Futebol

Barbosa, 100 anos: A trajetória do goleiro que foi ídolo do Vasco

Um dos maiores goleiros do Brasil, Moacyr Barbosa faria cem anos de idade no próximo 27 de março. Ainda com a imagem ligada à derrota na Copa do Mundo de 1950, os últimos anos têm sido mais generosos com a memória dele.

A começar pelo Vasco da Gama, que tem feito homenagens recorrentes e em setembro passado batizou um dos campos do centro de treinamento de Jacarepaguá com o nome do camisa 1.

O Museu do Futebol, dentro do estádio do Pacaembu, no centro de São Paulo, prepara uma exposição para honrar o goleiro.

Mesmo entre jornalistas e pesquisadores, Barbosa já é mais citado pelos feitos do que pela suposta falha no gol de Alcides Ghiggia, o segundo dos uruguaios, que deu aos jogadores da Celeste o título mundial, no Maracanã.

Quem tem sido fundamental nessa mudança é Tereza Borba. Filha de consideração do ex-jogador, ela virou a porta-voz oficial de Barbosa desde antes da morte dele, em 7 de abril de 2000. Além de preservar a imagem do ídolo, ela luta pelo fim da injustiça contra ele.

Ano passado, quando o mundo recordou os 70 anos da primeira Copa no Brasil, ela recebeu diversos convites de entrevista. Recusou aqueles que pretendiam prosseguir o relato de que o pai falhara na decisão e fora o responsável pela derrota.

"Eu não falo sobre isso. Nem adianta. Quer falar do Barbosa? Então, vamos falar do goleiro maravilhoso que ele foi, ídolo eterno do Vasco. Quem perdeu aquela Copa foram políticos, aproveitadores e a imprensa marrom", disse Tereza à reportagem.

O trabalho dela é digno de elogios e tem ajudado a manter viva a memória de Moacyr Barbosa, mesmo 20 anos após a morte e especialmente neste ano do centenário. Há cerca de um mês, Tereza vem divulgando a data nas redes sociais.

Entre as homenagens oficiais previstas, o Vasco afirmou à reportagem que prepara uma série de ações para o ídolo. Todas serão no sábado (27). A CBF também planeja algo, mas não detalhou o que fará nem em qual momento.

É fato que a pandemia do novo coronavírus, em fase mais grave neste momento no país, virou também um obstáculo para ele ser lembrado como deveria. Mas não é desculpa para o esquecimento em Campinas, cidade onde ele nasceu em 27 de março de 1921, nem no Clube Atlético Ypiranga, de São Paulo, onde começou a jogar profissionalmente nos anos 1940.

Em homenagem ao ídolo, os canais esportivos da Disney exibem nesta sexta-feira, 26 de março, o especial “Barbosa, 100 anos de perdão”, às 15h (de Brasília), na ESPN Brasil. O programa tem a participação de Antônio Fagundes, Silvio Luiz de Almeida, Pepe, Helvidio Mattos e Aranha, e trechos inéditos de Barbosa. Será reprisado à meia-noite (dia 27), também na ESPN Brasil.

“Maior goleiro no Brasil”

Pouco se sabe dos primeiros anos de vida de Barbosa no interior de São Paulo. Apenas que nasceu na rua Major Sólon, número 27, em Campinas, filho de Emídio Barbosa e Isaura Ferreira Barbosa e tinha dez irmãos, segundo o "Museu da Pelada".

Aos 14 anos, após a morte do pai e de dois irmãos, mudou-se para a capital paulista para estudar e trabalhar. Morava com a família na rua Siqueira Campos, número 131, na Liberdade. Barbosa logo arrumou um emprego no Laboratório Paulista de Biologia.

Foi nesse momento de mudança que descobriu o amor da vida em Clotilde, uma paulistana que conheceu ainda jovem e com quem se casou em 1940. O matrimônio durou até 1997, quando ela morreu.

Mas não foi na sala de aula nem no escritório que Barbosa encontrou a verdadeira vocação. Foi nos campos de várzea, no time do Almirante Tamandaré, onde foi ponta-esquerda e goleiro. Também atuava pelo time do laboratório, onde chamou a atenção.

Um colaborador do Ypiranga conseguiu convencê-lo a jogar profissionalmente, o que ocorreu em 1941. Dois anos depois foi negociado com o Vasco por sugestão de Domingos da Guia, então zagueiro do Corinthians, que teria afirmado que aquele era o “maior goleiro no Brasil”.

“No Vasco, assim que chegou, ele foi para a reserva e teve de aguardar um tempo para jogar porque tinham seis goleiros à frente dele. Quando passou a atuar com frequência, aí não saiu mais”, disse o jornalista Helvidio Mattos, que entrevistou o goleiro duas vezes. Em 1993, para o programa “Grandes Momentos do Esporte”, da TV Cultura, e 2000, para a ESPN Brasil.

Pelo clube cruzmaltino, Barbosa conquistou seis edições do Campeonato Carioca, um Torneio Rio-São Paulo, o Sul-Americano de Clubes e o Torneio Rivadávia Corrêa Meyer, considerado sucessor da Copa Rio, embora neste último não tenha atuado como o titular.

Dos 494 jogos disputados pelos Vasco (o número tem algumas divergências), o mais especial para ele foi o que decidiu o Sul-Americano de 1948, no estádio Nacional, de Santiago, no Chile, quando enfrentou Alfredo Di Stefano.

“A última partida foi contra o River Plate, que era o favorito. E o juiz deu uma garfada tremenda na gente. Anulou um gol, não nos deu um pênalti e marcou um pênalti para eles. Eu peguei e fomos campeões invictos”, disse Barbosa, ao “Bola da Vez”, da ESPN, em 2000.

Casamento quase perfeito

Barbosa teve a primeira chance na seleção brasileira em 1945, quando substituiu Oberdan Cattani, do Palmeiras, contra a Argentina, no Pacaembu, pela extinta Copa Roca.

Foi a partir de 1949, já escorado pela excelente fase no Vasco, que ele se firmou de vez. Foi titular na campanha vitoriosa do Sul-Americano de seleções, campanha que deixou a seleção como favorita à Copa de 1950, disputa que teve justamente o Brasil como sede.

A campanha na primeira fase foi quase perfeita. A equipe do técnico Flávio Costa venceu o México (4 a 0), empatou com a Suíça (2 a 2) e derrotou a Iugoslávia (2 a 0), então a melhor equipe da Europa no Mundial.

“Terminei o jogo contra a Iugoslávia esgotado. Vencemos por 2 a 0, naquele que foi o melhor jogo na carreira, mas terminei penado, penado mesmo”, disse Barbosa sobre o time que tinha craques como Jair Rosa Pinto, Zizinho e Ademir de Menezes.

Na fase final, disputada pela primeira e única vez em um quadrangular, o Brasil goleou a Suécia (7 a 1) e a Espanha (6 a 1), mas perdeu de virada para o Uruguai por 2 a 1. A chance de ser campeão, diante de 200 mil pessoas no Maracanã, ruiu.

Foi aquele resultado que “condenou” Barbosa.

“Sujeito passava na rua e falava: ‘Frangeiro’. Outro falava: ‘Esse cara entregou’. Teve uma mulher que disse na minha cara que eu tinha recebido dinheiro. Outra chegou com um garotinho, que não tinha nem 10 anos, e disse: ‘Foi esse homem que fez o Brasil todo chorar’. Eu perguntei para ela: 'Se eu fosse seu filho, você faria isso?'. Ela se calou e foi embora”, disse o goleiro.

“Será que eu fui o culpado? Será que eu errei? Ao rever o lance dias depois da partida, achei que eu tava certo. Quer dizer, eu fiz certo e deu errado. Ghiggia fez errado e deu certo”, completou o goleiro, em depoimento dado em 2000.

Barbosa respondeu milhares de vezes questionamentos sobre aquele lance. Demorou para voltar à seleção, mas teve uma chance. Fez um jogo em 1953 pelo Sul-Americano de Lima. Na época, diziam que ele seria convocado para a Copa de 1954, mas uma lesão grave lhe tirou essa chance. Ele teve a perna quebrada numa dividida com Zequinha, do Botafogo, no Maracanã.

Ao ídolo, perdão

Barbosa jogou profissionalmente até 1962, quando se aposentou pelo Campo Grande, aos 42 anos de idade. Depois, virou funcionário da Suderj e trabalhou como instrutor de natação para jovens alunos nas piscinas do complexo esportivo do Maracanã.

Quem o conheceu assegura que ele jamais perdeu a educação ao ter de responder sobre a Copa de 1950.

“Qual é a pena máxima no Brasil? Não são 30 anos? Pois eu já estou a mais de 40 anos cumprindo e ninguém esquece. Se eu fosse um criminoso vulgar, eu entenderia. Mas qual foi o meu crime? Qual foi o meu pecado?”, disse Barbosa para Helvidio Mattos, em 1993.

Em 7 de abril de 2000, aos 79 anos, já sentindo o peso da velhice, morreu em Praia Grande, cidade do litoral de São Paulo, onde foi residir nos anos 1990. Naquele momento, Tereza Borba, que entrara na vida do ex-goleiro naquela década, era sua principal companhia.

Jornais como a “Folha de S.Paulo”, “O Estado de S. Paulo”, entre outros, não dedicaram grande espaço para a despedida final do veterano. Nada de reconhecimento, pompa ou agradecimento pelo que fez pelo futebol brasileiro.

“Poucas pessoas foram ao funeral aqui na Praia Grande. Não teve aquela comoção como deveria ter por ele ser um ídolo do Brasil. Só a torcida do Vasco não o esqueceu”, disse Tereza.

Barbosa também deixou este mundo sem qualquer posse. Pouco para quem foi reconhecido como o melhor goleiro da América do Sul no final dos anos 40 e um dos maiores do Brasil.

Uma das raras testemunhas vivas do Maracanazo, Hyeróclio Barros, publicitário e diretor da TV Excelsior do Rio entre os anos 60 e 70, é hoje um dos poucos que pode falar sobre o que viu no dia 16 de julho de 2000 no estádio.

“Eu tinha 17 anos e fiquei atrás do gol onde Barbosa seria vítima de uma fatalidade ao não defender um chute que parecia despretensioso, caracterizando um frango histórico. A reação da torcida foi de espanto, incredulidade. E um imenso, um soturno silêncio tomou todo o estádio. Ao sairmos do estádio derrotados, parecíamos acompanhantes de um funeral”, disse à reportagem.

Por ter estado presente, o depoimento de Hyeróclio tem uma grande importância para que a memória do velho ídolo seja preservada com correção. Sem que injustas e velhas acusações continuem manchando a imagem que construiu.

“Entendo que ele foi vítima de uma fatalidade. E, como tal, um injustiçado. Onze eram os jogadores e apenas ele ficou responsável. Foi um grande goleiro. Conquistou muitos títulos pelo seu clube. Os que o conheceram de perto diziam-no um ser humano correto e bom”, finalizou.

Fonte: ESPN Brasil
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