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André Mazzuco: "O Vasco não pode andar pra trás"

Apresentado pelo Vasco no dia 3 de junho, André Mazzuco passou longe de ter aceitação de grande parte da torcida nas redes sociais. Muito pelo contrário: foi contestado. Com passagens por Coritiba, Paysandu, RB Brasil e Paraná, o diretor de futebol cruz-maltino de apenas 40 anos, portanto, chegou ao clube de peito aberto às críticas. Iniciava, ali, sentado ao lado de Alexandre Campello na sala de imprensa de São Januário, o maior desafio da carreira.

Em um Vasco em meio a uma enorme crise financeira, técnica e política, com salários atrasados e diversas arestas a serem aparadas, André Mazzuco poderia, inclusive, sequer ter completado uma semana no cargo. No mesmo dia, à noite, Campello, na mira do Conselho Deliberativo, estava pronto para renunciar à presidência, mas não o fez.

- Por mais que a gente tenha uma garantia contratual, era um risco. (...) Chegou uma hora em que precisei arriscar. Que impacto teria André Mazzuco no Vasco, vindo do Paraná? Eu tinha um contexto desfavorável, mas, ao mesmo tempo, isso me dava um pouco mais de tranquilidade para trabalhar. Eu realmente acreditei no Campello, pois é um cara que pensa em fazer coisas para o Vasco, é uma pessoa de nível, é um médico... Passando algumas barreiras políticas, ele vai trazer coisas boas para o Vasco. Acho que o cenário estava voltado para dar certo. A vida é feita de convicção, com risco ou sem risco - disse Mazzuco, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com.

Hoje, contamos com um treinador de ponta e que tem muito para agregar ao clube. Analisando tudo, é o momento em que o Vasco não pode andar para trás. As pessoas estão conscientes disso e que precisamos buscar soluções.

 

A partir de então, iniciou-se o trabalho, de fato, de André Mazzuco como diretor de futebol do Vasco. O executivo, que iniciou a carreira como professor em uma escolinha até chegar à preparação física do Paraná, tem no currículo um doutorado em Desporto Jovem em Coimbra, Portugal, um mestrado e um curso superior em Educação Física na Universidade Federal do Paraná, e uma MBA, também na UFPR, em Gestão Esportiva.

Toda a experiência de campo e todos os estudos precisaram ser colocados em prática num dia a dia conturbado - era justamente o grande objetivo de Mazzuco. Independentemente disso, o diretor de futebol quer deixar um legado - e ficar "muito tempo" no Vasco. Por isso, tenta, enquanto apaga incêndios, criar algo para o futuro, que eleve o patamar do Cruz-Maltino.

Entre um fogaréu e outro, Mazzuco troca cerca de 300 mensagens por dia com empresários, dirigentes e a família, claro. Ao mesmo tempo, tenta abraçar tudo o que pode no Vasco. Trabalha mais do que as horas em que está no clube, até porque esposa e filho estão em Curitiba. O lazer, para o diretor, tem sido se debruçar em negociações e, digamos, extintores.

- Precisamos deixar um legado no clube. Já fiz reuniões com o pessoal da base, que funciona muito bem sob comando do Carlos Brazil. O profissional é o último degrau da formação e precisamos estar juntos. Temos que pensar grande e buscar nosso equilíbrio. Apagar incêndio não vai acabar. Como gosto de dizer, incêndio consome, mas você não pode ser consumido. Sempre vai ter incêndio para apagar, mas preciso me disciplinar para trabalhar outras coisas - explica.
 

Em um papo longo com o GloboEsporte.com, de 47 minutos, André Mazzuco passou a limpo a carreira, até então desconhecida de muitos, disse aceitar a rejeição, mas mostrou empenho para ajudar a tirar o Vasco da constante crise. Falou, também, de reforços e da possível saída de jogadores:

GloboEsporte.com: Queríamos que você relembrasse a chegada ao Vasco, numa semana conturbada, com tudo conspirando contra...

- Para mim foi uma decisão importante. Saí ano passado do Paysandu e fiquei um mês nos Estados Unidos. Minha intenção era retomar a vida em Curitiba. Estava tudo organizado. Passamos por um momento difícil inicial no Paraná. Sabíamos que não colheríamos resultados imediatos. Quando surge um Vasco da Gama... O Vasco é um dos gigantes do Campeonato Brasileiro. Independentemente do momento, é uma oportunidade para mim.

- Sabedor do cenário político e financeiro, sabedor do momento técnico em que passávamos, mas precisamos fazer análise de perspectiva. Primeiro que você não ser conhecido sempre gera uma rejeição, mas você tem que encarar como uma vantagem. Você tem respaldo de pessoas que trabalham no futebol. Por isso, cheguei aqui. Chegou meu nome no Campello e chegamos a um acerto.

GE: No dia a dia, em um clube com problemas financeiros, como é o seu trabalho? Você faz reuniões? Procura conversar com os jogadores, aparecer sempre?

- A questão do aparecer é relativo. Para os jogadores, hoje a figura mais importante para eles é a do treinador. Meu trabalho é fora do campo e meu aparecer é para tentar trazer equilíbrio para as situações fora de plumo, tentar trazer respostas para eles das questões institucionais. Só que, ao mesmo tempo, você tem que ter coisas concretas. Não adianta fazer um discurso diferente. Minha maneira de operar é sempre individual, converso, estou nos treinos...
 

- O futebol mudou, também. Aquela política de pé na porta não existe, hoje os jogadores estão mais antenados às coisas. Hoje é muito mais uma troca. Os atletas precisam saber que têm o respaldo do clube, uma sinceridade, transparência e entenderem o que precisam nos dar em troca. Um relação de confiança. Quando não tiverem confiança, a pessoa do diretor perde sentido.

GE: Como é o trabalho com o Luxemburgo, um treinador muito experiente, no dia a dia?

- Para mim é uma experiência muito interessante e sei que para ele também, porque é um treinador renomado, que ganhou tudo, trabalhou fora do Brasil, rompeu barreiras e são coisas que ninguém tira. Sempre digo que não existe experiência ruim na vida, e na minha função eu tenho várias. Trabalhei com o Alberto (Valentim), o levei para o RB Brasil. Vamos aprendendo um pouco com cada um.

- O Vanderlei vem de uma geração em que não existia esse papel do executivo, então existe um tempo para esse entendimento. Agora, ao mesmo tempo, entendemos que hoje é uma equipe que cada tem um papel importante. O Vanderlei é fundamental para o processo do cube, um cara que ninguém pode falar que mentiu e tem crédito com todos. Os atletas têm uma segurança grande nele. Minha relação é muito boa. Cada um no seu grau de importância. Ele tem total competência.

GE: E como funciona o processo de conquista de confiança, num momento conturbado, de dificuldade financeira...

- Quando você tem uma situação financeira desfavorável, a expectativa é muito grande. A partir do momento que não cumpre os compromissos está errado. Nós já estamos errados, independentemente da situação. Agora, nós temos um problema e precisamos buscar soluções Dentro dessa expectativa, às vezes as soluções chegam. Por razões inesperadas não acontecem, como aconteceu no jogo contra o Ceará. Não foi culpa do Vasco, mas de processo. Foi uma situação à parte e ninguém esperava. É frustrante. Nunca prometa nada que não possa cumprir. Tivemos todos os cuidados para avisar e não aconteceu. Temos uma condição de uma nova quitação em um prazo que já temos. Hoje todos os atletas entendem os esforços e não houve uma quebra. Há insatisfações, é claro, mas não comprometem no dia a dia.

(Nota da redação: recentemente, o Vasco não cumpriu uma promessa de pagar salários ao elenco, mas já acertou a dívida).

GE: Conta um pouquinho da sua experiência para chegar até o Vasco...

- Eu estava muito preparado para a rejeição, sabendo da importância do trabalho, de profissionais que passaram por aqui com um histórico grande. As redes sociais são pequenos fragmentos e geram uma cadeia de opiniões. Sou preparado para entender minha posição no mercado. Eu tenho 40 anos, iniciei a carreira como preparador físico do Paraná. Comecei na escolinha, fui para a base e depois cheguei ao profissional. Na verdade, fiz faculdade de Educação Física para trabalhar com futebol, que era meu o meu objetivo de vida. Era a ovelha negra da família.

- Minha família era de classe média baixa. Fiz inglês e virei professor. Fazia faculdade de manhã, estagiava à tarde e dava aula de inglês à noite. Quando me formei, fui contratado. Chegou um momento no Paraná em que eu queria seguir minha vida acadêmica. Surgiu uma oportunidade de fazer um mestrado em fisiologia. Passei em terceiro lugar e ganhei uma bolsa da Capes, que não permitia trabalhar. Quando terminei, recebi um convite para um mestrado em Portugal, vendi meu carro e fui. O dinheiro deu para a passagem e os dois primeiros meses, depois acabei morando na casa do meu professor, ajudando nos filhos.

- Voltei no fim de 2007 para avisar à minha família que ficaria em Portugal. Mas teve uma eleição no Coritiba e as pessoas que entraram queriam um coordenador para a base que fosse acadêmico. Uma das pessoas tinha sido aluno meu na escola de inglês e me chamou. Acabei me interessando para desenvolver algumas coisas. Entrei em 2008 e fiquei até 2013 na base. Entrei para ser chefe do Dirceu Krigger e do Sérgio. Viraram meus grandes amigos. Reformulamos a base. Ganhamos Taça BH, Dallas Cup... Os torneios internacionais convidam os grandes, e conseguimos colocar o Coritiba nas competições e ganhamos.

- Em 2013, na final do Brasileiro, tem uma crise geral e todos foram mandados embora. O Tcheco era auxiliar e assumiu o profissional e eu também subi. Tínhamos três jogos para fugir do rebaixamento, precisando de 7 pontos. Inter fora, Botafogo em casa e São Paulo fora. Tiramos alguns atletas... Empatamos com o Inter, ganhamos do Botafogo em Curitiba e fomos para enfrentar o São Paulo. Nós ganhamos de 1 a 0 e escapamos do rebaixamento.
 

- Aí começa minha vida no profissional. Em 2014, nossa folha era a 19ª do campeonato para não cair mais uma vez. Escapamos. Em 2015, mesmo cenário e passamos.... No fim de 2015, recebo uma proposta do RB Brasil. Vinha um pessoal da Áustria, gostei da brincadeira e na quinta etapa já estava sendo contratado. Eu era o Mazzuco do Curitba e não duraria para sempre lá. Foi difícil, porque minha esposa estava grávida. Em 2017, mudou o escopo do clube e acabei saindo.

- Surgiu o Paysandu na minha vida. Precisava conhecer a Série B, o pessoal do clube era muito sério. Já tinham feito um convite. Quando soube que eu tinha saído do RB, o presidente me ligou. Belém tem três grandes tesouros: a culinária, uma natureza diferente e as pessoas. Não tive como dizer "não". Organizamos o clube profissionalmente. Depois da eleição, acabei saindo, pois já tinha um desgaste interno. Voltei para ficar em Curitiba, passei um mês nos EUA, e voltei para o Paraná. Para mim, o Vasco é minha grande chance da carreira. Chego jovem, mas preparado... Minha vida foi focada para esse momento.

GE: falando de Vasco. Quais são as necessidades para o restante do Campeonato Brasileiro? Ainda pode chegar mais algum reforço, além de Marquinho e Richard? Alguém deve sair?

- Ainda estamos atrás de um atleta. A vinda do Marquinho e Richard foi uma coisa pontual. Devemos trazer mais um atleta para incorporar o grupo. Nosso elenco é bom, tem qualidade e não é para brigar lá em baixo. Eles sabem disso. Tem algumas situações de atletas com a abertura da janela, houve o empréstimo do Gabriel (Félix), o Luiz Gustavo tem situação. O Vasco não tem proposta oficial por ninguém. Não sou de contar história. Tem muita sondagem.
 

GE: Quem deve chegar é para o ataque?

- Nossa intenção é essa... Hoje só temos o Tiago e o Ribamar. Nossa intenção é um camisa 9. Tem conversas adiantadas. Intenção é definir o mais rápido possível para adaptação.

GE: Nessa época de sondagens, ofertas, procuras... Quantas ligações você recebe por dia? E mensagens?

- Não são tantas ligações depois que inventaram o WhatsApp. Durante nossa conversa, recebi 35 mensagens (risos). Por dia, devem ser umas 300. É uma ferramenta dinâmica, mas tem esse inconveniente. As pessoas acham que você tem que responder imediatamente. Se for urgente, dá uma ligadinha. Não deixo de atender ninguém.

GE: Fora de campo e do clube, o que você gosta de fazer?

- Sou totalmente família. Minha esposa voltou a trabalhar em Curitiba, meu filho tem três anos e minha ideia é trazê-los para cá. Meu programa é de interior, de roça... Estou em uma fase diferente. Até porque a gente vive intensamente, meu lazer é trabalhar e quando acaba fico com minha família. Trabalho umas 18 horas por dia (risos). Mas é natural. Ontem meia-noite estava falando com o André, nosso gerente. Uma das coisas que sinto falta e não poder na sexta-feira de tarde ir para a praia, passar o fim de semana. Questão de celular está tudo bem. Minha esposa foi atleta, é técnica de futebol e entende. Estou adorando o Rio, mas ainda não fui para a praia (risos).

Fonte: (ge)
  • Domingo, 17/03/2024 às 16h00
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