Futebol

Em São Januário mulheres precisam driblar questões que vão além das brigas

São Januário evidentemente não tem sido um lugar seguro. Que o digam nós, mulheres. Digo isso não apenas por relatos que colhi, mas também por episódios que sofri recentemente. Sou uma mulher que frequenta estádios. Mas, nas duas últimas semanas, me senti acuada como poucas vezes na vida no estádio vascaíno. Nas duas vezes, precisei desviar de homens que tentaram me beijar à força. Sem contar os diversos puxões de braço, tentativas agressivas de cantadas (cantada não é elogio, tá?) e desculpas para abraçar em momentos mais calorosos do jogo.

É importante frisar dois pontos para que a gravidade dos fatos seja compreendida: conheço bem São Januário, seus caminhos e ruas do entorno. Portanto, nada daquilo era estranho para mim. Além disso, sou da arquibancada. Frequento esse ambiente, seja a trabalho ou não, com bastante conforto, mesmo em dias mais hostis e violentos. No dia 26 de abril, Vasco 1x1 Racing, pela Libertadores, foi mais uma noite como essas. Cheguei ao estádio acompanhada do Bruno Marinho, setorista de Vasco. Ele foi fazer o jogo e fui para a entrada social do clube. Lá, sozinha, fiquei vendo a festa e a movimentação do torcedores.

Durante a caminhada até a sede, ouvi piadinhas já clássicas — mas não aceitáveis — de alguns torcedores. Mas a coisa começou a esquentar quando uns caras acharam que tinham o direito de me puxar pelo braço. Fiquei com medo de reagir mais bruscamente e causar uma briga, como aconteceu com uma amiga, também em São Januário: um cara encostou nela, ela reclamou, e outros torcedores partiram para cima dele. Em segundos, estava ela no meio de um furacão.

Minutos antes de o jogo começar e depois de várias investidas estranhas, resolvi voltar para arquibancada. Enquanto saía do lugar em que estava, mexendo no celular (avisando ao Bruno que voltaria), um rapaz tentou me beijar na boca. Só deu tempo de colocar a mão no rosto e gritar: “ Você tá maluco?!”. Ainda me desvencilhando dele, um senhor segurou meu braço. Achei que ia me ajudar. Quando vejo, ele me olha e me manda um beijo, me puxando para si. Foi demais. Gritei um palavrão bem alto e o xinguei. Incomodada com o que tinha visto, uma vendedora ambulante veio em minha direção, aí sim para me ajudar.

Na “segurança” do estádio, insisti (olha que absurdo) em ficar na arquibancada. Bastaram 15 minutos para que precisasse procurar um amigo (homem) para ficar perto e continuar o que eu estava fazendo. As gracinhas, quase sempre acompanhadas de uma tentativa de toque continuaram. O clima também ficou pesado. Pode parecer estranho, mas as mulheres vão me entender: poucas coisas desestabilizam tanto quanto ser assediada de forma tão ostensiva. Você se sente frágil mesmo quando sabe que não é. Passei o resto do jogo ao lado desse amigo querido até quase o fim da partida, quando sai para encontrar o Bruno. Fui “escoltada” pra me sentir segura. Absurdo né? Mas real.

No jogo Vasco 0x4 Cruzeiro, no último dia 2, mais calejada e dessa vez completamente sozinha, fiz o mesmo percurso. Ouvi menos cantadas, mas ainda assim puxaram meu braço e tentaram me beijar a força, também do lado de fora do estádio. Dessa vez, consegui ficar o primeiro tempo mais tranquila e ver o jogo em paz. Assim, pude reparar que além de mim, não vi nenhuma outra mulher sozinha no estádio. Depois da briga, que fez com que o juiz parasse a partida, precisei novamente procurar abrigo em um homem amigo.

Ao comentar com amigas, ouvi mais dois relatos de situações semelhantes no caldeirão vascaíno. Mas semana que vem estarei lá de novo. Porque é nas arquibancadas que me sinto bem. E várias outras mulheres também.

Fonte: Globo Online
  • Domingo, 17/03/2024 às 16h00
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