Todos os clubes do Rio têm uma potência extraordinária: a marca. O depoimento de João Paulo Lopes, diretor de futebol do São Paulo, é a certeza de que, para os clubes cariocas, sair da lama não é missão impossível.
Apesar dos elogios paulistas, por enquanto, a Série B do Campeonato Brasileiro é pesadelo para três grandes clubes cariocas e realidade para outro. O quadro tenebroso é conseqüência de administrações conturbadas, como mostrou o JB na série Levanta, Rio.
As dívidas de Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo atingem a cifra de R$ 1,3 bilhão; os clubes colecionam contratações de jogadores caros que não rendem; Fluminense e Flamengo lideram o ranking do rodízio de técnicos no Brasil; os pequenos do Rio desaparecem cada vez mais; e Rubens Lopes, presidente da Federação do Rio (Ferj) já demonstrou mais que uma mera preocupação.
Assustado, não. Estou apavorado disse à coluna Entre as canetas, do JB.
Exemplos a serem seguidos para sair da crise não faltam para os cariocas. O Internacional de Porto Alegre chegou ao título da Libertadores e do Mundial em 2006, além de conquistar a Copa Sul-Americana no ano passado. O São Paulo é o atual tricampeão brasileiro. O Cruzeiro, de Belo Horizonte, venceu o Brasileiro em 2003 e acumula participações em Libertadores na era de pontos corridos. Nesses clubes, a palavra de ordem é profissionalização.
A saída é um choque de gestão. O próprio São Paulo ainda tem um longo caminho a percorrer. Mas as conquistas são reflexo de estabilidade política e tranquilidade financeira. Fechamos com superávit todo ano desde 2003 afirmou João Paulo Lopes.
Falta compromisso
O programa de sócios do Inter é exemplo de sucesso. O clube alcançou 100 mil sócios este ano, seu centenário. No Rio, o Vasco já segue o exemplo e procura alcançar a mesma marca, ainda que não tenha chegado nem perto dos 40 mil. O Flamengo, clube de maior torcida do país, não reúne sequer 7 mil sócios.
Em três anos conseguimos 60 mil pessoas. Fomos campeões do mundo em 2006 e usamos isso a nosso favor explicou o presidente colorado Vitorio Piffero - hoje, firmamos um acordo com o Tottenham (clube inglês). Haverá intercâmbio de jogadores, além de desenvolvimento conjunto de projetos de marketing, formação de jogadores e oportunidades comerciais.
Em Minas Gerais, o Cruzeiro tem o melhor centro de treinamento do Brasil, a Toca da Raposa. O presidente Zezé Perrela lembra outro fato comprometedor para o futebol carioca.
O profissionalismo não é bom apenas na administração, mas no campo também. Há muita liberdade para o jogador no Rio. Não falo em ditadura. Falo em comprometimento. Uma cobrança maior quanto ao comportamento fora de campo não seria demais comentou.
Exemplos da falta de comando no Rio não faltam para ilustrar a tese. No início do ano, no Flamengo, o lateral Juan reclamou do trabalho de Cuca e abandonou um treino. No Vasco, Edmundo e o técnico Alfredo Sampaio, em 2008, foram protagonistas de outra confusão. O atacante também abandonou um treino e o clima pesou. Não houve qualquer punição.
Nesse caso, Alfredo levou a pior e foi afastado depois de resultados negativos.
Coincidência ou não, Internacional e São Paulo não costumam trocar treinadores. Em seis anos e meio, foram seis trocas para cada um, média aproximada de um treinador por temporada.
O treinador não resolve tudo sozinho. Não podemos trocá-lo por resultado imediato. Há desgaste da direção? Sim, porque há pressão muitas vezes para tirar técnico. Mas temos que superá-la, não podemos ceder por ser o mais conveniente ensina Vitorio Piffero.
Para o presidente colorado, planejar as contratações é algo determinante na formação de um elenco competitivo.
Há que se ter uma política de futebol. Vendemos o Pato, mas trouxemos o Nilmar. O clube se programa quanto à venda de jogadores. Temos o Taison, mas não é hora de vendê-lo. É tudo uma questão de ter projeto afirmou.
Para Zezé Perrela, a estrutura física é fundamental.
Vemos, às vezes, contratações caríssimas duvidosas. Poderiam investir em centros de treinamento. É um projeto de longo prazo importante confirma.
Apesar de toda a degradação em que se encontra o futebol do Rio, o tricampeão brasileiro João Paulo Lopes vê a possibilidade de dias melhores.
As marcas de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo são nacionais. É um patrimônio fantástico. A melhora dos clubes do Rio significa crescimento do futebol brasileiro. Torço muito por isso afirmou o dirigente do São Paulo.
Diante das análises, a saída pode ser mirar-se no exemplo. E o exemplo tem três nomes: profissionalização, comprometimento e projeto.