Há dias em que os astros do futebol se alinham e permitem ao torcedor viver os sentimentos mais sublimes. Para os vascaínos, ontem foi um desses dias. O placar bastaria: 6 a 0 sobre o Santos no Morumbis, o mais elástico do clube no Brasileirão em 24 anos. Mas dias históricos vão além dos números. O que se viu foi uma atuação irretocável, a melhor sob o comando do técnico Fernando Diniz, que permitiu ao time deixar a zona de rebaixamento e acreditar em um futuro mais nobre.
Muitos foram os momentos em que o Vasco de Diniz pareceu de mal com a sorte, acumulando resultados por vezes cruéis demais para seu desempenho. Ontem, por outro lado, tudo o que poderia dar certo... deu. O primeiro sinal foi o gol de Piton para abrir o placar após cruzamento de Nuno Moreira ainda aos 18 minutos. Mas o recital estava reservado mesmo para a segunda etapa, com pinturas de David, de primeira, Coutinho e Tchê Tchê, ambos de cavadinha. O camisa 10 também marcou uma vez graças ao seu bom posicionamento na área, e Rayan foi eficiente ao converter pênalti cometido por Souza, que deixou o braço muito aberto na área.
— A gente não fez isso só hoje (ontem), a gente tem feito isso em muitos jogos, mas não estava aproveitando as chances criadas, e acabava sofrendo o empate e, às vezes, a derrota. Depois do terceiro gol, o jogo ficou mais claro, os jogadores têm uma dose maior de confiança e de prazer, e o jogo flui de forma diferente — analisou Diniz, ovacionado pela arquibancada no apito final. — A torcida gritar o meu nome é um motivo de muita alegria. Um dos motivos de voltar (ao clube) é o gosto que tenho de estar no Vasco e o carinho que tenho com eles.
Se a atuação inspirada serviu para reforçar a convicção no trabalho de Diniz, o resultado teve o efeito oposto no time adversário. Poucos minutos depois da goleada em que os jogadores se mostraram desnorteados, o Santos anunciou a demissão do técnico Cleber Xavier. Foram apenas 15 jogos no cargo, com cinco vitórias, quatro empates e seis derrotas. A diretoria do Peixe tem como principal alvo o argentino Jorge Sampaoli, de passagem bem-sucedida pela Vila Belmiro entre 2018 e 2019.
Quem não vai embora, mas precisará administrar novas feridas é o ídolo Neymar. Ao fim de uma semana em que muito se falou sobre seu reencontro com o amigo Philippe Coutinho, não há dúvidas de quem se saiu melhor. O ídolo vascaíno fez sua partida mais eficiente desde o celebrado retorno a São Januário — e não apenas pelos dois gols.
Já Neymar pareceu um jogador comum, incapaz de injetar qualquer virtude em um conjunto apático. Às vésperas do iminente retorno à seleção brasileira, o craque teve como cena mais marcante o choro ao deixar o gramado — os 6 a 0 do Vasco foram a maior derrota de toda a sua carreira.
O desempenho irretocável cria um dilema para Diniz. Sem Vegetti, a dinâmica ofensiva do Vasco apresentou sua melhor versão. Mas o treinador terá tempo para refletir até a partida contra o Juventude na quarta-feira. Por ora, vale mais a pena desfrutar do sublime.