O favoritismo era dos americanos, mas a festa acabou sendo mesmo verde e amarela. A seleção brasileira formada por jogadores oriundos da quadra conquistou na manhã deste domingo o título da primeira Copa América de Basquete 3x3, ao derrotar os Estados Unidos por 12 a 11, na arena montada no Parque dos Patins, na Lagoa, Zona Sul do Rio. Também hoje cedo, sob o sol forte do verão carioca, a seleção brasileira 3x3 (com especialistas na modalidade) bateu a Argentina por 21 a 11, terminando em terceiro lugar na competição.
Nas partidas classificatórias do evento internacional, o Brasil Quadra surpreendeu o Brasil 3x3 ao ganhar por 17 a 11, enquanto a equipe americana bateu a da Argentina por 19 a 10. A seleção brasileira campeã contou com Tatu, Diego, Rogério e Casé, e a dos EUA, com Campbell, Griffin, Lemuel e Stockton. Pela seleção brasileira 3x3 jogaram Douglas, Silva Jr., Gustavo e Fausto (os quatro mais bem ranqueados do país nessa modalidade no raking da Federação Internacional de Basquete, a Fiba), ao passo que Lucero, Castro, Giussani e Lion representaram a Argentina.
Surgido a partir do street ball (o jogo praticado nas ruas), nos Estados Unidos, o 3x3 (cada equipe com três titulares e um reserva, e não com cinco titulares e vários na reserva) apresenta algumas diferenças em relação ao convencional, como o fato de haver apenas uma tabela e de a bola ser a mesma usada no feminino. As jogadas dentro do garrafão valem um ponto, e não dois como no basquete convencional, e os arremessos de longa distância, que valen três pontos na quadra, valem dois nessa nova modalidade. As partidas duram 12 minutos em tempo único ou terminam quando um dos times chega aos 21 pontos. A primeira competição internacional oficial se deu em 2010, nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura. Pela própria origem da modalidade junto a comunidades mais carentes nos EUA o hip hop, o rap, o funk e o charme fazem parte da trilha sonora dos jogos, disputados sempre com esse fundo musical.
Diante da arena lotada, o ala Rogério, de 42 anos, que encerrou a carreira nas quadras no ano passado, foi um dos destaques da equipe brasileira. Ele estava feliz por ter tido a oportunidade de ser campeão numa modalidade diferente do basquete que sempre praticou.
— Parece outro jogo. A bola é menor, o calor nos engole, e mesmo assim, conseguimos vencer os melhores jogadores brasileiros da modalidade. E foi algo enorme termos ganhado dos Estados Unidos, que foram os criadores do 3x3 nas ruas. Foi um feito, e isso vai ajudar a modalidade a crescer no nosso país. É uma sensação muito boa, e espero que essa modalidade cresça e se torne olímpica — afirmou Rogério, que no Rio, atuou no Vasco, pelo qual foi bicampeão braisleiro e da Liga Sul-Americana. — Gostei do evento, achei bacana, e se tiver outras oportunidades, poderei voltar a jogar. Não é fácil jogar neste calor, que parecia nos abraçar. Mas foi bom ter feito algo novo e muito legal voltar a ouvir o Hino Nacional. Isso não tem preço.
A vitória brasileira na final foi ainda mais valorizada pelo fato de a equipe não ter podido fazer substituições, já que Tatu não pôde jogar, devido a uma lesão na virilha esquerda durante a primeira partida. Mas o espírito de equipe prevaleceu, e o jogador do Rio Claro ficou no banco, incentivando e tentando passar algumas instruções aos companheiros. Para Diego — que atua no Lins Basquete e que já teve passagens por Flamengo, Fluminense e Vasco — foi ótimo ter superado os desafios.
— Tatu fez muita falta, mas jogamos por ele também, e no último ataque dos americanos, consegui roubar a bola e garantir nossa vitória — disse, admitindo ter tido trabalho para se adaptar às regras.
Jogador que mais se identificou com o público na arena do Parque dos Patins, o pivô Casé, que jogou pelo Tijuca e disputou a última edição da liga Novo Basquete Brasil pelo Vila Velha, festejou a experiência nova e elogiou a estrutura do evento.
— Foi uma supresa para nós todos do time Brasil Quadra, porque não sonhávamos ser campeões. O time americano é campeão de seu país, e chegou aqui coo favorito. Mas lá dentro o jogo é jogado, e nós tivemos a torcida. Eu sempre procuro chamar a torcida, e a torcida vei conosco — contou ele, que irá disputar a Liga Ouro (acesso ao NBB) por um time paulista que não revelou. — Os americanos vieram com salto alto. Soubemos que eles tinham dito que eram favoritos, mas acho que o calor também nos favoreceu.
Do lado americano, a equipe nã escondia no pódio o aborrecimento pela derrota. Mas depois o ala e capitão Griffin foi diplomático. Sem se queixar da arbitragem, como o time havia feito durante a partida, elogiou a estrutura do evento e classificou o país como o mais belo do mundo:
— Sobre o jogo, foi muito bom. O Brasil tinha muita experiência, e demos a eles algumas oportunidades. Tradicionalmente, sempre fomos fortes nas bolas dentro e fora do garrafão, mas as novas regras dão uma vantagem às equipes que jogam melhor dentro do garrafão. Os brasileiros nos superaram nisso.
De acordo com o organizador do evento, Eduardo Gayotto, a primeira edição da Copa América foi um sucesso.
— É o primeiro evento de 3s3 transmitido ao vivo em TV aberta no mundo, o que tem um valor muito grande e é algo muito importante para a modalidade. Os times mostraram um basquete de qualidade para o público na arena e para o público da TV — comentou. — Provavelmente em janeiro ou fevereiro de 2015 teremos novamente esta Copa, e ao longo deste ano, haverá um calendário prévio. Quanto ao local, ano que vem poderá ser aqui ou num local ainda maior.
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