Escolhido pelo presidente da CBF, Samir Xaud, para conduzir o grupo de trabalho que vai “elaborar a proposta de Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira” – para implementação do Fair Play Financeiro -, o vice-presidente da CBF, Ricardo Gluck Paul, passou os últimos dias nos EUA na Copa do Mundo de Clubes.
Entre encontros com dirigentes brasileiros e agendas com a Fifa e a Conmebol, Ricardo viu a adesão de clubes da Série A – apenas o Mirassol não se inscreveu entre os 20 – e a maioria também na Série B, além de oito federações. Para o vice da CBF, o primeiro desafio é agrupar os interessados num colegiado plural para discussão das regras. Considera importante ouvir clubes em situações distintas, tanto aqueles em boas condições financeiras, quanto os com altas dívidas, as SAFs e os clubes associativos. Quer todos na mesa para debater o melhor modelo.
A primeira reunião do grupo de trabalho está prevista para logo depois da Copa de Clubes – a competição termina dia 13 de julho. A partir deste pontapé inicial, a comissão terá 90 dias para apresentar relatório com a proposta de regras para o regulamento do Fair Play Financeiro. Para Ricardo Paul, que foi presidente do Paysandu em 2019 e 2020 e preside a Federação de Futebol do Pará desde 2022, é possível pensar numa implementação já para o ano que vem.
- O objetivo do grupo é ter, em 90 dias a partir do início do grupo de trabalho, um relatório do modelo. A partir daí a presidência define a implementação. O esforço que está sendo feito é para que seja (implementado) em 2026. Agora, naturalmente, e isso é uma opinião pessoal, creio também que haverá necessidade na implementação de construir uma onda inicial, uma intermediária e assim por diante. É um processo para não criar um colapso. Não é algo a partir de amanhã. Vai ser algo que tenha relevância, que possa ter impacto, que traga o que a gente procura, mas também que tenha implementação responsável – diz Ricardo Paul ao ge.
A ressalva da implementação feita pelo dirigente aparece também na própria portaria do dia 9 de junho, assinada por Samir Xaud. O documento diz que o grupo de trabalho tem por um dos objetivos “propor modelo de implementação gradual das obrigações do regulamento, respeitando as diferenças regionais e as situações financeiras específicas de cada clube”.
A comissão – que terá participação de dirigentes da CBF, de clubes das Séries A e B, das federações e também de consultores externos – vai estudar os casos de Fair Play Financeiro de fora do país, mas não necessariamente repetir o modelo no futebol brasileiro, entende o dirigente da CBF.
- Não tem isso de “ah, o nosso modelo está inspirado no modelo inglês”. A gente tem cardápio de possibilidades dentro dos cases de sucesso, tem os casos menos exitosos que podem ter boas inspirações... É um pouco de pegar boas práticas para adaptar ao nosso modelo. E, talvez - por que não? - construir coisas próprias. Importante entender o seguinte: não vai ser algo que a gente vai entubar (nos clubes): “olha, nosso modelo é o alemão”. Não é isso. Precisamos compreender momento do futebol brasileiro. Primeiro passo é compreender, diagnosticar, organizar conceitos e aí sim partir para uma discussão do modelo - afirmou.
Entre os pontos a serem discutidos, o grupo vai se debruçar também na Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF - o órgão criado pela CBF para regular conflitos entre clubes, jogadores e agentes. Há críticas comuns de clubes pela demora em resoluções, sanções ineficazes e no modelo de acordos – considerado muitas vezes benevolente com os clubes devedores.
- A CNRD tem que entrar (no debate). Existem ali reflexões que têm que ser feitas também – diz o dirigente paraense.