num próximo pleito.

Porém, a inserção de novos membros esbarra no interesse daqueles que fizeram da sede social sua “segunda casa”. Em muitos dos casos, as diretorias compram a ideia dos torcedores, mas, na prática, a mudança está distante de ser simples. No Flamengo, por exemplo, o presidente Eduardo Bandeira de Mello já afirmou desejar ampliar a lista que hoje chega aos 6,9 mil sócios. A discussão, porém, esbarra nos interesses de muitos que utilizam as dependências sociais.

— O Flamengo tem um corpo de eleitores pequeno, mas compatível ao que ele tem como estrutura social. — afirma Gil Bernardo Borges Leal, presidente da Assembleia Geral do clube. — Não temos nenhuma restrição para que qualquer pessoa compre um título de associado. A abertura para os sócios-torcedores depende muito da questão legal, do estatuto. Toda uma discussão se faz necessária, e essa conversa foge a quem está fora do clube.

Na proporção entre apaixonados e votantes na última eleição, o Rubro-Negro tem a quarta menor porcentagem entre os 12 clubes de maior torcida no Brasil. Com 32,5 milhões de torcedores, segundo a pesquisa Lance!/Ibope deste ano, apenas 2.725 compareceram ao pleito de 2012, número que representa 0,0082% de flamenguistas. Hoje, os cariocas conta com mais de 52 mil associados em seus planos de sócios-torcedores.

Nos clubes de Minas Gerais a situação é ainda mais restrita. Grupos compostos por menos de 500 conselheiros definem em reuniões fechadas a nomeação de um novo mandatário. Nas últimas semanas, Daniel Nepomuceno, no Atlético-MG, e Gilvan de Pinho Tavares, no Cruzeiro, foram eleitos por aclamação em uma sala de apoiadores. O mesmo acontece com o São Paulo, terceiro clube de maior torcida no país. Apenas 140 conselheiros participaram em abril de uma assembleia geral para eleger Carlos Miguel Aidar como novo presidente.

Na Europa, participação em massa

No caminho contrário, o exemplo maior de participação dos sócios, independente da sua denominação, está na Europa. Clubes como o Barcelona, na Espanha, e Benfica, em Portugal, são conhecidos por levar grande parte de seus afiliados às urnas. Na Catalunha, a participação, antes de tudo, é vista como um sinal de nacionalismo. Tanto que a última eleição movimentou mais de 57 mil pessoas, recorde em pleitos de clubes de futebol.

— Sou sócio há seis anos e a movimentação durante os pleitos no Barcelona é grande. Temos um sentimento de nacionalismo ao falar do clube. Ele representa a Catalunha como um todo. A partir disto, procuramos saber a base esportiva dos candidatos. É um processo muito importante — exalta Stefan Putzfeld, de 44 anos, presidente da “Penã Blaugrena” que reúne diversos sócios do clube na pequena cidade de Roda de Barra, nos arredores de Barcelona.

Em Lisboa, a participação já está enraizada entre torcedores. O técnico de informática João Gonçalves é um dos 235 mil sócios dos “Encarnados” — o que torna os portugueses o clube com mais sócios no mundo. Para ele, o movimento em torno da filiação é algo natural, feito antes mesmo de se completar a maioridade.

— O Benfica tem uma grande massa de sócios. A movimentação sobre os assuntos do clube toma conta de noticiários e discussões de torcedores. Sabemos o que acontece com o clube. Eu sou sócio há 30 anos e utilizo tudo o que o clube me oferece. Aqui é natural um casal ter um filho e, logo nos primeiros anos, comprar um título de sócio para o menino — brinca Gonçalves.

De volta a Porto Alegre, a esperança do novo processo eleitoral no Inter está na chegada de novas lideranças. Questionado se o pequeno número de sócios facilita o comando daqueles que detém o poder político nos clubes, Luiz Fernando Costa preferiu analisar a situação pela visão de quem está de fora dos bastidores do futebol.

— Acho que podemos ver pelo lado contrário. A abertura política dos clubes atrai novas cabeças e faz com que a discussão sobre o futuro daquilo que amamos seja maior. Hoje, pode não existir uma oxigenação de pensamentos. Os influentes são sempre os mesmos, com vícios já conhecidos. Essa mudança pode facilitar a chegada de novas cabeças — finaliza.

*A série de reportagens “Gol da Alemanha” vem sendo publicada pelo “Globo a Mais”

Fonte: O Globo a Mais
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