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Memória: Semelhanças entre Ademir, ídolo do Vasco, e Nelson Rodrigues

O que o atacante Ademir Menezes, ídolo do futebol dos anos 40 e 50, e Nelson Rodrigues, escritor, dramaturgo e jornalista, tinham em comum? Aparentemente nada. Apenas aparentemente. Além de terem nascido no Recife, os dois se radicaram no Rio de Janeiro, onde fizeram fama e viveram dramas em uma mesma época.

O futebol de Ademir e os textos de Nelson tinham, sim, semelhanças. Ademir era implacável no ataque, impiedoso em suas conclusões, assim como Nelson, que desafiava valores sociais com ironia e indignação. Ademir nasceu na praia do Pina, no Recife, em 8 de novembro de 1922, na Vila de Bico do Mocotolombó. Iniciou a carreira no juvenil do Sport Recife, de onde foi para o Vasco, após confronto da equipe carioca com o seu time, em 1943. Chegou ganhando 40 contos de réis de luvas e 500 mil-réis de salários, mas sua relação com o Vasco estava acima disso. Foi um amor à primeira vista.

O jogador ganhou seu primeiro título carioca em 1945. E, no ano seguinte, novamente seu destino se cruza com o de Nelson Rodrigues e seus mistérios insondáveis. O passional Nelson tinha outro amor à primeira vista: era torcedor fanático do Fluminense. E bem naquele ano, Ademir foi contratado pelo tricolor carioca, a pedido do técnico Gentil Cardoso. \"Me dêem o Ademir, e eu lhes dou o campeonato\", foi o lendário pedido do treinador para os dirigentes do Flu, que atenderam prontamente, para a alegria de Nelson.

E com um gol de Ademir, na final contra o Botafogo, o Fluminense foi campeão estadual em 1946. Nelson, nascido em agosto de 1912, vibrou como poucas vezes na vida, após ter vivido dramas como a morte do irmão, do pai, a destruição do jornal A Crítica, de sua família, a tuberculose e uma úlcera, fruto do que chamava de a víbora perene da angústia.

A figura de Ademir aliviou um pouco esse amargor do dramaturgo, justamente em um momento de pura criação do mestre do teatro brasileiro que, naquela década, chegava à fama com a peça Vestido de Noiva.

Mas no ano seguinte, Ademir voltou para o Vasco. E recomeçou a fazer gols por sua equipe, ganhando os títulos de 49, 50 e 52. Foi o jogador brasileiro que mais marcou gols em uma única Copa do Mundo, somando oito no Mundial de 1950, ano em que o Brasil ficou com o segundo lugar, após perder de forma surpreendente para o Uruguai no Maracanã. Ronaldo foi quem mais perto chegou desse número com sete gols.

E todos esses movimentos de Ademir dentro de campo, seus gols na volta ao Vasco, a impotência em salvar a seleção da derrota em 1950 formaram um novo turbilhão na vida de Nelson Rodrigues. Aumentaram em muito úlcera dele. Atiçaram a \"víbora da angústia\" na alma do escritor, em uma época efervescente do Brasil e do Rio de Janeiro ainda romântico, atônito com a morte de Getúlio, com a virulência do opositor Carlos Lacerda em seus discursos que abalavam a nação, com a ascensão ao poder de Juscelino Kubitschek, em 1956, ano em que Ademir Menezes parou de jogar.

O futebol perdeu um pouco da malícia do gol, do faro que somente os grandes artilheiros têm e que parece emanar de sua química com o gramado. Algo como uma sensualidade do gol. E depois de ter feito da vida de Nelson Rodrigues uma verdadeira roda-gigante de emoções, Ademir pôde descansar. E perceber que o perfil de sua vítima era quase como o seu. Nelson desnudava a sociedade com suas frases e suas cenas intensas. Ademir desnudava os zagueiros, os goleiros e os torcedores esfarelando seus esforços e seus desejos a cada gol. O famoso apelido de um vale para o outro também. Na vida e na bola, Nelson e Ademir eram anjos pornográficos.

Fonte: Cidade do Futebol
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