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'Bolt da Colombo' queria mesmo era jogar futebol no Vasco

Como a ida do técnico Abel Braga para Portugal transformou um garçom da Colombo em ultramaratonista campeão da prova Extremo Sul? É preciso rebobinar a fita da vida de Alexsandro Pereira Alves até o início dos anos 90, então com 12 anos e um sonho: ser jogador de futebol.

O meia-direita habilidoso e acima da média, segundo o próprio, buscava um lugar no time do São Cristóvão, que fazia peneiras para a geração dos nascidos em 1978. Três vezes por semana lá ia o garoto, ao lado de um primo e de um amigo, de trem de Magé, na Baixada Fluminense, até a Ilha do Governador, onde treinava a base do clube. Nem naquela época nem hoje há linha férrea na Ilha. O jeito era descer na estação mais próxima (Ramos) e ir andando uns bons quilômetros.

O talento e a dedicação, porém, não eram suficientes. Mesmo com a pouca idade, Alex percebia que os mais privilegiados, fossem por dinheiro ou por indicações e ou empresários, tinham mais chances. A desilusão foi aumentando, mas ainda não era hora de desistir. E onde entra o atual treinador do Flamengo nisso?

A mãe de Alex trabalhava como empregada doméstica na casa que o então técnico do Internacional mantinha na Zona Sul do Rio. Abel, com muitos contatos no Vasco, ia colocar o menino na lista da peneira do clube. Porém, o treinador se mudou para Portugal, dona Ana Maria Pereira ficou sem emprego e o filho sem a chance de apresentar seu futebol num clube grande.

DESILUSÃO

Mas ainda não foi a partir dali que a corrida entrou na história de Alex. Desiludido com o futebol, havia outro sonho a perseguir. Findo o ensino médio, a carreira militar surgia como futuro. Aos 18 anos, no entanto, sobrou no serviço obrigatório.

Filho único de pais separados, era hora de arrumar um emprego. E Alex teve vários em diversos bairros da cidade. Foi office boy, auxiliar administrativo, secretário, motorista ocasionalmente, cursou três períodos da faculdade de educação física, conheceu a mulher Sandra, casou, deixou a Baixada Fluminense rumo a Engenho da Rainha e teve uma filha.

Nesse meio tempo, um outro esporte até surgiu. Começou a fazer artes marciais, mas só como medida antiestresse. Apesar de se destacar entre os alunos da academia, nunca quis mudar de faixa nem competir.

Por sete anos, deu seus golpes para aliviar a tensão e as dificuldades do dia a dia. Mas, há 10 anos, a vida de garçom o tirou dos tatames por falta de tempo. Num famoso motel da Zona Sul, aprendeu a função e guardou muitas histórias.

- Ali frequentam muitos jogadores de futebol, artistas... – diz ele, mantendo segredo.

Alex não imaginava, porém, que, anos depois de aprender a equilibrar uma bandeja, um currículo enviado pelos Correios para a vaga de garçom da histórica Confeitaria Colombo, em 2012, seria a porta de entrada para o mundo das corridas. Sorteado com um dos 30 kits para o Circuito do Rio Antigo, no ano seguinte, ele deu o pontapé inicial na prova de 10km.

Precisou de apenas três semanas de trotes e caminhadas, um par de tênis comum e 49 minutos de corrida para assimilar que encontrara seu lugar. A falta de ar e as dores nas pernas não assustaram quem se acostumou a outros tipos de adversidades na sua trajetória.

Não demorou muito e foi apelidado pelos colegas (nenhum dos outros 29 sorteados seguiu no esporte) de “Bolt da Colombo”, ainda que suas provas nada tivessem a ver com o tricampeão olímpico dos 100 metros rasos.

O agora garçom-corredor optou a cada prova por distâncias bem maiores do que a do homem mais rápido do mundo. Para desespero de seus técnicos – pagos com as muitas gorjetas recebidas pelos clientes que já acompanham a história do garçom -, frequentemente enganados por ele.

- Em 2016, fiz a primeira ultramaratona, em Macaé. Disse para o meu técnico que ia fazer a prova de 6 horas. Faltando duas semanas, avisei que faria a de 12 horas. Quase me matou – conta ele, que aperta as contas de casa para poder bancar o sonho. – Minha esposa é professora, trabalha e cuida da parte dela e dividimos os gastos das meninas (ele tem uma filha mais velha de outro relacionamento).

Ano passado, mesmo com lesão no joelho, foi o primeiro a completar os 226km do Rio Grande ao Chuí, no Rio Grande do Sul, em pouco mais de 35 horas. A conquista lhe deu a vaga para a PT281, prova de ultramaratona em Portugal. Serão mais de 282 horas a serem completadas em 66 horas, em julho.

Ele não sabe se Abel tivesse conseguido o teste no Vasco teria virado jogador de futebol ou feito sucesso como seu ídolo Zico, quem lhe inspirou no estilo de jogo. Mas isso não importa mais. Talvez tenha sido aquele desvio num possível destino o responsável por levá-lo a ganhar o mundo de outra forma.

Fonte: Agência O Globo
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