Futebol

Saudade... Eder Luis relembra o "Trem-bala da Colina"

São seis horas de fisioterapia por dia. Sessões de dia, de tarde e mais um complemento na piscina quando Eder Luis chega em casa. A lesão no menisco do joelho direito no início deste ano interrompeu a trajetória do ex-atacante do Vasco no Al-Nasr a poucos jogos do fim da primeira temporada em Dubai. Com a camisa 9 nas costas, o ponta campeão da Copa do Brasil de 2011 experimentava uma sensação diferente de jogar fora do país e esquecer um pouco dos problemas e da pressão que sofreu no clube carioca nos últimos tempos de São Januário. Há seis meses parado, o jogador, que tem contrato até 2016 com o Cruz-Maltino, deve retornar aos campos somente em dezembro.

A sensação, no entanto, é de que o pior já passou. De Dubai, Eder voou para a Itália, onde fez um implante de menisco de um cadáver. Assustador mesmo era ver que o atacante não conseguia esticar a perna direita e nem fazer um ângulo superior a 80º quando dobrava o joelho.

- Ele chegou com fisionomia bem triste, preocupado. Mas logo que chegou encontrou outros jogadores aqui, coincidentemente outros que atuaram lá no mundo arábe, e começou a melhorar. Em duas semanas, dobrou a 130º. E eu dizia para ele: "Eder, se imagina jogando". Hoje, já é o Eder Luis que eu ouvia falar, um cara alegre, uma atração para todos aqui - conta o fisioterapeuta Fábio Marcelo, que trata dele, de Victor Simões, que está sem clube, e de Fellype Gabriel, do Al Sharjah, também dos Emirados.

Em entrevista na semana passada ao GloboEsporte.com, entre um exercício mais puxado no elástico, uma alongada e muitas brincadeiras na clínica - o atacante "interrompeu" o circuito para distribuir palha italiana aos outros pacientes -, o ex-jogador do Vasco lembrou do medo de parar de jogar, dos tempos bons e ruins em São Januário e projetou a volta ao futebol.

- Queria ficar mais tempo lá em Dubai. Me senti bem lá, a família gostou. É diferente o torcedor, não se vê coisas que têm aqui, se respeita mais o jogador - conta Eder.

GloboEsporte.com: Você, que nunca foi um jogador de fazer muitos gols, vestiu a camisa 9 no Al-Nasr. Virou artilheiro?

Eder Luis: Já usei a camisa 9 no São Paulo. Foi curioso. Quando cheguei não queria usar a 9 e depois ainda fui saber que a 9 tinha uma coisa que quem usava não fazia gol. Com o tempo fiz alguns gols, tive uma sequência boa e me disseram isso, que quebrei essa cisma que tinham com a camisa. Só usei também porque não sabia disso. Mas estava gostando muito, estava sendo uma experiência muito gostosa. Dubai é espetacular, muito bonito tudo. E eu achava que era mais fácil o futebol de lá. Não se compara a qualidade, mas responsabilidade é muito grande também, porque parece que são quatro contra quatro - eles contam a responsabilidade toda em cima dos estrangeiros. Então se você não tiver treinamento forte, você fica no ritmo deles.

Você já tinha o menisco bem desgastado, certo?

Há 11 anos eu machuquei, ainda era do Comercial de Ribeirão Preto. E tirei 70% do menisco. Acho que com um tempo isso afetou um pouco, ficou batendo osso com osso, como me explicaram os médicos, mas graças a Deus consegui jogar esse tempo todo mesmo com pouco menisco. A recuperação está  boa. Mas estou há seis meses sem jogar depois de uma cirurgia complicada. Fiquei quase dois meses só com a perna esticada, agora, graças à nossa fisioterapia daqui, que é privilegiada, estou me sentindo super bem, em evolução muito grande. Deveria ter vindo antes, como fez o Fellype, mas agora estou indo bem. Espero voltar em ponto de bala.

Como foi ficar tanto tempo parado?

Hoje até comentei que me sentia diferente, pela mudança de treino, pela melhora que vou sentindo. Mas no início é muito difícil. Nunca fiquei tanto tempo parado. E você vê jogos na TV e começa a pensar se vai voltar, se vai voltar em bom nível. O Fabio (fisioterapeuta) fala: "calma, calma". Tem que cuidar principalmente a cabeça. Olha, chegou um momento que pensei até em parar. Uma hora eu disse: "não vou jogar mais bola". Olhava meu joelho, era só ponto, só grampo, estava totalmente deformado. Mas aí você conversa com as pessoas, elas dizem "não, tranquilo" e eu nunca enxergava isso. Hoje tenho outra cabeça, estou mais alegre, mas tive momento muitos tristes, pensativos, com a família, esposa e filhos. Eu chorava muito com a incerteza, doía muito, perdia noites.

A sua saída do Vasco foi repentina, no fim do primeiro turno do Brasileiro do ano passado, em agosto. Você sentiu que era a hora de sair?

Fiquei três anos no Vasco. Peguei momentos bons, momentos difíceis, mas desgastei muito no Vasco. Precisava pensar em mim. Puxei muito a responsabilidade em alguns momentos e nunca larguei de demonstrar meu carinho. Sempre estou vendo os jogo, me comunicando com o pessoal daqui. Fico triste com a situação do Vasco porque a gente não quer ver isso. Os jogadores que estão lá também não querem passar por isso, ninguém está de sacanagem. Mas tem momento tão difíceis que afetam todo mundo. Ali (ano passado) foi decisão, uma oportunidade para minha família. Lógico que o treinador (Dorival, que reclamou muito da saída de Eder) não queria me perder. Ele sabia da minha importância, mas depois que conversamos ele me entendeu um pouco. O que aconteceu é que faltou comunicação. A direção não tinha falado nada. Foi coisa que o presidente não fez. Fiquei um dia todo (em Brasília, onde Vasco e Corinthians jogariam), no outro dia também e tive que falar com ele (Dorival). Perguntei se estava sabendo alguma coisa de mim. Disse que não e eu falei: "professor, estou negociado, não tem como eu jogar, entrar em campo. Deus me livre de entrar em campo e ter uma contusão. E aí?"

Houve momentos que suas atuações bem abaixo presumiam dores e desgaste físico. Você jogou no sacrifício no Vasco?

Em algum momento só. O joelho inchava um pouco, mas nunca larguei de entrar em campo. Posso ter jogado mal, mas jamais vou entrar de sacanagem. Entrei em momento que não estava legal, perdendo força, tenho certeza que era o meu joelho que estava me atrapalhando. E o clube entrou a entrar em decadência, começou tudo a estourar, começamos a perder muito jogador, que estavam identificados com o clube e não chegava ninguém. Isso que preocupava mais.

Aquele time que foi campeão da Copa do Brasil deixou saudade?

Era um momento muito feliz. Quando se encontra grupo que nem a gente tinha, fica saudade. Tinha Diego Souza, que praticamente estava sem jogar no Galo, Alecsandro que não estava jogando no Internacional... E começamos 2011 muito mal. Ainda brinquei com Rômulo (ex-volante do Vasco): “a gente vai cair no estadual, cara". Mas aí de repente já chega o Alecsandro falando em título, chega una comissão nova, isso tudo foi um diferencial. Era um grupo que se gostava, que chegava e perguntava quando ia concentrar por vontade de ficar junto, com brincadeira, coisa de criança mesmo. A gente ia para o estádio jogar contra o São Paulo, Santos, ia descontraído. Parecia que ia jogar contra ninguém. Devolvemos a alegria do torcedor do Vasco. Quando pousamos aqui depois da Copa do Brasil, nunca tinha visto tanta gente, tanto vascaíno.

Desde aquela época havia problemas de salários atrasados?

Sempre houve esse problema. Mas acho que tinha uma alegria, curiosamente conseguimos nos manter felizes ali. Lógico que jogador precisa de dinheiro, a gente vive de acordo com o que ganha, mas a gente olhava roupeiro, essas pessoas que ganham salário mínimo, começando a ser despejado. Isso que abala um time. Não é jogador ficar dois meses para receber, porque ele se vira, tem de onde tirar, graças a Deus. Mas são essas pessoas que trazem alegria também, entendeu? Isso é difícil. Aí você vai  e pega o Corinthians em dia, com premiação paga, e a gente com dois, três meses de atraso... O rendimento às vezes é de acordo com o ambiente. Se tiver com ambiente como a gente teve em alguns momentos, até supera momentos difíceis.

Você sentiu que a coisa ia desmoronar depois da eliminação para o Corinthians em 2012?

O jogador sabia que a Libertadores era uma oportunidade muito grande de aparecer. Queira ou não, o Vasco é muito grande, mesmo atrasando, mesmo com problemas, a gente sabia que ia acontecer algo de bom para todo mundo. Estávamos numa pegada muito boa desde 2011. Você ia jogar com qualquer time aí e tinham medo de pegar a gente. Tanto que o Corinthians mesmo disse que fomos os adversários mais difíceis na Libertadores. Quando perdemos, você pensa em sair porque você pensa na carreira. O que pudemos fazer pelo Vasco, tenho certeza que todos fizeram. O torcedor se frustra, queria que ficássemos, mas têm que entender que cada um tem uma carreira. E começaram a sair um, dois, começou a acontecer tudo negativamente até cair para a Segunda Divisão.

Houve momentos que você foi muito vaiado pela torcida. Você sentia isso?

Entendo o torcedor Mas às vezes jogador é teimoso mesmo. Tem hora que você vê que não está conseguindo jogar, que é melhor sair, mas não, você quer jogar. Quando cheguei não era cobrado, porque não me conheciam, mas depois começaram a me conhecer, começaram a cobrar, esperando aquele Eder para fazer as jogadas. Nem sempre eu conseguia, mas sempre tentando, sempre tentando. No Vasco, a gente sempre comenta que tem uma política muito grande, que ao invés de ajudar atrapalha. A gente foi campeão da Copa do Brasil e no outro jogo o Ricardo (Gomes, técnico da época) falou: “quero que você jogue”. Falei: “beleza, eu jogo”. A gente empatou 1 a 1 com Figueirense, depois de três dias de comemoração de um título que não vinha há não sei quantos anos, mas fomos vaiados dentro de casa. Acho que para o Vasco voltar a ser forte, o torcedor tem que pensar também.

Outro dia o Juninho citou jogadores que foram perseguidos pela torcida e fizeram sucesso no clube. Fellipe Bastos e até o Marcelo de Oliveira que ficou poucos jogos...

É, no caso do Marcelo ele chegou num momento que o time estava em situação difícil. Ninguém estava se encontrando, acho que estava todo mundo saco cheio ali já depois de tanto tempo com os mesmos problemas. Mas ele (Marcelo) não deixou de mostrar o potencial dele, está aí no Cruzeiro muito bem, tem tudo para ser bicampeão brasileiro. O Bastos, na Libertadores, se for ver, fez gols importantes, jogos importantes, mas a implicância com alguns jogadores é que atrapalha o time. A gente está ali para ajudar o clube e para fazer o melhor para o torcedor. Se o torcedor não reconhece isso, não ajuda o jogador no momento difícil… Aí depois fica pensando "por que aqui não deu certo?" Talvez porque faltou um pouco mais de apoio.

Vamos falar do Al-Nasr. Quando você pensa em voltar a jogar?

Só devo voltar em novembro, pois, como eu estou machucado, eles inscreveram outro em meu lugar. Volto a jogar em dezembro e tenho esse tempo para me preparar. Se eu vou ficar lá ou não, não sei, mas eu quero ficar lá. O clube me deu apoio, o pessoal queria me comprar antes da lesão e está esperançoso que eu volte de todo jeito. Só tenho que agradecer a Deus, pedir para que me dê força e que eu volte a jogar e ser feliz. Estou com 29 anos e tenho contrato até 2015, mas não penso em voltar para a Europa, nada disso. Se voltar para o Brasil, tudo bem também. Acaba que você sente falta de competir firme, de ter torcida. "Ah, torcedor xinga", você sente aquela pressão que não tem lá, mas se tiver que voltar a jogar aqui vou ficar feliz também. Não fui para lá só para ganhar dinheiro. Queria ficar mais tempo lá em Dubai. Me senti bem lá, a família gostou. É diferente o torcedor, não se vê coisas que têm aqui, se respeita mais o jogador.

Fonte: ge
  • Domingo, 17/03/2024 às 16h00
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