Fernando Diniz e o Vasco formam neste momento um casamento perfeito. Se o treinador conseguiu devolver minimamente a auto-estima do torcedor e a perspectiva de sonhar alto na temporada, o clube também está permitindo que Diniz retome sua trajetória no patamar mais alto entre os treinadores brasileiros. Todos lembram que o estilo autoral e especialmente o pioneirismo da construção de jogo a partir do goleiro (hoje todo mundo faz isso) provocaram a ira de torcedores e jornalistas conservadores. O título da Libertadores com o Fluminense em 2023 parecia ter tornado Diniz indiscutível. Mas veio a Seleção brasileira... O trabalho de Diniz leva tempo para ser assimilado e bem executado pelos times, e não há paciência para isso em seleções. No Cruzeiro, o momento instável com uma SAF ainda com espírito torcedor também inviabilizou o trabalho. E aí os haters voltaram com força. Agora, Diniz volta a ser inquestionável em um trabalho que está longe de ser simples.
É impossível - ou intelectualmente desonesto - dissociar o excelente momento do time do Vasco do trabalho de Diniz. Mesmo com o argumento legítimo de que o clube fez uma boa janela de contratações, eu lembro que desde que voltou à elite do futebol, o Vasco foi outras vezes ao mercado, contratou até bons jogadores, mas o time não aconteceu. E este acontece porque o treinador consegue tirar o máximo de cada um. E com o individual no melhor limite, o coletivo se ajusta. O Vasco hoje é respeitado pelos adversários. Ninguém sai com tudo para atacá-lo como há uma dezena de rodadas. O time eliminou o Botafogo (atual campeão brasileiro e continental) na Copa do Brasil e contra os finalistas da Libertadores, empatou com o Flamengo (duas vezes) e perdeu do Palmeiras no Allianz Park, normal, com o Verdão deixando litros de suor em campo.
Quem duvida do que faz Diniz tente lembrar do que eram alguns jogadores antes da chegada dele. Diniz transformou um Rayan promissor numa realidade que hoje pode pensar em Premier League. PH era um lateral que disputava posição com Pumita Rodriguez, e hoje sonha com Copa do Mundo no time de Carlo Ancelotti. Esse crescimento individual propiciou, entre outras coisas, que o Vasco deixasse de ser o time de uma nota só - bola em Piton ou PH, e centro para Vegetti, que é tão bom que muitas vezes resolvia. Agora, o time tem saída de bola, Nuno achou seu espaço e, com Rayan, divide as atenções da marcação adversária para que Coutinho, enfim, pudesse ser o jogador que a torcida sempre esperou: criativo, decisivo. E Vegetti continua importante, mas o Vasco não é mais refém dele, dependendo do adversário Diniz pode até entender ser melhor jogar sem ele na referência em troca de um time mais móvel.
Obviamente o Vasco não é só ataque. E obviamente agora o time tem melhores jogadores de marcação do que tinha quando Diniz chegou. Carlos Cuesta, por exemplo, defende a seleção da Colômbia desde 2019, se é importante para uma seleção desse porte, imaginem para um clube. Mas Diniz montou uma engrenagem defensiva em que a última linha está mais protegida - portanto, mais confiante e segura. O time não depende tanto da proteção de Hugo Moura, que antes tinha um campo enorme para cobrir, mais do que ele era capaz. Hoje ele pode jogar com Barros, ou Tche Tche, ou começar no banco, porque quem jogar sabe exatamente o que fazer.
Não é um time perfeito, pode não ganhar a Copa do Brasil, pode não se classificar à Libertadores. Mas sonhar com ambos os objetivos é absolutamente possível e legítimo aos vascaínos. Casamento perfeito não conheço, mas o de Diniz com o Vasco pode estar entre os inesquecíveis. Que dure muito. O treinador merece, o Vasco muito mais.