Política

O papel dos presidentes de clubes de futebol na governança do esporte

Três casos publicizados em pouco mais de um mês, entre novembro e dezembro de 2017, exemplificam a falta de transparência em eleições para a presidência de clubes de futebol no Brasil.

Nos times do Vasco e do Santos, as diretorias são acusadas pelas respectivas oposições de matricularem pessoas que não existem como novos sócios para conseguir mais votos. Em comum, casos como dez moradores do mesmo apartamento, e taxas de novos sócios muito acima da média exatamente nos últimos meses em que novos associados teriam o direito de votar. 

Já no Corinthians, tanto a atual diretoria quanto pelo menos um candidato da oposição são acusados de compra de votos, por métodos diferentes, ao oferecerem formas de associados inadimplentes regularizarem suas situações financeiras com o clube para ter direito a voto.

Com plataformas políticas restritas à conquista de títulos e criação de infraestrutura para os clubes, tais presidentes se tornam também, depois de eleitos, figuras centrais para o desenvolvimento da governança do futebol brasileiro. Contudo, sem uma linha política clara para isso, e com uma representatividade questionável, pela falta de transparência no processo que os elege.

CBF e o controle do futebol nacional

A entidade que gere o futebol brasileiro é a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Com sede na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, é ela que organiza todos os torneios nacionais – como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Ela também é responsável pela administração da Seleção Brasileira.

Por ter o controle de todos os torneios nacionais, é a CBF que negocia seus direitos de transmissão, patrocínio, taxas de bilheteria e outras formas de arrecadação do campeonato. Por ter controle das formas de captar dinheiro e administrá-lo, tem também poder político.

Em 2015, a CBF abriu mão do poder de veto que tinha sobre qualquer decisão do Conselho Técnico – entidade formada por clubes que define as regras das competições. A decisão veio em um contexto de crescente oposição, feita por alguns clubes, à concentração de poder nas mãos do presidente da Confederação.

Ainda assim, a entidade nacional segue com papel central na organização do futebol brasileiro, tanto na administração do dinheiro quanto na definição do calendário, por exemplo.

A participação dos clubes

Além de participarem do Conselho Técnico na CBF – um órgão interno à Confederação – os clubes, representados por seus presidentes, têm a principal fonte de poder em uma democracia: o voto.

Mas a democracia no futebol tem seus pesos e medidas. As eleições para o presidente da CBF, por exemplo, conta com um colégio eleitoral formado por 67 pessoas:

- 20 presidentes de clubes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro
- 20 presidentes de clubes da segunda divisão do Campeonato Brasileiro
- 27 presidentes das federações locais de futebol (equivalentes à CBF no nível estadual)

Os votos têm pesos, e as federações valem mais que os clubes (em uma decisão de 2017 bastante polêmica). Com isso, os presidentes das federações, sozinhos, conseguem escolher o presidente da CBF, mesmo que todos os clubes votem unidos em outro candidato.

Isso faz com que o presidente da CBF tenha de buscar apoio dos presidentes de clubes, mas não com tanta urgência quanto busca o apoio dos presidentes de federações estaduais. Atender as necessidades dos times, portanto, corre o risco de ficar em segundo plano.

As eleições estaduais

Cada federação estadual tem uma regra própria para eleger seus líderes. Em geral, o colégio eleitoral é formado pelos presidentes dos clubes do estado, mas os votos também têm pesos diferentes, dependendo da divisão em que jogam nos campeonatos estaduais.

“Reinados”, com presidentes que ficam décadas no cargo, eram comuns até pouco tempo. Os recentes escândalos de corrupção envolvendo a CBF fizeram com que as entidades de futebol nacional tomassem algumas medidas, como o estabelecimento de um limite para a quantidade de reeleições possíveis.

Ainda assim, tais reinados demonstram o largo poder de influência que presidentes de federações têm sobre os presidentes dos clubes, ao conseguirem acordos políticos que os perpetuam no cargo. As federações locais também são a fonte de dinheiro, para os clubes, dos campeonatos estaduais e de repasses da CBF.

Ligas de clubes

A principal opção para os clubes superarem as imposições das federações estaduais e da CBF e assumirem o controle dos campeonatos e da arrecadação seria com a união em torno de ligas de times.

É assim, por exemplo, que acontece na Inglaterra, um dos modelos de gestão mais citados no mundo. Por lá, são os clubes que organizam o campeonato nacional e negociam cotas de contratos de TV, patrocínios do torneio, bilheteria, entre outras fontes de renda.

Com poder para negociar e sem precisar dividir os lucros com a federação, os times lucram mais. Times mais fortes, por sua vez, valorizam o torneio. Alemanha, Espanha, Itália, EUA, França e Portugal são outros países onde os campeonatos nacionais são geridos pelos clubes.

No Brasil os clubes não conseguem superar a influência e o poder que os presidentes de federações e da CBF têm em suas políticas internas. Por terem o controle dos contratos que definem algumas das principais fontes de renda dos times, as federações têm grande poder de barganha com presidentes de clubes, evitando dissidências.

Em 2016, o ex-jogador Raí falou à Rádio Estadão sobre a relação de dependência. "A CBF sempre teve mais força que os clubes e acaba impondo suas vontades. Ela tem mais força econômica, estabilidade financeira, e os clubes ficam dependentes do dinheiro da televisão", disse.

Iniciativas de ligas no Brasil

A criação da Primeira Liga, um torneio organizado por clubes do sul e sudeste (com exceção dos paulistas) segue essa lógica, mas tem suas limitações. À Fox Sports, o presidente do Corinthians Roberto de Andrade disse que o clube não disputa o torneio porque o Paulistão, organizado pela Federação Paulista de Futebol, é “mais rentável”.

Sem conquistar sequer os clubes de São Paulo, a Primeira Liga, que surgiu com a intenção de, no médio prazo, substituir o Brasileirão da CBF, perde prestígio a cada ano. Em 2017, por exemplo, alguns times da primeira divisão nacional disputaram boa parte do torneio com as equipes reservas.

O Clube dos 13

No Brasil, o modelo de liga foi adotado em parte em 1987, quando 13 dos principais clubes do país fundaram o Clube dos 13 e, ao lado de outras três equipes – Coritiba, Santa Cruz e Goiás – organizaram a Copa União sem a participação da CBF, que estava sem dinheiro.

O campeonato foi considerado um sucesso, e por isso a CBF resolveu organizar um campeonato em paralelo – uma espécie de segunda divisão, cujo campeão disputaria o título final com o campeão do torneio dos clubes. No fim, o Flamengo não aceitou o modelo e até hoje vê o Sport (campeão do torneio da CBF) reclamar o troféu. O caso está no STF.

No ano seguinte, o C13 se transformou em um mero representante dos principais clubes perante a CBF, sem mais organizar torneios. A entidade acabou em 2011, mas existe oficialmente até hoje por conta de dívidas a pagar.

Em 2010, a Copa do Nordeste, uma das principais competições regionais do Brasil, foi organizada por uma liga de clubes, após a CBF cancelar o torneio por falta de datas. Três anos depois, a entidade nacional reassumiu o comando.

 

Fonte: Nexo Jornal
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