Seu Jerônimo não se recorda do ano, muito menos do dia.
Lembra apenas que Romário, moleque de poucas palavras, deveria ter entre 12, 13 anos no amistoso que o Estrelinha disputou contra um tal Pau da Fome, em Jacarepaguá.
- O Romário fez 16 gols, é mole?
Estrelinha era como chamava o time de pelada criado por seu Edevair, pai do Baixinho, na Vila da Penha, Zona Norte do Rio, onde o menino cresceu. Seu Jerônimo, vizinho de Edevair, foi o primeiro técnico de Romário. Aos 87 anos, ainda lúcido, ele foi encontrado pela equipe de reportagem do LANCE! no próprio bairro onde aquele atacante miudinho - e marrentinho - deu os seus primeiros passos no futebol.
- O Romário nasceu feito. Já era um gênio desde o berço. Nunca precisei ensinar nada a ele - orgulha-se seu Jerônimo, que até hoje se emociona ao relembrar histórias do Baixinho.
Os dois não se vêem, segundo o ex-técnico do atacante, há cerca de dez anos. Seu Jerônimo tem contato apenas com os pais de Romário, que vira e mexe estão na Vila da Penha revendo os amigos. Mas as memórias daquelas manhãs de domingo no fim da década de 70 ainda estão vivas na cabeça do ex-condutor de bonde que, depois da aposentadoria, se dedicou à ensinar jovens no trato com a bola. A fama do Baixinho ia além do subúrbio.
- Certa vez, fomos disputar um jogo no Espírito Santo. O lugar estava lotado. Tinha gente parando bicicleta e amarrando cavalo só pra ver o Romário - garante seu Jerônimo.
Dele a Renato Gaúcho, inúmeros técnicos passaram pela vida de Romário. Mas ter sido o primeiro será, para sempre, motivo de orgulho para seu Jerônimo, tricolor que vive a torcer pelos feitos do ex-pupilo.
-Acho que ele chega, sim, ao milésimo gol na carreira. Não está difícil - avisou. E ele sabe das coisas...