Política

Confira entrevista com o ex-presidente Eurico Miranda

Uma das figuras mais polêmicas e influentes do futebol brasileiro até meados da década passada, Eurico Miranda, 69 anos, saiu dos holofotes em 2008, depois de perder a eleição à presidência do Vasco para Roberto Dinamite. Havia comandado o clube de 2000 a 2008. Antes disso, atuou muito tempo como dirigente, posição na qual se notabilizou como vice-presidente de futebol.

Fora do comando, manteve atuação política no clube, mas não vinha esboçando qualquer possibilidade em tentar voltar à presidência. Com o enfraquecimento de Dinamite e o péssimo desempenho do time nos gramados, porém, Eurico se coloca novamente como opção para liderar o Vasco. Atual presidente do Conselho de Beneméritos do clube, ele confirma sua candidatura para as eleições agendadas para junho de 2014. Segundo o ex-dirigente, ele se coloca à disposição devido a pedidos de torcedores, e para que os netos voltem a ver um Vasco vencedor.

Apontado por muitos como o principal responsável pelo rebaixamento do Vasco em 2008, Eurico nega qualquer responsabilidade na desastrosa campanha daquele ano. Ele deixou a presidência na metade da temporada, com o time estava afastado da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Para ele, a atual campanha do time, que corre grande risco de cair novamente, mostra que a administração de Roberto Dinamite é “omissa e fraca”.

“O problema todo do Vasco é que não há comando. É uma nau sem rumo”, critica.

Abaixo, confira os principais trechos da entrevista de Eurico Miranda ao Terra.

Terra - O que leva o Vasco a poder ser rebaixado pela segunda vez em poucos anos? Por quê o clube chegou a essa situação?

Eurico Miranda - Isso é uma tragédia anunciada. É uma repetição de alguns anos atrás que levou claramente a essa situação. Novamente, há atraso de salários. Em 2008, atrasaram os salários no segundo semestre. Quando eu saí, os salários estavam rigorosamente em dia, e o Vasco estava na sétima colocação. A diretoria é permissiva. O Vasco perdeu totalmente a representatividade. Eles fazem o que bem entendem, desmarcam jogos como querem, com a conivência da administração do Vasco. É uma subserviência que chega à submissão.

Terra - Quem é o maior culpado por esse cenário?

Eurico Miranda - Roberto Dinamite e seus aliados. Ele é omisso e fraco. O Dinamite, apesar de estar há seis anos à frente do Vasco, é absolutamente despreparado. Veja as contratações que foram feitas. De forma atabalhoada, sem nenhum critério. Em 2008, pegaram jogadores com problemas físicos. Agora em 2013, agiram da mesma forma. Como se monta time em que não se preocupa com um goleiro?

Terra - Pelo fato de ter sido um ídolo dentro de campo, a decepção com Roberto Dinamite é maior?

Eurico Miranda - Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O que ele administrou na vida? Ele caiu de paraquedas para administrar o Vasco, sem ter nenhuma experiência. Deu no que deu.

Terra - O senhor deixou o clube em meados de 2008 com problemas financeiros, e muitos atribuíram o rebaixamento no fim daquele ano à sua administração, que teria deixado uma herança maldita. Até que ponto o senhor considera ter tido culpa no desempenho ruim do time naquele Campeonato Brasileiro?

Eurico Miranda - Em 2008, eles, deliberadamente, levaram o Vasco para a segunda divisão. Que herança maldita é essa, se eu deixei o time em sétimo lugar? O que se pode chamar de herança maldita? A minha herança maldita está aí. Está no Thales, que começou no pré-mirim com a gente. Mesmo caso do Marlone, do Luan. Fora os que eu deixei e que eles mandaram embora, como o Alex Teixeira, o Alan Kardec, o Philippe Coutinho. Deixei essa herança, que eles não souberam e não sabem aproveitar. Os problemas que os clubes de futebol atravessam, se é que é herança maldita, vêm lá de trás. Quem assume um clube, assume o ônus e o bônus. Então não assume. Fizeram essa situação, e inventaram uma boa desculpa de falar em herança maldita. Comprovam agora o que foi feito, o que levou a isso. É a tragédia anunciada.

Terra - A atual administração alegou que encontrou muitas dívidas deixadas pela sua administração, que emperraram o desenvolvimento do clube nos anos seguintes, e que o clube já vinha em decadência.

Eurico Miranda - Quando o Roberto chegou ao clube, ao invés de cuidar do time, do que tinha que fazer, teve a preocupação maior em fazer uma auditoria no Vasco. Não encontraram nada. Foi uma coisa de caça às bruxas. Mandaram a estrutura do futebol embora. O quadro funcional é o sustentáculo do clube. Mandaram embora, sob aquela história de que tinham ligação com o Eurico. Por isso que eu digo que agiram de uma forma deliberada para que o clube fosse à segunda divisão.

Terra - Qual a principal falha do Roberto Dinamite no comando do clube?

Eurico Miranda - O problema todo do Vasco é que não há comando. É uma nau sem rumo. Os jogadores e funcionários sabem disso. Eles querem saber quem manda. Não tem comando. Um dia um fala coisa, aí outro diz outra, é uma história incrível. Acho que tem muita arrogância e desorientação. Eles são de uma teimosia que chega à burrice. Sempre quis ajudar, eu tenho 40 anos de vivência de futebol. Você acha  que um clube pode prescindir de uma pessoa que tem toda a bagagem de conhecimento, que modéstia à parte, eu tenho? Podem me ligar, me consultar.

Terra - Mas, diante dos problemas que houve entre o senhor e o Roberto, seria normal que ele o procurasse? Houve até aquele episódio em que ele disse ter sido expulso das tribunas de São Januário por pessoas ligadas ao senhor.

Eurico Miranda - Isso é conversa mole, é história de boitatá, para boi dormir. Uma história montada. Não expulsei ninguém. Qual a necessidade que tinha de expulsar o Roberto? Isso foi uma coisa política, montada. Chamar o Roberto de meu desafeto é de quem não conhece a história. Eu trouxe o Roberto de volta da Espanha para cá, eu participava de todas as renovações de contrato no Vasco. Ninguém fez mais promoção para o Roberto do que eu. Fiz a promoção dos 500 gols, ajudei de toda forma e maneira para ele se tornar ídolo do Vasco. Claro que teve o mérito dele.

Terra - Roberto o apoiou na sua primeira eleição para a presidência, e era seu aliado. Por quê se tornaram adversários políticos?

Eurico Miranda - Eu é que o fiz político. Na primeira candidatura dele para deputado estadual, fui eu que sugeri e o ajudei. Inclusive nas reeleições. Quis trazer o Roberto para o Vasco, ofereci que ele começasse como diretor. Não entendo nada do cara que cai de paraquedas. Entendo o cara que vai tomando conhecimento das coisas, vivendo o clube mesmo. Só se conhece quando se está lá dentro. Não pode chegar num clube como o Vasco, chegar e sentar no trono. Para chegar ao trono, tem muitos degraus para subir. Ele me perguntou quanto é que ganhava, e expliquei que amador não ganhava.

Terra - Voltando ao tema da alegada herança maldita, em que condições o senhor entregou o clube em 2008? O Roberto apontava muitos problemas financeiros.

Eurico Miranda - Deixei o Vasco com toda a situação regularizada. Quais problemas financeiros? Deixei o clube com todas as certidões negativas. Todas as certidões das dívidas fiscais. Só que eles entraram e nunca recolheram um centavo. E conseguiram fazer uma dívida fiscal maior do que toda a dívida fiscal que o Vasco tinha nesse período. Eles poderiam ter feito contrato com a Eletrobras se não tivesse certidão? O Vasco é o clube que tem a maior dívida hoje em dia. Veja quanto era em 2008. Como que em cinco anos ainda se quer culpar alguém por alguma coisa? A culpa é deles, que arrasaram com as divisões de base.

Terra - Seus críticos o classificam como arrogante e dizem que sua imagem antipática para muitos acabou sendo transferida para o clube. O senhor não exagerou nas polêmicas?

Eurico Miranda - Se você não for Vasco, quero que você ache que sou antipático, ditador, desde que você não seja Vasco. Claro, você quer que eu seja simpático ao Flamengo? Na minha passagem no futebol, ajudei a eles todos quando precisaram, mas sou antipático a eles. Para mim está tudo bem. Isso faz parte de quem comanda o futebol. Tem que ser simpático, bonzinho, subserviente, aceitar passivamente. Não aceitava isso e claro que há consequências. Você queria o quê? Todos sabem que no Dia de Finados o Vasco fechava. Se tivesse alguma coisa marcada, era adiado ou antecipado. Agora passaram o jogo do Vasco contra o Coritiba para o dia de Finados. Não pode, jamais admitiria isso. E essa minha postura desagrada a muitos.

Terra - Mas não estamos numa época de mais profissionalismo, em que a televisão paga caro e os clubes têm que aceitar determinadas condições?

Eurico Miranda - Que profissionalismo? Com a licença da palavra, para fod... o Vasco? Um clube vive das suas tradições. Um clube que não tem tradição não é clube, é time. Esse pessoal é contra todas as tradições do Vasco, eles não cultuam as tradições do Vasco. Não se dirige um clube como o Vasco por e-mail, do ar condicionado. Nesse modelo de hoje, o cara não suja o sapato.

Terra - A queda do Dorival Jr. e a chegada do Adilson Batista foi uma boa medida?

Eurico Miranda - O Vasco chegou a um ponto em que o importante era o Dorival sair. Vejo a chegada do Adilson como uma esperança. Por mim, se fosse minha orientação, viria um cara com raiz de Vasco. Se não fosse um assim, aproveitaria alguém que estivesse lá, que conhecesse o Vasco. Não há tempo para o cara fazer aprendizado. Nada contra o Adilson, até porque seria injusto, já que não conheço o trabalho dele. Acho que seria mais fácil para alguém que conhecesse o Vasco, porque o Vasco tem esquinas, o Vasco tem obstáculos que têm que ser saltados. Há exemplos por aí, o Muricy, no São Paulo, e o cara do Flamengo (Jayme de Almeida).

Terra - O Vasco ainda pode sair desta situação ou o rebaixamento é inevitável?

Eurico Miranda - Se souberem focar as coisas... Vamos ser objetivos. Tem algum problema ganhar do Coritiba? Não. Tem algum problema ganhar do Santos aqui? Não. Tem algum problema ganhar do Náutico? Não. Tem algum problema não perder para o Cruzeiro? Não. Só isso já tira o Vasco. Tem algum problema não perder para o Corinthians? Não, eles não ganham de ninguém. Os dois adversários mais difíceis são o Grêmio e o Atlético-PR. Se souber focar, dá. O que não pode é mudar o time a cada jogo, como vinha ocorrendo.Olha, vou dizer uma coisa que, para variar, vai criar muito problema para mim. Hoje no futebol, se vê muito mais o lado comercial do que qualquer outra coisa. O que é a Série B sem um clube de ponta? Alguém vai ter interesse em ver o ASA enfrentando o Oeste? Vai vender pay-per-view? O Boa Esporte contra o Joinville, com todo respeito a eles, é interessante? Mas há o lado comercial. Aí, tenho muito medo da influência externa, visando o lado comercial, para que tenha um clube de ponta na Série B.

Terra - O senhor realmente quer voltar a dirigir o Vasco? Será candidato a presidente no ano que vem?

Eurico Miranda - Não é que eu queira voltar. Eu vou voltar. Não tinha pretensão de voltar agora. A coisa foi muito mais pelo clamor, na rua. Vascaínos das mais diferentes vertentes me pediam. E o fator principal foram meus netos. Todos são Vasco e, na verdade, está muito difícil para essa nova geração ser Vasco. Eles viram para mim e dizem que o Vasco não ganha.

Terra - Voltando a presidir o Vasco, poderíamos esperar o Eurico polêmico de sempre, ou uma versão mais light?

Eurico Miranda - Eu sou light. Venderam uma imagem minha. Agora, não queira ferir os interesses do meu clube, que aí a coisa muda de figura. Tive embate com a Globo. Quem negociava todos os contratos do Clube dos 13 era eu. Sempre fui contra a negociação individual, sempre evitei de todas as formas isso. Mal saí do Clube dos 13 e eles levaram ao estouro do grupo e à negociação individual. Isso faz, hoje, com que Corinthians e Flamengo recebam R$ 70 milhões por ano a mais do que o Vasco. No meu tempo, o Vasco nunca recebia menos do que esses clubes. Fazia por onde, brigava por onde. Como admitir o Flamengo tendo dez jogos na TV aberta, e apenas dois do Vasco? O que é isso? O patrocinador exposição. O Vasco se apequenou, em todos os sentidos. Não tem uma voz que se levante para protestar isso. Se tinha uma voz, o cara era autoritário, truculento. Eu protestava mesmo.

Terra - Isso não prejudicou o clube? O clube teve uma queda no desempenho dentro de campo depois de 2000 e só conquistou um campeonato estadual em 2003, até sua saída, em 2008.

Eurico Miranda - Não, pelo contrário. Tivemos problema lá atrás, com a Globo, uma asfixia financeira, um negócio brutal feito pela Globo que depois eles restabeleceram. Mas nenhuma atividade parou no Vasco. No futebol, eu tive, primeiro, que me adequar à realidade, e quando tinha tudo preparado para dar a grande arrancada com contratações maiores, eu tive que sair. Foi só isso. Digam o que eles quiserem dizer. Pouco me importo com o que as pessoas dizem. Só quero que alguém consiga dizer se encontrou algum que defendeu os interesses do clube como eu defendi, e como eu defendo, até hoje.

Fonte: Terra
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