Sem vencer há quase dois meses, o Vasco colecionou mais um roteiro frustrante - e até perverso - na derrota por 3 a 2 para o Mirassol neste sábado. Mais uma vez o "quase" permeou o enredo de uma partida que chegou a encher o torcedor de esperanças para uma possível virada e uma reação para dar a primeira vitória de Fernando Diniz desde o fim da pausa para a Copa do Mundo de Clubes.
Mas basear-se apenas em chances criadas para avaliar o sétimo jogo sem vitórias seria, no mínimo, imprudente. O Vasco está à beira do Z-4 e pode voltar ao grupo dos quatro últimos do Campeonato Brasileiro ainda nesta rodada, a depender dos resultados de Santos e Fortaleza.
E, mais uma vez, o que determina o resultado em si são os erros individuais. Todos os três gols do adversário saíram a partir de falhas da defesa - algumas grotescas - que custaram muito caro. No entanto, a situação do Vasco na competição e a perspectiva do futuro próximo perpassam camadas muito além de simples erros no campo. A culpa vai dos jogadores até a diretoria. Da montagem do elenco ao planejamento.
No fim, quem sofre verdadeiramente é o torcedor, que ainda encararia na cidade de Mirassol um roteiro perverso. A equipe sairia de uma derrota quase consumada com uma grande reação para empatar, teria chances até para virar, e, no fim, sofreria com mais uma falha defensiva, a principal deficiência do time em 2025.
As escolhas de Diniz
Como esperado, Diniz manteve a espinha dorsal do time e promoveu a volta de Coutinho. A intenção era óbvia: dar maior qualidade técnica a um meio-campo dependente dos lampejos de criatividade do camisa 10 para um jogada diferente. O escolhido para deixar o time titular foi David, que vinha de sequência de boas atuações após lesão e se notabilizou por ser capaz de dar maior explosão e velocidade a um setor ofensivo de poucas alternativas.
Desse modo, o quarteto ofensivo foi formado pelas figurinhas já carimbadas na memória do torcedor vascaíno em 2025: Coutinho, Rayan, Nuno Moreira e Vegetti. O Vasco até fez um bom primeiro tempo, mas esbarrava em uma grande e já conhecida dificuldade: a intensidade.
Com o camisa 10 pouco inspirado e Nuno Moreira cometendo mais erros do que o comum, o Vasco dependia de Rayan para arriscar. Vegetti, por sua vez, foi mais uma vez exposto no estilo de jogo de Fernando Diniz. A equipe teve maior posse de bola, rondava a área do Mirassol, mas o argentino destoava do restante do setor ofensivo com o pouco refino técnico para dar sequência às jogadas pelo chão. Pelo alto, foi bastante encaixotado e não teve chance para marcar.
Assim, com um centroavante de pouca mobilidade, e os cruzamentos sem eficiência, o Vasco se tornava previsível e sentia a falta de alguém capaz de realizar uma ultrapassagem ou capaz de abrir espaço na zaga postada do time paulista. E David poderia ser justamente essa alternativa.
Mas Diniz novamente preferiu repetir o modelo de escalação que não vencia um jogo desde antes da pausa para a Copa do Mundo de Clubes. E, assim como o roteiro dos jogos anteriores, o Vasco até criou para marcar na primeira etapa - a principal delas com Hugo Moura, livre, dentro da área - mas esbarrou mais uma vez na falta de eficiência para abrir o placar.
O Vasco escala uma montanha para cair no fim
Se o resultado no primeiro tempo não veio pela falta de pontaria, desmoronou pelo lado psicológico e pelos erros na etapa final.
O Mirassol voltou do intervalo em rotação bastante superior ao Vasco. Depois de um gol bem anulado, os donos da casa chegariam ao 2 a 0 no placar em dois erros da defesa. Primeiro, Fuzato deixou bola passar por baixo do braço em chute de fora da área sem tanta dificuldade de Negueba. Depois, foi a vez de Lemos errar saída de bola e dar contra-ataque de graça para Chico da Costa balançar as redes em lance que parecia treino de tão fácil para finalizar.
O Vasco, porém, mostrou reação para escalar a montanha e superar os próprios erros. Chegou ao empate com a participação de seus laterais. Puma Rodríguez marcou o primeiro e deu assistência para Vegetti empatar; e Lucas Piton participou das duas jogadas com ótimos cruzamentos.
A equipe se reconsolidou psicologicamente e foi em busca da virada. Quase. Vegetti teve chance em cabeçada, e Rayan finalizou de fora da área nas mãos de Walter, quando dois companheiros apareciam em melhores condições para o arremate.
E, novamente, foi punido com erros. Justamente dos laterais que haviam impulsionado a reação vascaína. Mais um elemento para o roteiro perverso que assola o Vasco. Lucas Piton perdeu disputa com Carlos Eduardo, e Puma Rodríguez não percebeu Alesson avançar em suas costas. O atacante completou cruzamento rasteiro completamente livre e fez o gol da vitória.
Agora, o Vasco precisará mudar a chave para um confronto decisivo pela Copa do Brasil. Após o empate em 0 a 0 na ida com o CSA, o time decidirá a vaga na próxima quinta-feira, em São Januário. Uma possível eliminação em casa - logo após a queda vexatória na Copa Sul-Americana para o Del Valle - tornará a pressão para os jogadores e para a diretoria à beira do insustentável na missão para evitar mais uma queda no Brasileiro.