O gramado sintético é um ponto de tensão no futebol brasileiro. Recentemente, Flamengo e Palmeiras entraram em rota de colisão sobre o assunto. E o número de gramas "não naturais" pode dobrar na próxima edição do Campeonato Brasileiro.
Entre clubes que sobem da Série B, novas instalações e reformas, o gramado sintético seguirá ainda mais em pauta na liga nacional. O UOL ouviu especialistas e apurou detalhes sobre os próximos passos.
Novos gramados sintéticos no Brasileirão?
Atlético-MG, na Arena MRV, Botafogo, no Nilton Santos, e Palmeiras, no Allianz Parque, já adotam o gramado sintético. O mais recente foi o Galo.
O número pode aumentar por causa dos clubes que subiriam à Série A. Athletico-PR e Chapecoense estão no G-4 com duas rodadas antes do fim da segunda divisão e contam com gramados sintéticos em seus respectivos estádios.
Outro fator que entra na equação é o Vasco da Gama. São Januário, casa do Cruz-maltino, tem gramado natural, mas passará por reformas ao longo das próximas temporadas.
Dessa forma, a diretoria do Vasco alinhou um acordo com o Botafogo para atuar no Nilton Santos. O acordo vale para meados do primeiro semestre de 2026 e prevê R$ 250 mil por partida de aluguel.
O Vasco, inclusive, tem o desejo de instalar a grama sintética em São Januário, segundo apurou o UOL. A questão, no entanto, ficaria apenas para depois da reforma.
Dessa forma, o Brasileirão sairia de três para seis clubes atuando em gramados sintéticos na próxima edição, caso as previsões iniciais se concretizem.
Embate entre Flamengo e Palmeiras
Recentemente, o Flamengo publicou uma nota, na qual expressou o desejo de acabar com os gramados sintéticos no Brasil. O argumento do clube carioca é de que a grama "não natural" traz desequilíbrios.
"Os gramados de plástico devem ser eliminados imediatamente de todos os torneios nacionais profissionais. A discrepância nos custos de manutenção entre gramados naturais e artificiais provoca desequilíbrios financeiros entre os clubes e prejudica a saúde física de jogadores e atletas", escreveu o Flamengo.
O Palmeiras, um dos clubes que atua com a grama sintética no seu estádio, se opõe à proposta. É mais um capítulo dos embates entre as equipes que dominam o futebol brasileiro nesta temporada.
Diferenças entre a grama natural e sintética
Para entender melhor como funciona a grama sintética, o UOL ouviu Lucas Pedrosa, engenheiro agrônomo e sócio da Greenleaf, empresa especialista na instalação de gramados no Brasil.
A empresa é responsável pelos campos de Maracanã e Mineirão, ambos naturais, mas também já participou dos processos de grama sintética no Nilton Santos, por exemplo.
Na visão de Lucas, não há um consenso formado para escolher entre a grama natural e a sintética, embora os gramados propriamente ditos tragam sensações mais "vivas" do jogo.
Tudo passa pela questão da estratégia que determinado clube deseja implementar no seu estádio. O gramado sintético é bem mais prático.
"Cada estádio tem sua realidade: condições climáticas, quantidade de jogos, arquitetura e tipo de eventos paralelos. O sintético resolve problemas práticos, mas não substitui a sensação e performance da grama viva. Por outro lado, o natural precisa de tempo, investimento e estrutura para se manter em alto nível", disse o especialista.
Esse é o ponto central da discussão: como oferecer sempre um gramado de qualidade, independentemente do tipo? A resposta passa por planejamento, investimento e inovação. Com um modelo de gestão moderna, uso de tecnologia e soluções criativas como a turf farm, o futebol brasileiro pode continuar apostando no natural, sem abrir mão da qualidade.
Lucas Pedrosa, sócio da Greenleaf
A discussão entre o gramado natural e o sintético ainda deve permear o futebol brasileiro pelos próximos anos.
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