Futebol

Ex-Vasco, Guilherme comenta passagem pelo clube

A carreira do lateral esquerdo Guilherme Oliveira Santos teve muitas idas e vindas. Do início passando por grandes times do Brasileirão, com direito a sucesso também na Europa, ao recomeço na Série B e hoje em novo desafio no "Velho Continente". Para tudo isso, o arretado baiano de Jequié sempre teve que mostrar muito jogo de cintura.

Não que isso fosse um problema para ele, porém...

"Vim de uma família muito humilde e trabalhei em muitas coisas pra ajudar em casa. Participava de alguns eventos de política, como comícios, e dançava axé e pagode da Bahia, tipo 'É o Tchan!', nos shows em um palco (risos). Ganhava uns R$ 30 por dia, o que pra mim era uma fortuna na época", conta Guilherme, em entrevista ao ESPN.com.br.

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"Nessa época, a turma só me chamava de Jacaré!", brinca, lembrando o famoso Edson Gomes Cardoso Santos, cantor, dançarino e ator da célebre formação do "Tchan", ao lado de Beto Jamaica e Compadre Washington.

Além de dançar nos comícios, o hoje jogador complementava a renda vendendo pastel, cachorro quente e picolé: "Eu precisava ajudar em casa e fazer as coisas pelo lado certo da vida. Infelizmente, perdi muitos amigos e parentes para a vida errada e não queria passar por isso também", lembra o atleta, hoje com 29 anos e no Anorthosis, do Chipre.

O futebol entrou na sua vida na adolescência, quando ele resolveu se aventurar, indo de Jequié para o Rio de Janeiro em busca do sonho de virar jogador profissional.

"Um amigo meu fez um convite para ir fazer um teste no Rio. Fui num carro apertado pra caramba, tinha um bebê-conforto no banco de trás e uma mala bem em cima de mim. E imagina quantas horas de viagem... Só Jesus mesmo (risos)", diverte-se o atleta.

"Nunca viajei tão apertado na minha vida. Cheguei lá cansado, mas fui pro teste e me destaquei mesmo assim. Comecei no Artsul e depois fui para o Vasco", relata.

Em São Januário, Guilherme jogou ao lado de uma das melhores gerações recentes da base alvinegra, destacando-se entre os juniores e sendo promovido ao elenco profissional em 2007.

"Fui companheiro do Souza, Alan Kardec, Philippe Coutinho e muitos outros. Nossa base era muito boa, ganhamos muito títulos. Fiquei cinco anos no Vasco, entre base e profissional", recorda o lateral esquerdo, que explodiu após subir para o elenco adulto e rapidamente chamou a atenção de times europeus doidos pelo habilidoso canhoto.

"Teve um jogo contra o Grêmio que ficou gravado na minha memória. A torcida gritou meu nome e pediu para eu não ir embora, porque times da Espanha tinham vindo ao Brasil para me comprar. Eu fiquei muito emocionado, e nós ganhamos de 4 a 0", relembra.

"Eu fiquei muito feliz por ser tão novo, mas ainda assim ter o reconhecimento de uma torcida gigante e muito exigente como a do Vasco. Isso me marcou demais", exalta.

Outra partida que Guilherme guardou na memória foi a vitória por 3 a 0 sobre o Lanús, da Argentina, pela Copa Sul-Americana de 2007, em que ele deu a volta por cima com tudo.

"A gente precisava ganhar de 3 a 0 para passar. Estava 2 a 0, pressão total, e eu tive uma chance claríssima, mas perdi um gol feito. Na hora, ninguém acreditou! Só que, na jogada seguinte, eu cruzei e o Kardec fez o gol da classificação. Ainda bem (risos)!", gargalha.

Sucesso com Diego Alves e Felipe Melo

Mas não teve jeito: o assédio em cima do garoto era muito forte, e o presidente do Vasco, Eurico Miranda, aceitou negociar o promissor ala esquerdo com o Almería, da Espanha, por 1,5 milhões de euros (quase R$ 5 milhões, na cotação atual) em janeiro de 2008.

Sua contratação foi um pedido do técnico Unai Emery, que hoje faz sucesso no Paris Saint-Germain após ótimas passagens por Valencia e Sevilla, mas à época estava ainda em seu início na carreira de treinador, que havia começado em 2004, no minúsculo Lorca.

"Ele tinha me observado no Vasco e gostou. Desde o começo, me passou muita confiança e explorava minhas melhores qualidades. Ele apostou em mim e eu correspondi bem. Vejo onde ele chegou hoje e não é surpresa nenhuma, pois é um excelente treinador. Sempre exigiu o máximo dos jogadores e automaticamente aumentou o nível dele", conta o ala.

No Almería, Guilherme Santos fez parte de um dos melhores times já montados pelo pequeno clube alvirrubro, ao lado de outros compatriotas famosos.

"Nosso time tinha o Diego Alves e o Felipe Melo, além do Iriney. Era uma equipe ótima, que tinha um estilo rápido, diferente, aproveitando vários jogadores sem muita experiência na Espanha", relembra.

"No começo, senti dificuldade com as táticas, as linhas de quatro, os posicionamentos, mas o Unai Emery teve paciência pra ensinar. Aprendi demais com ele", elogia.

Guilherme atuou três temporadas pelo Almería, fazendo campanhas sempre seguras na primeira divisão. Seu melhor ano foi 2007/08, quando a equipe terminou no 8º lugar, à frente de times de porte muito maior como Valencia, Athletic Bilbao e La Coruña.

Virando Michael Jackson

Além do bom futebol, Guilherme Santos também conquistou Unai Emery com suas habilidades como dançarino. Segundo o brasileiro, o treinador espanhol "é uma figura".

"Ele falava que adorava o Brasil e pedia para eu sambar. Daí eu caprichava no samba pra ganhar uma moral com o homem, né (risos)? Ele gosta muito do nosso país e tem muita afinidade com os brasileiros. É um cara fantástico, que me ensinou muito na parte defensiva. O que melhorei no futebol foi muito por responsabilidade dele", exalta.

"Nessa época, eu jogava muito videogame com o Michel, o Felipe Melo e o Diego Alves. O Unai às vezes chegava de surpresa no quarto para assistir e dar risada. Ele ficava vendo a gente jogar e brincava que ia apostar em um e no outro. Era só resenha (risos)", gargalha.

Emery também foi responsável por dar o apelido pelo qual Guilherme ficou conhecido.

"Eu uma das minhas primeiras viagens com o Almería, fomos jogar contra o Racing e eu não sabia que o uniforme de viagem era terno azul marinho e gravata. Eu estava no ônibus indo para aeorporto e vi que todo mundo estava de meia preta, só eu de meia branca, mas na hora ninguém viu. Quando cheguei ao avião e comecei a subir a escadinha e olhei para trás, adivinha quem estava atrás de mim? Ele mesmo, o treinador!", conta o ala.

"Rapaz, ele começou a rir e falou: 'Você gosta do Michael Jackson?'. Na hora eu não entendi e falei: 'Olha, professor, eu admiro ele sim, teve uma grande carreira, mas não era muito fã. Por que?'. E ele manda na lata: 'Porque hoje você está igualzinho ele nos shows. Só você de meia branca (risos)'. Aí todo mundo reparou e eu virei a chacota do grupo", relata, às gargalhadas.

"Pensando nisso hoje, só um louco pra usar meia branca com terno escuro, né (risos)? Mas eu saí muito novo, não tinha a malandragem nessa época. Nem sabia usar terno! No Brasil a gente colocava calça jeans, camisa polo, tênis e estava de boa", brinca o brasileiro.

O fato é que a alcunha colocada por Unai Emery acabou pegando.

"Até hoje ele conta essa por aí. Sempre que pergunta de mim pros outros ele fala: 'E o Michael Jackson, como está?' (risos)", diverte-se o baiano.

Durante a temporada 2009/10, depois que Emery saiu para o Valencia, Guilherme Santos foi empresado ao Valladolid e por muito pouco não se reuniu ao ex-comandante.

"Eu estava jogando bem e estive muito perto de ir para o Valencia por causa do Unai, que estava lá e queria me levar. Infelizmente, a negociação não deu certo, e isso me deu uma desanimada boa. Então, resolvi voltar ao Brasil", rememorou o ex-vascaíno.

Em 2011, ele foi contratado pelo Atlético-MG e retornou ao país natal.

'Só fiz mal a mim mesmo'

O retorno de Guilherme Santos ao Brasil, porém, não foi nada tranquilo. Durante cinco anos, ele passou por grandes times, como o próprio 'Galo', em 2011, e também o Santos, em 2012, e o Fluminense, em 2014, sem conseguir se firmar em nenhum. Também rodou por empréstimo por Figueirense, Atlético-GO, Bahia e Criciúma, entre outros.

Por esse período turbulento, ele culpa e si mesmo e aos problemas extracampo.

"Passei por grandes clubes, vivi momentos de alegria e de tristeza. Eu fiquei com a imagem de ser um bom jogador, mas que tinha problemas extracampo, e era verdade. O que me atrapalhou foi a imaturidade. Eu tive problemas por não ter a cabeça que tenho hoje", admite o jogador.

Em dos piores casos aconteceu em dezembro de 2015, quando ele chegou até a ser detido por desacatado à autoridade em Jequié, sua cidade natal, após vizinhos reclamarem que o som de uma festa em sua casa estava muito alto, o que gerou discussão e confusão.

"Agradeço muito às pessoas que me ajudaram, como minha família e minha esposa. Todos precisam amadurecer, e ainda bem que eu abri os olhos a tempo. Perdi algumas oportunidades boas, como no Santos, que investiu alto em mim. Era o time do Neymar e outros caras bons, e eu pouco joguei, mas não tenho como reclamar de ninguém. Só fiz mal a mim mesmo com más companhias, más amizades e más atitudes", ressalta.

Hoje, ele garante estar no caminho certo para retomar o sucesso no futebol.

"Por ter uma personalidade explosiva, isso me deixou para trás em algumas coisas. Mas hoje eu reencontrei o caminho e, independentemente de religião, estou em paz com Deus. Eu amadureci e quero passar meu testemunho aos jovens para que não percam a oportunidade e aproveitem. Tudo na vida é passageiro, e precisa estar focado para aproveitar o momento", ensina.

A vida de Guilherme voltou a entrar nos eixos no ano passado, quando ele fez boa Série B pelo Sampaio Corrêa e foi contratado pelo Anorthosis, do Chipre. É a chance de recomeçar no futebol europeu, mesmo em um campeonato sem tanta expressão.

"Deus me deu mais uma oportunidade. Fico feliz de ter voltado à Europa, em um time que já teve até o Sávio do Flamengo! Aqui não é uma liga tão reconhecida, mas está crescendo e ainda possui o APOEL, que joga a Champions League quase todo ano", diz Santos.

Desta vez, ele garante que não vai deixar a oportunidade passar em branco.

"Estou gostando muito de morar aqui, e para trabalhar é sensacional. Eu precisa de um recomeço e uma nova oportunidade, e estou indo muito bem. As coisas estão melhorando e agora tem muito chão pela frente. Estou com a cabeça boa e quero aproveitar para compensar o tempo perdido e fazer as coisas diferente", encerra o lateral esquerdo.

Fonte: ESPN Brasil
  • Domingo, 17/03/2024 às 16h00
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