Imprensa

Como a imprensa se posicionou em 1924 sobre o ato do Vasco

Em 2024, um século depois da Resposta Histórica, torcedores e funcionários do Vasco se orgulham do posicionamento do clube contra a discriminação racial e social no esporte. A imprensa, nos últimos anos, explorou novos ângulos do importante feito para o futebol brasileiro. Mas, há 100 anos, como a mídia e a sociedade receberam o ato vascaíno?

O ge pesquisou os principais jornais em circulação naquele período para entender como a imprensa noticiou o que hoje se conhece por Resposta Histórica.

Alguns dos principais clubes do Rio de Janeiro se uniram na fundação de uma nova liga, batizada de AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos). O Vasco aceitou o convite para se filiar, mas, posteriormente, indignado com as imposições dos criadores, abandonou o projeto em 7 de abril de 1924. Isso porque eles pediam que o clube cruz-maltino abrisse mão de 12 jogadores, em sua maioria pobres e negros, para participar do grupo.

Um século atrás, o contexto social e histórico do Brasil era outro. Mesmo assim, a pesquisa apontou que, com o tempo, alguns periódicos se posicionaram contra os princípios da AMEA. A maioria dos artigos, no entanto, apenas noticiou, sem aprofundar, a desistência do Vasco.

O "absolutismo" dos cinco

Um artigo de 15 de março de 1924, publicado no jornal "Theatro e Sport", contextualiza bem os interesses dos criadores da AMEA - América, Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense. Insatisfeitos com a Liga Metropolitana, os cinco partiram para uma nova ideia. O estatuto previa que os fundadores seriam os "senhores absolutos da nova instituição", aponta o texto:

"Pode-se conceber absolutismo numa terra essencialmente democratica, em que todos são iguaes perante a lei?

Por fim, fugindo á responsabilidade judicial, que certamente se seguiria pelo abalo moral causado, diz a nota official que as respostas para as filiações serão dadas <em communicação directa e confidencial.<

Porque os senhores dos <grandes> clubs, que tão poderosos se dizem, não dão por escriptos essas respostas, assumindo, assim, a responsabilidade do que nellas se contiver.

Por medo da justiça que se faria sentir quando, por ser preto ou operario, deixassem de acceitar qualquer <sportman>".

Artigo no jornal "Theatro e Sport", de 15 de março de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

Em 9 de abril de 2024, dois dias após a Resposta Histórica, o jornal "O Paiz" reforça o interesse dos cinco fundadores de se fortalecerem em cima dos demais. Um dos termos da nova liga que mais incomodou os clubes foi a determinação de que, com exceção dos criadores, as outras equipes jogariam no sábado - na ocasião um péssimo dia para bilheteria.

"E por quê?

A resposta não é difficil.

Sem cuidarmos do lado moral da questão, que por si mesmo em virtude da selecção que encerra, bastaria para explicar sufficientemente o caso, ahi está para servir de estorvo ao engrandecimento e pujança materiaes dos clubs de que ora se trata, a escassa renda que, aos sabbados, terão as suas bilheterias".

Artigo no jornal "O Paiz", de 9 de abril de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

Com o posicionamento do Vasco de deixar a liga, parte da imprensa da época, antes favorável ao novo grupo, começou a criticar as decisões impostas pela AMEA, como é o caso do jornal "O Brasil", em artigo de 10 de abril de 1924:

"Como se propunham a moralizar, e não havia porque suspeitar dos seus propositos, a totalidade da nossa imprensa recebeu cordialmente a attitude dos dissidentes (da Liga Metropolitana), tanto mais quanto se propunham a organizar uma entidade sportiva moldada em principios mais consentaneos com o nosso progresso sportivo e, sobretudo, mais moralizadores. Não podia ser maior, portanto, a decepção provocada quando da publicação dos Estatutos da nova entidade, ou, melhor dito, da A.M.E.A. Instituíam elles profunda selecção entre fundadores e não fundadores, creando para aquelle uma situação privilegiada inadmissivel.

Esse regime de castas não foi nem pode ser, recebido agradavelmente".

Artigo no jornal "O Brasil", de 10 de abril de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

"O Imparcial", por outro lado, em 9 de abril de 1924, critica a Liga Metropolitana e presta apoio à AMEA:

"Os principaes clubs, num gesto de revolta muito natural, della se afastaram, desejosos de viver e se expandir num ambiente puro, onde pudessem encetar os trabalhos de uma obra grandiosa, perante a qual, mais uma vez, decerto, a Europa se curvaria.

Divulgados esses tão bellos propositos, quem, de bom senso, poderia recusar-lhes apoio?

E, assim succedeu a A.M.E.A.".

Artigo no jornal "O Imparcial", de 9 de abril de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

Vários artigos citam que o Botafogo também estava estudando deixar a AMEA. Apesar de ser clube fundador, não estaria gostando do caminho para onde a entidade caminhava, com o fim de dar a "leaderança do sports carioca a um certo club" ("O Paiz", de 9 de abril de 1924). Andarahy e São Christovão foram outros com posições contrárias à nova liga, segundo os periódicos da época.

A repercussão da resposta do Vasco

A Resposta Histórica do Vasco — Foto: Divulgação/Vasco

O ofício, de 7 de abril de 1924, redigido e assinado pelo presidente José Augusto Prestes, hoje documento histórico do Vasco, não ganhou tanta notoriedade na época. A imprensa limitou-se a informar a desistência, mas deixou claro que o motivo eram os jogadores que a AMEA impôs que o clube retirasse do seu quadro.

O jornal "O Paiz" divulgou a íntegra da "Resposta Histórica" apenas no dia 16 de abril, como exclusividade. Veja alguns registros:

Íntegra da Resposta Histórica publicada no "O Paiz", no dia 16 de abril de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

O Paiz - 9 de abril de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

Jornal do Brasil - 9 de abril de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

O Imparcial - 9 de abril de 1924 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

O Jornal - 10 de abril de 2024 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

A "Gazeta de Notícias" não aborda a desistência do Vasco, mas publica, em 11 de abril de 1924, uma resposta da AMEA, em que a associação diz que não cederá às exigências:

Gazeta de Notícias - 11 de abril de 2024 — Foto: Biblioteca Nacional Digital

Em abril de 1924, o periódico "O Brasil" entrevistou um diretor do Vasco após a informação de que o clube se desligaria da AMEA. O motivo foi explicado da seguinte forma:

"É simples. Firmando-se em razões que só são aplicaveis contra os não fundadores, a A.M.E.A negou inscripção a varios dos nossos jogadores. Não concordando com isso, o Vasco achou de melhor aviso ficar com os seus jogadores, embora afastado da A.M.E.A".

Fonte: ge
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