A classificação do Vasco na Copa do Brasil teve um roteiro que parece ter sido escrito para Robert Renan do início ao fim. O zagueiro foi inscrito nas últimas horas do prazo para estar à disposição de Fernando Diniz no duelo com o Botafogo. Sem ritmo, ficou fora do jogo de ida, mas estreou na volta — justamente na noite que marcou sua redenção no futebol brasileiro.
Há um ano e meio, Robert Renan desperdiçou o quinto pênalti da semifinal do Gauchão entre Internacional e Juventude. A cavadinha defendida pelo goleiro selou a eliminação colorada e transformou o jovem no rosto da frustração. A partir dali, sua passagem pelo Inter ficou marcada, e o erro o acompanhou até os últimos dias em Porto Alegre.
Foi exatamente naquele episódio, porém, que Fernando Diniz passou a olhar para o zagueiro com outros olhos. Após a classificação, em entrevista coletiva, o treinador do Vasco disse que foi ali que ele pensou que gostaria de trabalhar com o jogador um dia na carreira. O técnico indicou a contratação do atleta para a direção vascaína e também participou ativamente das negociações.
— Você relembrou o lance do Inter que me marcou muito. Porque quando ele errou aquele pênalti, foi extremamente criticado. Jogador para a idade que tem tentar fazer aquilo, tem um lado positivo que tem muita personalidade. Ele tem mesmo — disse Diniz, que completou:
— Aquele dia eu tive muita vontade de trabalhar com ele, porque eu sabia o que ia acontecer dali para frente, e aconteceu. Garoto jovem, humilde, e o sistema do futebol acaba sendo muito opressor e limitando as chances de o Robert Renan sozinho dar a volta por cima.
E Robert Renan deu a volta por cima. Segundo o próprio zagueiro, o filme do erro passou na cabeça na hora de bater o pênalti. Mas estava tudo escrito para ele começar a história no novo clube sem o peso da passado, sendo decisivo logo em sua estreia pelo Vasco na volta ao futebol brasileiro, depois de uma temporada entre o Zenit, da Rússia, e o Al-Shabab, da Arábia Saudita.
Ao longo da semana, o ge antecipou que o Vasco preservaria Robert Renan e Matheus França no clássico contra o Botafogo. A ideia era mantê-los no banco de reservas, sem utilizá-los como titulares. O plano fazia sentido: ambos vinham de longo período de inatividade, o jogo seria no gramado sintético do Nilton Santos e ainda não havia tanto entrosamento com o restante da equipe.
Outro fator pesava na decisão: Robert Renan é canhoto, assim como Lucas Freitas, e Fernando Diniz não queria escalar dois zagueiros de pé esquerdo ao mesmo tempo. Mas a realidade mudou o roteiro.
Ainda no primeiro tempo, Tchê Tchê deixou o campo machucado, obrigando Mateus Carvalho a entrar no meio-campo. O volante, porém, não conseguiu dar a resposta esperada e acabou substituído. Sem Jair e Thiago Mendes à disposição, Hugo precisou avançar para o setor, e Robert Renan foi lançado a campo para estrear com a camisa do Vasco.
Diniz não teve dúvidas ao escalá-lo para as cobranças de pênalti:
— Aquele incidente também ajudou a bater o pênalti (contra o Botafogo). Eu tinha uma lista do primeiro ao 23º. Alguns tinham saído, eu fui escalando assim: os acostumados a bater, batem melhor, Vegetti, Rayan, se o Coutinho estivesse iria bater... Eles falaram que estavam bem para bater e fui colocando. E o Robert Renan foi o único que não tinha falado. Mas ele estava pronto para bater. Eu já tinha quatro, falei: "Robert, você bate o quinto". E ele: "Está certo".
Alívio para Robert Renan. Alegria em dobro para a família do zagueiro, "inteiramente vascaína", como revelou o jogador na coletiva de apresentação. Festa para toda a torcida do Vasco, que comemora demais a classificação para as semifinais da Copa do Brasil.