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Roberto Dinamite fala sobre o momento do Vasco e tem esperança em futuro pro

Em vez da caixa de charutos cubanos Cohiba Siglo II, repousa sobre a mesa uma de chocolates com a marca do clube. Na estante, a garrafa do vinho italiano Ribeca, tinto, de origem siciliana, denuncia que o whisky não dita mais a preferência da casa.

Após 111 dias de ocupação, a sala do atual presidente do Vasco, Roberto Dinamite, preserva pouco da que serviu como quartel-general de seu antecessor. A disposição da mobília, a princípio alterada, voltou a ser a mesma “pela funcionalidade”, apressase em explicar um assessor. As referências religiosas também continuam lá. Roberto dispôs viradas para si uma estatueta da Virgem de Fátima e uma escultura da Santa Ceia. Embora não-praticante, ele é católico, batizado e reza diariamente.

Hoje, deposita toda sua fé numa vitória sobre o Flamengo, às 18h10, no Maracanã. Não por considerar o jogo um campeonato à parte, mas pela importância do resultado em reduzir as chances de rebaixamento e manter inalterado no coração dos vascaínos o sentimento pelo cidadão Carlos Roberto de Oliveira.

— Tenho consciência do que se passa na cabeça do torcedor. Sei que se (o Vasco) cair, vão dizer que caiu com o Roberto, mas assim como não programei minha carreira para ser artilheiro, campeão e ídolo, não posso prever o que vai acontecer — diz, corajosamente. — O que não quero é ver o Vasco na Segunda Divisão. Hoje, vivo o desejo de livrar o clube e a angústia de saber que, de certa forma, dependo dos outros, embora seja eu o condutor.

Em hora e meia de conversa, o homem de 54 anos e cabeça branca que vive cada uma das 24 horas de seus dias nos últimos três meses entre a esperança e agonia não apela a bravatas. Em nenhum momento afirma que o Vasco não vai cair, mas salienta, insistentemente, que antes de se dedicar integralmente à trabalhosa missão de reordenar a vida administrativa do clube que defendeu por 20 anos, dedicará seus esforços para evitar o que milhões de apaixonados temem. Por vezes, o semblante amargurado trai o discurso coerente e seguro. Próximo à Bíblia, um livro de auto-ajuda (“Emotivese, motivação com emoção”) revela a busca inquietante por inspiração, que vem em rompantes e o faz sorrir escancaradamente para espantar os maus fluidos: — A fase tá tão ruim que de vez em quando tem que descontrair.

Nascido em Duque de Caxias, no bairro São Bento, caçula dos três filhos nascidos da união do funcionário público José Maia com a dona de casa Neuza Rocha, ambos falecidos, Roberto Dinamite não se assusta com as dificuldades. Na infância, foi uma criança de saúde debilitada. Era magérrimo se comparado ao irmão José Antônio, o “Quinha”, e à irmã Ana Lúcia.

Investimentos para o ciclo olímpico

Sofria com diarréias constantes, aos sete anos teve de operar a perna depois que um chute de Quinha deu origem a um pequeno tumor, e aos 11 passou por nova cirurgia para tirar pus do osso, resultado de outra pancada. O Clube de Regatas Vasco da Gama não foi propriamente a salvação, segundo ele, porque “nunca tivemos problemas maiores, meu pai era um cara muito correto, exemplo para todos nós”. Mas foi ali, entre os muros de São Januário, que o “garoto Dinamite” amadureceu e explodiu, virou referência e, agora, por que não, a salvação.

— Estou no momento mais difícil da minha vida, mas não porque não sei ou não entendo nada — diz, em resposta às críticas que questionam sua capacidade administrativa. — É porque, num curto prazo, tenho de corrigir erros de 20 anos.

A herança que Roberto e seu grupo político herdaram ainda é desconhecida.

Antes que o relatório da auditoria da empresa KPMG chegue às mãos da diretoria, porém, já se sabe que há pendências de todos os tipos a serem contestadas. Recentes, como uma suposta dívida de R$ 4,5 milhões com o ex-vice de futebol José Luiz Moreira, o “Zé do Táxi”, e antigas, com uma ex-fornecedora de material esportivo, por quebra de contrato, em 2001, no valor de R$ 8 milhões. Os salários do elenco e dos funcionários, o dirigente assegura, estão em dia, e bons ventos sopram a favor. A parceria com a Eletrobrás está encaminhada. A partir de 2009, prevê investimentos para o próximo ciclo olímpico, inclui 16 esportes, o carro-chefe é o futebol, remo e basquete terão atenção especial, e o grande chamariz do projeto é o capítulo de responsabilidade social.

Mas muita gente ainda se pergunta se pesos pesados do empresariado como Arthur Sendas e Olavo Monteiro Carvalho não vão contribuir financeiramente na recuperação.

— Dinheiro, até agora, eles não puseram, mas não adianta pegar R$ 10 milhões emprestados e sair assinando promissórias. Temos que nos organizar. A idéia é criar um fundo com investimentos de grandes vascaínos — esclarece.

Mais do que dinheiro, o Vasco clama por respeito. E quando Roberto Dinamite diz isso, o nome do ex-presidente, sobre quem seu assessor pessoal havia pedido para não falar, surge instintivamente, pela voz do próprio dirigente.

— Não vou ser humilde, não. No meu tempo de jogador, artilheiro, nunca o chamei de Eurico, sempre de doutor Eurico. Mas quando se pisa na história do próprio clube (uma referência à sua expulsão com o filho da tribuna), não há como me sentar à mesa com ele. Vou fazer o melhor. Depois, que analisem e julguem. Só peço que nos dê paz. Nesses próximos três anos, não precisamos da ajuda dele para nada. Eu acredito no destino.

Fonte: O Globo
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