Futebol

A volta de Roberto Dinamite, há 40 anos

Roberto Dinamite é o maior ídolo da história do Vasco – status ratificado nesta semana em enquete no GloboEsporte.com. Por muito pouco, no entanto, não teve sua trajetória em São Januário “manchada” por uma transferência para o maior rival.

Em 1980, ele esteve a um passo do Flamengo e chegou a falar como jogador rubro-negro. Pressionado, o Vasco, através de Eurico Miranda, atravessou a negociação e repatriou seu maior ídolo. Há exatos 40 anos, em 4 de maio daquele ano, Roberto voltava ao Maracanã com a camisa cruz-maltina, em uma das maiores atuações de sua carreira. Fez cinco gols contra o Corinthians.

É a história desse jogo, com o contexto da disputa nos bastidores entre Vasco e Flamengo e depoimentos de protagonistas da negociação, que recordamos hoje, no aniversário de 40 anos de uma das maiores atuações individuais que o Maracanã viu.

Em 1980, Vasco goleia o Corinthians por 5 a 2 no Maracanã, com cinco gols de Dinamite

Pré-contrato com Flamengo, e chapéu do Vasco

Após quase dez anos como profissional do Vasco, Roberto Dinamite foi negociado com o Barcelona no fim de 1979. Chegou com status de craque, marcou dois gols na estreia, mas perdeu espaço por conta da troca de treinador no clube catalão. Sem jogar, foi procurado pelo Flamengo para retornar ao Brasil. O então presidente rubro-negro Márcio Braga foi à Espanha, assinou um pré-contrato com o clube catalão e praticamente concretizou a negociação.

- O Roberto deve chegar ao Brasil na próxima segunda, acompanhado de um dirigente do Barcelona – disse Márcio Braga, na ocasião.

Por telefone, à TV Globo, Roberto confirmou a negociação avançada e praticamente falou como jogador rubro-negro.

- Posso até antecipar a viagem, dependendo da conversa que terei com o presidente do Barcelona. Faltam poucas coisas para acertar, e assim posso regressar ao Brasil o mais rápido possível. Quanto mais craques, melhor para a equipe. Que eu possa brilhar, dar alegrias e marcar os gols que a torcida do Flamengo tanto espera. Claro que com a colaboração de Zico, Carpegiani, Adílio e todos jogadores – disse Dinamite, na ocasião.

O acerto caiu como uma bomba em São Januário. Procurado antes, o Vasco não havia demonstrado interesse. A prioridade era receber o que o Barcelona ainda devia pela compra de Roberto há alguns meses. No entanto, pressionado pela proximidade do acerto entre Roberto e o rival, o presidente Olavo Monteiro de Carvalho enviou Eurico Miranda a Barcelona para atravessar a negociação. O coração vascaíno pesou, e Dinamite acabou retornado a São Januário.

Márcio Braga: "Foi um escândalo no Rio"

Presidente do Flamengo na época, Márcio Braga relembra a negociação, em depoimento ao GloboEsporte.com.

"Naquele momento, o Flamengo precisava de um centroavante. Era o pedido do (Cláudio) Coutinho. Tentamos pegar Bira, do Remo. Mas o Remo não cedeu o jogador que estava nas finais do campeonato estadual. Outro jogador indicado era o Nunes, que estava no México (Monterrey). Fomos atrás dele, mas foi complicado.

Foi aí que o almirante Heleno Nunes nos alertou que o Barcelona ainda não havia pago pelo Dinamite. Fui verificar, era verdade. No dia que fechamos com o Nunes, peguei o avião e fui pra Barcelona comprar o Roberto. Um grande empresário da época, Elias Zaccour, foi me encontrar na Espanha para me ajudar junto à direção do Barcelona. Ficamos hospedados no hotel do vice de finanças do clube, Juan Gaspar, que anos depois veio a ser presidente do Barcelona (2000 a 2003). Ali começou a negociação.

O Roberto foi muito simpático e correto. A mulher dele na época (Jurema) foi importantíssima na vida do Roberto. Ela me ajudou muito. Ela queria tirar o Roberto de lá. Ela via a tristeza que ele estava, abatido. No dia chegamos a Barcelona, fomos a um jogo na tribuna de honra. O Roberto saiu na metade do primeiro, com 30 minutos. Ele era um ídolo aqui e não era nada lá.

Queríamos trazer o Roberto para o Flamengo. Ele topou. Mas tinha um grande problema: 700 mil dólares (risos). O Roberto já tinha recebido a parte dele na negociação com o Barcelona, mas o Vasco nada. Eles tinham que pagar os 700 mil dólares para o Vasco.

A verdade é que não tínhamos dinheiro. Aí disse que iria embora para o Brasil. Arrumei as malas e fui para o aeroporto. Quando chego lá, quem encontro? O Juan Gaspar (Barcelona), sua secretária e uma máquina de escrever. Fizemos ali mesmo no aeroporto um pré-contrato. Ficou fechado. Voltei para o Brasil para conseguir o dinheiro.

Mas foi aí que o (radialista) Washington Rodrigues montou uma fita narrando um eventual gol do Roberto com passe do Zico no Maracanã. Isso foi um escândalo no Rio de Janeiro. O torcedor do Vasco enlouqueceu (gargalhada).

O Vasco entrou na jogada, meu grande amigo Olavinho Monteiro de Carvalho (então presidente do Vasco) me ligou. Eu disse que estava fechado com Roberto, até brinquei e pedi dinheiro emprestado. Ele mandou na hora o Eurico Miranda para Barcelona e fecharam a contratação. O Vasco não recebeu nada pela venda do Roberto e ainda teve que pagar alguma coisa. A história foi essa"

Dinamite: "Minha volta começou no interesse do Flamengo"

Dinamite recordou a passagem pelo Barcelona e a negociação com Flamengo. Em seu depoimento, ele reforça que só retornou ao Vasco por conta do interesse do rival.

"Cheguei ao Barcelona, comecei bem, mas teve troca de treinador. O cara (treinador Helenio Herrera) só queria que eu treinasse. Naquela época só podiam jogar dois estrangeiros por clube. Não aconteceu. Minha volta ao Vasco começou a partir do interesse do Flamengo. O Marcio Braga foi a Barcelona para me contratar.

Em um primeiro momento, o Vasco não demonstrou interesse na volta, mas no Brasil começou uma pressão grande. Foi um fim de semana inteiro, todo mundo falando disso. E eu no meio da confusão.

Com a pressão do torcedor, o Vasco mudou de ideia, me ligou, entrou em contato com o Barcelona e mandou o Eurico Miranda para Espanha. Eles conversaram e a decisão de voltar para o Vasco foi minha.

Naquela época, o jogador tinha outro tipo de relação com o clube. O cara pensava em ficar a carreira no clube. Quando sai para o Barcelona já tinha 10 anos de Vasco. Era diferente, mexia comigo. O mercado era outro. Foi difícil sair do Vasco. As decisões eram mais baseadas no coração. Eu comecei no Vasco com 14 anos. Isso teve um peso grande na decisão.

Poderia ter jogado naquele time da década de 80 do Flamengo? Poderia. Daria certo no Flamengo? Talvez. Mas tinha algo maior na minha decisão. Sinceramente, priorizei voltar para o Vasco.

Brinco com Zico até hoje. Ele brinca que eu deveria ter ido para o Flamengo, e eu digo que ele deveria ter jogado no Vasco. Muito legal, nos falamos sempre. Fomos contemporâneos no juvenil, começamos juntos no profissional. Tínhamos uma rivalidade enorme em campo. Mas nunca tivemos nenhum atrito e temos uma amizade muito legal até hoje. Conversamos muito sobre futebol. Era uma rivalidade enorme, mas a amizade ficou acima disso"

Jogo para história no Maracanã

Poucos meses após ser negociado com Barcelona, Dinamite estava de volta ao Vasco nos braços da torcida. Foi recebido com festa no aeroporto. A reestreia aconteceu em jogo na Venezuela, pela Libertadores. Mas o reencontro com a torcida, e jogo que entrou para a história, foi o seguinte, em 4 de maio de 1980, contra o Corinthians, no Maracanã.

Naquela noite, Dinamite acabou com qualquer dúvida que o torcedor poderia ter, após passagem apagada pelo Barcelona. Marcou todos os cinco gols do Vasco e mostrou que voltou para fincar de vez seu nome na história do clube.

- Fazer cinco gols contra o Corinthians, que tinha um time do c..., foi muito bacana. Foi a única vez que fiz cinco gols, que eu me recorde. É a magia do futebol. Voltei para o Brasil como uma interrogação, pois não fui bem no Barcelona. Aí volto contra o Corinthians, no Maracanã, com um público enorme (cerca de 107 mil pessoas) e marco cinco gols. Guardo esse jogo com muito carinho. Foi uma das minhas grandes atuações. Até porque foram gols bonitos - recorda Roberto.

O curioso é que, justamente o Flamengo, que havia tentando sua contratação, fez a preliminar contra o Bangu, naquela noite. Parte da torcida permaneceu para o jogo do Vasco, e alguns rubro-negros levaram faixas “Fla-Fiel”. Não deram sorte, mas presenciaram uma das maiores atuações individuais que o Maracanã já viu. Um verdadeiro show de Dinamite, fiel à Cruz de Malta e ao doce hábito de fazer gols.

Fonte: ge
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