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Eurico tenta se habituar ao cotidiano após 100 dias longe do Vasco

O celular toca, e do outro lado da linha alguém avisa: Roberto Dinamite é o entrevistado da noite num canal de esportes de televisão. É só mais um boletim da rede de informantes. Afinal, mesmo destronado pelo maior ídolo cruzmaltino há exatos 100 dias, Eurico Ângelo Miranda não se desliga do Club de Regatas Vasco da Gama, onde esteve sempre ligado ao poder nos últimos 22 anos - 14 como vice de futebol, oito na presidência.

Foram mais de 8 mil dias tentando driblar do desafeto comum à CPI do futebol. Eurico colecionou processos - apropriação indébita de bens, desvio de dinheiro, agressões -, inimigos, glórias (três títulos brasileiros, sete estaduais, uma Libertadores, uma Mercosul, um Rio-São Paulo) e fracassos. Uma relação intensa, que ainda o impede de cortar raízes e dedicar-se ao cotidiano de sua vida privada.

Nos últimos 100 dias, o ex-dirigente foi a São Januário uma vez - para reunião do conselho de beneméritos. Sem cargo político (não foi reeleito deputado federal em 2002), vive das idas e vindas ao escritório de advocacia e foge do termo \"aposentado\".

- Uma coisa é você diminuir sua atividade. Outra, é se aposentar. Quem se aposenta é relegado a segundo plano - avisa.

Às 19h15m, seu carro imbica na garagem de um prédio em Laranjeiras, bairro onde mora desde que casou com Silvia, há 36 anos. Acompanhado do motorista e de seguranças, o ex-dirigente não está voltando do clube que respira politicamente desde a década de 70, mas do escritório, no Centro do Rio - local que se acostumou à sua ausência nos tempos em que era comum ficar no Vasco até de madrugada, resolvendo pepinos, jogando cartas, ou bebendo uísque.

- No escritório, vinha de passagem. Hoje, venho todo dia.

Vasco e família são os dois pilares da vida de Eurico. Com os netos Pedro Ângelo (de quatro anos), Letícia (dois) e Eurico Neto (um), é carinhoso e permissivo como um dia foi com Romário e Edmundo. Na última segunda-feira, ao abrir a casa para uma sessão de fotos, foi alvo fácil da criançada - principalmente o mais velho, que pulava sobre seu pescoço. Tirou de cena o cartola polêmico e assumiu o papel do avô farrista.

- Criança não combina com baixo astral. Ela sente quando você não está bem. O nascimento do meu primeiro neto foi mais importante do que os dos meus filhos. Tirar um sorriso de um neto me conforta.

Em casa, com a esposa, os quatro filhos, noras e netos, Eurico Miranda parece abandonar a imagem por vezes truculenta que construiu de si mesmo e cultiva o silêncio e a solidão. Na mansão de Angra dos Reis, para onde quase não foi nos três últimos meses, troca o sol pelo prazer lúdico dos quebra-cabeças.

- É a peça que encaixa, a que não encaixa...Sempre gostei de me isolar. No quebra-cabeça, consigo isso. As coisas estão acontecendo à sua volta, mas você está ali, isolado.

Eurico sai pouco. No cinema, não vai há oito anos. Em São Januário, onde tinha uma sala que servia de camarote, não viu um jogo ao vivo desde que voltou a ser apenas Grande-Benemérito. Mas assistiu a todos pela TV, ocasião em que também dispensa companhias. Quem o acompanha de perto, sabe que o ex-dirigente dificilmente vai perder a mania de preferir falar a ser ouvido.

- Se chegar um, ou outro, tudo bem. Mas não convido. Gosto de assistir sozinho, dando minhas opiniões. Mas não gosto de ouvir o protesto dos outros - diz.

Leitura já foi uma de suas atividades preferidas. Assim como a fisioterapia, que cursou nos anos 60 antes do direito. Eurico trabalhou numa clínica de reabilitação de paraplégicos, e largou por sentir-se impotente.

- Não era, e nem poderia ser São Francisco de Assis.

Impotente também se encontra diante da má fase do time de futebol do Vasco. Sem o poder, que ele insiste em dizer que ainda é grande, tem num programa de rádio às segundas-feiras o seu canal de comunicação com seus seguidores.

- Se eu tivesse em notas de R$ 100,00 as fotos que eu tirei, e os autógrafos que eu dei, eu era um Bill Gates.

Mas o apreço ao poder total, garante ele, arrefeceu:

- Não volto a ser presidente do Vasco, nem que eu seja a última pessoa da Terra.


Netos ainda sem um título

Pequeninos, os netos de Eurico ainda não viram o Vasco ser campeão - o último título foi em 2003, um ano antes do nascimento de Pedro Ângelo, o mais velho. O ex-dirigente, no entanto, tem suas artimanhas para não deixar que a péssima fase do time que ele ajudou a montar influencie na torcida da criançada.

- Só chamo ele para a sala quando o Vasco faz gol. Contra o Vasco, nada de ver gol. Também não falo de resultado - revela.

O ex-dirigente conta que a derrota do time por 3 a 1 para o Náutico, dia 14 de setembro, o deixou tão atordoado que resolveu fazer o que não está acostumado: dirigir. Foi à garagem, dispensou motorista e seguranças, e foi esparecer.

- Fiquei com receio de me acontecer alguma coisa.

Exagero para quem garante ter superado um câncer de bexiga recentemente. Ainda que com uma dose de sorte.

- Tive um tumor maligno na bexiga e fiz uma cirurgia. De três em três meses, eu deveria fazer uma avaliação para ver a evolução. Mas não tinha tempo. Só fui verificar um ano e dois meses depois. Podia não ter dado tempo...

Missas e palestras

Figura pública há pelo menos duas décadas, Eurico Miranda encontra na missa, que diz freqüentar aos domingos, uma maneira de driblar a falta de privacidade.

- Vou muito à missa no final da tarde. Na Igreja, consigo ser mais um. Acima do Vasco, só Deus - prega.

Da Zona Sul, onde cresceu, estudou (nos colégios Santo Inácio e Andrews) e brigou muito com os colegas que sacaneavam a camisa do seu clube, Eurico garante que não sai. Os filhos moram todos na Barra da Tijuca, mas para lá ele jura que nunca irá. Mudar não é muito com o ex-dirigente.

- Não há mais como eu mudar minha vida. Pode não ser o ideal, mas se eu durar mais cinco, dez ou vinte anos, não vou mudar.

Assim, fiel a suas convicções, Eurico diz que viveria a vida sem alterar uma linha. Mas aos alunos de uma faculdade para a qual foi chamado à ministrar uma aula de direito esportivo, ele deu outros conselhos.

- Disse a eles: \"Não me arrependo de nada do que fiz. Mas não façam nada igual\". Se o cara quiser subir, crescer, tem que ser maleável, saber contornar situações. E eu sempre fui contra o sistema. Bati de frente.

Tanto atrito só foi possível, segundo ele, por causa do suporte da mulher Sílvia, que renunciou à própria vida, para ser a guardiã da educação dos filhos. Mas a idéia de aproveitar o tempo livre o mais junto possível dela, é visto com ressalva.

- Ela (Sílvia) gosta de mim desse jeito. Nunca foi de dizer faça isso, ou faça aquilo. Agora, esse negócio de ficar muito junto começa a incomodar...

E foram apenas 100 dias.

Fonte: Extra Online
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