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Rodrigo Caetano critica gestões amadoras e deficitárias

Clubes no vermelho e crise brecam avanço do futebol no Brasil

\"Se não fosse o passivo que encontrei aqui e a falta de um patrocínio master por causa da crise, não fecharíamos essa temporada no prejuízo\". A afirmação do presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, une três situações convergentes ao futebol brasileiro atual.

Administrações mal sucedidas, a cultura de que os clubes nunca saem do vermelho em balanço e o impacto da crise econômica são, juntas, inimigas íntimas da falta de sustentabilidade financeira que ainda persegue os grandes clubes do Brasil. Todas elas são objetos de análise nesta terceira reportagem da série feita pelo Terra sobre a viabilidade financeira do futebol.

Ainda que Internacional, Grêmio, São Paulo e Corinthians avancem na busca por novas receitas além das convenientes, que normalmente passam pela venda de jogadores, o cenário como um todo ainda é refém do tripé das fontes de faturamento chamadas de ordinárias: direitos de televisão, patrocínios e renda de bilheteria. Sem criatividade, a conta \"não fecha\" e a cultura de que o futebol sempre dá prejuízo se dissemina.

Como perder e ganhar dinheiro

Apenas em 2007, por exemplo, o Fluminense apresentou déficit em balanço de R$ 139 milhões e tem dívidas avaliadas em cerca de 90% de seu patrimônio, ainda que siga contratando jogadores caros, com o apoio da Unimed, como Thiago Neves e Fred. Juntos, os dois representam aproximadamente R$ 600 mil mensais na folha salarial do clube. O valor é praticamente a metade do que o Botafogo paga a todo o seu elenco e comissão técnica, campeões da Taça Guanabara.

\"Há uma tendência permanente de gastos. O negócio é você tentar lucrar em um ano sim e no outro não, para ter um equilíbrio. No Brasil, ganhar dinheiro com futebol é utópico, pois nossos clubes assumem compromissos pesados. Aí, você não pode aumentar o ingresso, pois o poder do povo é baixo. As outras receitas são bem mais baixas que na Europa, mas os salários são altos. Além disso, a imprensa quer clubes bem administrados, mas quer times formidáveis. É preciso uma avaliação rigorosa de tudo\", detalha o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do Palmeiras.

A falta de recursos para gerir o futebol com responsabilidade passa, também, pela falta de ousadia, organização e criatividade. Enquanto a dupla Gre-Nal caminha de maneira organizada com os programas de sócio-torcedor e o Corinthians teve o maior faturamento com marketing entre os clubes do País em 2008, rivais como Vasco e Atlético-MG ainda se estruturam internamente para tentar explorar o potencial que têm após fracassos em administrações passadas.

De acordo com um estudo de Amir Sommogi, da Casual Auditores, e responsável por estudos sobre a gestão do futebol brasileiro, os 20 clubes da Série A poderiam gerar, entre 2009 e 2013, cerca de R$ 1 bilhão em novas receitas. \"Analisando clube a clube, chegamos a esse valor. É possível arrecadar R$ 360 milhões em explorações da marca, R$ 280 milhões em projetos de mídia e R$ 320 milhões em maximização dos estádios. Esse projeto contempla os valores atuais e tem seu crescimento centrado em novas mídias\", explica.

Um exemplo desse novo raciocínio foi a série de parcerias anunciada pelo São Paulo no último mês de fevereiro. O clube deve arrecadar aproximadamente R$ 20 milhões com a cessão de espaços do Morumbi para cinco parceiros diferentes, dos quais R$ 12 milhões serão líquidos para os cofres. \"Foi o maior avanço dos últimos anos e isso vai contaminar os outros clubes\", opina Paulo Velasco, publicitário especializado em gestão do futebol, que cita outros territórios ainda inexplorados.

\"Na Europa, os clubes têm 50 parceiros comerciais em vez de três. Isso é um mercado gigante e que vinha sendo subutilizado, mas já começou a ser melhor visto. O Palmeiras já trabalha com vários parceiros comerciais, como têm Milan e Juventus. Isso gera negócios e visibilidade. O Brasil tem um mercado publicitário grande, uma economia de porte\", explica Velasco. Internacional, que vende setores do Beira-Rio para torcedores, e o Palmeiras, que prevê um crescimento com a construção da Arena Palestra, são outros casos. \"Nos primeiros cinco anos, projetamos algo em torno de R$ 15 milhões em receitas\", afirma Belluzzo.

Estrutura política viciada e a comodidade nos balanços

Leonardo, que trabalha na direção do Milan, diz que o Brasil tem todos os mecanismos necessários e o conhecimento para tornar o futebol nacional um produto muito mais forte. Para ele, o problema é a falta de vontade política.

Sempre especulado como um possível presidente para o Flamengo, seu clube do coração, ele sabe que é difícil provocar grandes mudanças em um cenário que já teve Alberto Dualib, Eurico Miranda, Mário Celso Petraglia, Ricardo Guimarães, Mustafá Contursi e Edmundo Santos Silva, entre tantos outros dirigentes que durante muitos anos atrasaram o andamento dos clubes que dirigiram e só fizeram dívidas acumularem.

\"Não fosse a bolha do passado, com gestões amadoras e deficitárias, o futebol brasileiro seria superavitário atualmente. Com as receitas que possuímos hoje e com a qualificação dos gestores, não tenho dúvida disso\", aponta Rodrigo Caetano, diretor de futebol remunerado do Vasco e que participou da recuperação do Grêmio a partir de 2005.

Quem também critica a herança maldita de gestões passadas é Alexandre Kalil, eleito presidente do Atlético-MG no último ano, e que assumiu um clube recheado por dívidas, especialmente, das administrações de Paulo Cury e Ricardo Guimarães. \"Isso é fruto de problemas de gestão, de negócios mal feitos, de jogadores que recebiam salários fora do comum. E que o futebol brasileiro não perdoa\", explica Kalil, que hoje tem 15 dos 24 jogadores já utilizados por Emerson Leão, em 2009, formados no próprio clube.

É do passado que vem a cultura de que balanço financeiro azul, no futebol, é impossível. Mas, em 2007, o Internacional teve lucro, bem como o São Paulo em 2005, 2006 e 2007, e o Cruzeiro em 2005 e 2006. Ainda que as receitas que motivaram esses superávits tenham vindo da venda de jogadores para o exterior, ficou provado que é possível equilibrar as contas, achar novas fontes de receita e, inclusive, ganhar títulos. Afinal, nas temporadas em que tiveram lucro, são-paulinos e colorados levantaram a taça do Mundial de Clubes.

\"Os clubes não foram feitos para faturar e sim para ganhar títulos. Mas para isso tem que ter dinheiro, pagar jogadores e dar estrutura. O fato de estarem muitas vezes no vermelho é por serem mal administrados. Fazer um planejamento financeiro é obrigação e normalmente estão acostumados em resolver os problemas econômicos quando vendem para o exterior\", aponta o empresário Wagner Ribeiro, em uma equação entre títulos e sustentabilidade financeira que poucos têm conseguido atingir.

Os efeitos da crise

A crise financeira mundial chegou ao futebol brasileiro e atacou diretamente em duas das principais fontes de receita dos grandes clubes. A venda de jogadores e a dificuldade com patrocínios de camisa foram afetadas e colocaram à prova a criatividade para a busca de novas alternativas pelo equilíbrio em orçamento.

Apesar de transcorridos mais de dois meses da temporada, seis dos 20 clubes que disputam a Série A em 2009 não fecharam os patrocinadores de camisa. São eles: Atlético-MG, Cruzeiro, Atlético-PR, Náutico, Vitória e Corinthians, que nem mesmo com a vinda de Ronaldo fechou um acordo. Em 2008, apenas o Coritiba não tinha marca estampada. Já o São Paulo, por exemplo, teve suas expectativas frustradas graças à crise e optou por renovar com a LG por praticamente o mesmo valor do contrato anterior.

Embora não seja uma receita considerada ordinária, a venda de jogadores tem uma importância enorme no orçamento dos clubes brasileiros. Não à toa, foram 1.176 atletas que se transferiram do Brasil para o exterior ao longo do último ano. Entre grandes negociações, porém, as únicas vendas significativas na última janela de transferências foram as de Alex, do Inter ao Spartak de Moscou, e Guilherme, do Cruzeiro ao Dínamo de Kiev.

\"Estou no futebol desde 1996 e posso dizer que foi a pior janela que vi desde então. Não fechei com nenhum jogador, apenas empregamos alguns e fechamos contratos com jogadores que apareceram na Copa São Paulo\", afirma o empresário Wagner Ribeiro.

Salvo uma grande injeção de capital dos clubes europeus no meio do ano, pouco provável sob o atual cenário, os grandes brasileiros precisarão de criatividade para vencer os dois obstáculos e fechar os balanços de 2009 em azul.

\"É fácil vender um jogador e cobrir as contas. Agora precisamos pensar em outras formas, pois não é toda hora que se consegue isso\", explica José Carlos Brunoro, especializado em gestão esportiva e lembrado por sua atuação com a Parmalat à frente do Palmeiras, que aponta a profissionalização dos departamentos de marketing e comercial dos clubes como algo a ser feito.

\"Temos criado no Brasil uma série de receitas que antes não eram levadas em consideração. É possível revitalizar um estádio, criar expectativas de aumento do que o torcedor gasta quando vai ao jogo, patrocínios em segmentos além das camisas, parcerias de empresas e veículos. É possível criar várias situações que não são da venda de jogadores\", indica Brunoro.

Fonte: Gazeta Press / Terra
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