Em 1949, no dia do aniversário do Vasco, Expresso da Vitória goleava o Flame

O dia marcava as comemorações de 51 anos do Club de Regatas Vasco da Gama. O Gigante da Colina também vibrava com os quatro anos sem derrotas para o Flamengo. O longo jejum doía na carne e na alma rubro-negras.

Eis que a tabela do Campeonato Carioca marca o clássico Vasco x Flamengo exatamente para o dia do aniversário cruzmaltino, em São Januário. Os rubro-negros invadiram o estádio, convictos de que aquele seria o dia de encerrar o tabu. O pensamento da massa flamenga era entregar um belo \"presente de aniversário\" para o Vasco. A arquibancada social também estava lotada: os vascaínos irradiavam confiança.

Começa o jogo e, logo aos 3 minutos, o zagueiro Augusto empurra a bola contra a própria meta: Flamengo 1 a 0. Aos 6, Gringo amplia: Flamengo 2 a 0. O urro colossal dos rubro-negros contrastava com o silêncio sepulcral dos cruzmaltinos. O jejum estava muito próximo de chegar ao fim.

Ademir, o maior jogador da história do Vasco, estava sendo anulado pelo inteligente esquema do técnico flamenguista Kanela. Mas Flávio Costa não era bobo: aprendera muito com o húngaro Izidor Kürschner, anos antes, quando o auxiliava no Flamengo. Uma das lições foi alterar a tática da equipe sem precisar de substituições. Recuando Ademir para o meio, e adiantando Maneca para a posição de centro-avante, Flávio Costa mudou o rumo do clássico.

O ídolo rubro-negro Jair, que defendera as cores do Vasco anos antes, ainda perdeu um gol feito, quando o placar estava 2 a 0. Logo depois, aos 17 minutos, Danilo fez o primeiro gol do Vasco, em lance esquisito.

Aos 27, Maneca empatou, já na posição de centro-avante, jogando enfiado entre os beques rubro-negros. Foi um chute rasteiro, bem no cantinho direito do goleiro Garcia. O 2 a 2 era a ressurreição do Vasco. O ponta Esquerdinha teve, ainda no primeiro tempo, a chance de recolocar o Flamengo na frente, mas chutou a pelota para longe.

Veio o segundo tempo, e com ele a fantástica virada do Vasco. Aos 8, Maneca - de novo ele! - fez Vasco 3 a 2. Aos 16, uma autêntica pintura: Nestor, num chute sem ângulo, da ponta direita, marcou o quarto tento cruzmaltino. Festa na arquibancada social de São Januário, com o agitado mar de bandeiras alvinegras.

Aos 32, com gol de Ipojucan, o Vasco confirmou mais uma vitória sobre o Flamengo. Goleada de 5 a 2, para dar de presente de aniversário à apaixonada torcida. Melhor que o placar elástico, só mesmo a brilhante exibição de Ademir, jogando recuado. O Queixada mostrou que um craque autêntico se faz em qualquer pedaço da cancha.

A torcida flamenga, revoltada com mais uma derrota para o Vasco, pediu a cabeça de Jair, que perdera o gol feito ainda no primeiro tempo. Há uma lenda - ninguém sabe se verdadeira - de que a sua camisa 10 teria sido queimada pelos fãs furiosos com sua atuação ruim. E a massa foi atendida pela diretoria rubro-negra, que o vendeu ao Palmeiras na semana seguinte. (Jair Rosa Pinto se tornaria um dos maiores ídolos da história do Palmeiras, tendo conquistado o Campeonato Paulista de 1950, o Torneio Rio-São Paulo de 1951 e o Mundial Interclubes de 1951)

O Vasco continuaria sua campanha espetacular naquele certame: saiu campeão carioca invicto de 1949.

PC

Ficha Técnica - Vasco 5 x 2 Flamengo.
Campeonato Carioca de 1949 - Primeiro Turno.
Data: 21/08/1949.
Local: São Januário.
Vasco: Barbosa; Augusto e Sampaio; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Mário. Técnico: Flávio Costa.
Flamengo: Garcia; Juvenal e Job; Valdir, Bria e Jaime; Luisinho, Gringo, Zizinho, Jair e Esquerdinha. Técnico: Togo Renan Soares (o Kanela).
Árbitro: MacPherson Dundas.
Gols: Augusto (contra) 3\", Gringo 6\", Danilo 17\" e Maneca 27\" do 1º tempo; Maneca 8\", Nestor 16\" e Ipojucan 32\" do 2º tempo.
Expulsão: Esquerdinha.