João Victor foi a primeira contratação da gestão de Alexandre Mattos, diretor de futebol da SAF vascaína na “era 777”, no ano passado. Custou 6 milhões de euros (R$ 32 milhões) — valor alto, mas factível numa época em que o clube vivia o que parecia um momento de prosperidade financeira com a entrada dos investidores americanos.
Alternou entre titular e reserva sob o comando de Ramón Díaz, mas pouco a pouco se firmou e se destacou como o zagueiro mais técnico dos elencos das últimas duas temporadas, chegando a atuar até como lateral-direito. As performances, por outro lado, oscilaram.
Um ano depois, já com Pedrinho no comando do clube, um dos gatilhos da negociação junto ao Benfica irritou o novo mandatário. Sem citar João Victor, o presidente revelou que os acordos por alguns atletas previam mecanismos de bonificação aos clubes vendedores em caso de permanência na Série A.
— Eu tenho um gatilho incompatível com o mercado se o Vasco não cair. Estou falando de muita grana. Isso me aborrece profundamente — disse Pedrinho em entrevista coletiva, em julho, pouco depois de assumir o futebol cruz-maltino.
O contrato do zagueiro era um desses: o Vasco teria que desembolsar mais 1 milhão de euros (R$ 6,3 milhões, na cotação atual) ao Benfica nas temporadas 2024 e 2025 caso escapasse do rebaixamento. Algo que deve ser evitado, neste ano, com a saída do jogador.
Atritos com a torcida
Apesar dessa condição e dos altos vencimentos, João Victor sempre foi benquisto internamente. Nos últimos dias, foi blindado pelo técnico Fernando Diniz, que desejava mantê-lo no elenco.
Entretanto, a relação com a torcida desequilibrou o clima desfavoravelmente para o lado do atleta. Ao longo dos 75 jogos que fez em pouco menos de duas temporadas, João Victor foi expulso cinco vezes. As suspensões minaram a paciência do torcedor, principalmente em anos marcados por fragilidades defensivas do time do Vasco.
Fora de campo, a personalidade forte do zagueiro levou a atritos. Em fevereiro, chegou a discutir com torcedores que faziam cobranças após um empate com o Sampaio Corrêa, pelo Campeonato Carioca. O clima azedou a ponto dele ser alvo de uma lamentável ameaça à família por parte de uma torcida organizada do clube, em um protesto no centro de treinamento cruz-maltino, em julho — fato que pesou na decisão pessoal pela saída.
Nos últimos jogos, João Victor vinha sendo vaiado pela torcida a cada vez que tocava na bola. Ainda em julho, após a eliminação do Vasco na Sul-Americana, quando questionado sobre como recuperar a confiança da torcida, foi infeliz na escolha das palavras, piorando ainda mais a relação:
— Eles têm que confiar, não posso fazer nada. Têm que confiar na gente. Se não confiar, é pior para nós.
Segunda contratação mais cara da história do Vasco, o zagueiro João Victor está prestes a pôr fim à sua passagem por São Januário, depois de um ano e oito meses. Com a venda encaminhada ao CSKA Moscou, da Rússia, por cerca de 4,5 milhões de euros (R$ 28 milhões), o jogador deixará para trás uma história marcada por altos e baixos em campo, polêmicas com a torcida cruz-maltina e uma negociação — ainda que não de sua responsabilidade — muito criticada pelos valores envolvidos.