Futebol

Opinião: "Vá ao teatro! E leve Rodrigo Caetano"

Rodrigo Caetano se acha um ótimo diretor, digno de um Molière e capaz de fazer Barbara Heliodora aplaudi-lo de joelhos.

Teatro burlesco é a sua especialidade.

Este é o pensamento de alguns dos integrantes do alto-comando do Vasco. Após a longa e exaustiva reunião que decretou o fim da Era Rodrigo Caetano, dirigentes deixaram São Januário com a convicção de que foram coadjuvantes involuntários de uma farsa grotesca. Nesta commedia dell’arte adaptada ao futebol, coube a eles o papel de pagliaccio.

Nos claustrofóbicos corredores de São Januário, a percepção é de que todo o episódio que culminou com a saída de Rodrigo Caetano não passou de um espetáculo bufão armado por ele próprio com o deliberado objetivo de se fazer de vítima, jogar a responsabilidade da ruptura nos ombros dos dirigentes do clube, a começar por Roberto Dinamite, e, de quebra, inflar ainda mais o valor do seu passe no mercado.

Para os indignados dirigentes, esta foi uma peça escrita meticulosamente por Rodrigo Caetano da primeira à última linha do roteiro e encenada em três atos. Realidade? Embuste? Verdade? Ou uma comédia de costumes que só existiu na tortuosa imaginação de alguns vascaínos mais fantasiosos? O blog Gigante da Colina não tem a resposta – e, ao menos por ora, não entrará no mérito dos três anos de trabalho de Caetano em São Januário. Apenas se senta à plateia e tenta entender o enredo pela ótica de quem subiu ao palco e se sentiu forçado a participar de uma história muito mal contada.

Abrem-se as cortinas:

ATO I
Na semana passada, logo após o encerramento do Campeonato Brasileiro, começaram as conversas sobre o planejamento para 2012. Já nas primeiras tratativas, Rodrigo Caetano surpreendeu a todos com queixas e críticas veementes sobre as quais jamais havia tratado de forma explícita. Reclamou da falta de ingerência sobre as categorias de base e questionou as estimativas para o orçamento do Departamento de Futebol, números, diga-se de passagem, cuja ordem de grandeza ele já conhecia. Caetano deflagrou um ambiente de discordância e incompatibilidade que até então não havia sido descortinado. O dirigente que, em meio às especulações de uma transferência para o Fluminense (o que, aliás, aumentou ainda mais o valor em seu código de barras), renovou seu contrato em condições extremamente vantajosas e prometeu dar continuidade ao trabalho até o fim de 2012 lançava ao chão pedras que não estavam no caminho. Havia algo de estranho no ar.

ATO II
Na última segunda-feira, Rodrigo Caetano recebe a equipe de reportagem do Globoesporte.com em sua casa. Concede, então, uma entrevista bombástica. Mesmo sabendo que, ao longo desta semana, haveria uma nova rodada de conversações com Roberto Dinamite e o vice de futebol, José Hamilton Mandarino, Caetano externou publicamente, de viva-voz, sua insatisfação com os possíveis rumos do Vasco em 2012. Em uma atitude mais condizente com alguém que está em período de renovação de contrato e não sob as regras de um acordo em vigor, afirmou que sua permanência no clube era incerta e dependeria de “uma série de condições” a serem acertadas com a diretoria. Publicamente, o empregado encostava seus patrões contra a parede. Se fosse um ministro de Estado, seria imediatamente “convidado” a entregar sua carta de demissão em caráter irrevogável à Presidência da República.

Suas declarações caíram como uma bomba em São Januário. A burla começava a ficar clara. Ao esfregar em praça pública uma roupa que já vinha sendo lavada dentro de casa, Rodrigo Caetano deu sinais do jogo que estava jogando. Para os dirigentes, as peças passaram a se encaixar. Era nítido que Caetano já havia tomado sua decisão. Aos olhos de todos, sua operação ficou evidente. Caetano teria instrumentalizado a mídia a seu favor, já sabendo qual seria o seu próximo passo. Tudo não teria passado, portanto, de uma ardilosa engenharia do ainda diretor executivo de futebol com o intuito de preparar o terreno para uma saída favorável à sua imagem. Por esta linha de raciocínio, Caetano aproveitou-se do seu bom trânsito junto à mídia e do seu prestígio diante da torcida para sair como a grande vítima desta história. Desvendou um clima de racha, até então guardado a sete chaves, de modo que pudesse posar como o grande defensor do aumento dos investimentos no futebol. Como um zagueiro que chuta para a arquibancada uma bola que já havia saído pela linha lateral, Caetano jogou para a galera.

ATO III

A extensa reunião de ontem em São Januário foi uma mera formalidade. Quando entraram na sala, tanto Rodrigo Caetano quanto a cúpula do Vasco já sabiam o fim da peça. O estrago estava feito. Sua entrevista criou um clima de indignação e desconfiança. Tudo se espalhou rapidamente como um rastilho de pólvora. Em menos duas semanas, a boa convivência profissional e pessoal se deteriorou. Em poucos dias, o desgaste havia chegado a um ponto irreversível. Os dirigentes do clube se sentiram usados por Caetano. Roberto Dinamite, que dá um boi para não entrar numa briga e, caso ela comece, entrega a boiada inteira para sair rapidinho, dificilmente será explícito. Mas difícil imaginar que não tenha se sentido traído. Enquanto dava entrevistas sobre o planejamento de 2012 e celebrava uma das maiores realizações de sua gestão, a inauguração da nova e estonteante boutique do clube, Rodrigo Caetano já estava de mochila nas costas, preparado para descer a colina.

Em São Januário, inclusive, não falta quem aposte que Rodrigo Caetano já está acertado com outro clube, mas esperará o fim do ano para anunciar seu novo destino, na tentativa de afastar qualquer ilação de que agiu de caso pensado em sua turbulenta saída do Vasco. Há quem torça, inclusive, para que o eventual novo patrão do executivo vaze a informação à imprensa e estrague o timing de Caetano e, desta forma, desmascare o ator ainda no palco. A ver.

Realidade? Embuste? Verdade? Ou uma comédia de costumes que só existiu na tortuosa imaginação de alguns vascaínos mais fantasiosos? O blog Gigante da Colina só tem uma certeza: apenas o tempo será capaz de responder a estar perguntas.

Por ora, protagonistas e figurantes deixam o palco. As cortinas de São Januário se fecham para Rodrigo Caetano. E as portas, também.

Por: Claudio Fernandez (o mesmo que escreveu a famosa crônica \"O Futuro de Ricardo Gomes\")

Fonte: Blog do Gigante da Colina- Jornal do Brasil
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