Como a presença de Diniz pode impactar no futebol de Vegetti taticamente

Artilheiro do time e jogador mais querido pela torcida do Vasco no momento, Pablo Vegetti, ao que tudo indica, tem um “desafio” pela frente. A chegada de Fernando Diniz deve impactar diretamente o jogo do atacante argentino, e isso já pôde ser observado nas primeiras partidas do novo treinador.

Foram poucos dias de treino, é verdade. Mas logo nos minutos iniciais da derrota por 1 a 0 na Argentina, contra o Lanús, vimos as digitais e o que Diniz pretende fazer nessa sua segunda passagem pelo Cruzmaltino.

Onde Vegetti entra nessa história? Bom, o camisa 99 não foi bem, e sua atuação em Buenos Aires expôs as claras diferenças de estilo entre o que ele costuma fazer em campo e o modelo de jogo a ser introduzido pelo novo comandante.

Diante do Fortaleza (segunda partida de Diniz), no entanto, as coisas melhoraram para o lado do homem-gol vascaíno. Vegetti se posicionou bem, balançou as redes duas vezes e foi protagonista na vitória por 3 a 0 em São Januário.

Bom sinal, de alguém que certamente terá que aprimorar fundamentos e “aprender” coisas novas com Diniz no comando. Abaixo, a Trivela esmiúça as diferenças entre os dois e mostra como Vegetti deve ser utilizado no 11 inicial do técnico.

Estilos contrastantes

Os times de Fernando Diniz se destacam por um estilo de jogo baseado na posse de bola e no apoio constante entre os jogadores — o chamado “jogo apoiado”. Suas equipes valorizam a ocupação do campo ofensivo com atletas técnicos, que trocam passes curtos para se conectar, gerar superioridade em determinadas zonas e construir jogadas por meio da movimentação intensa.

Dito isso, no modelo em questão, é comum que os centroavantes sejam móveis e exerçam um papel mais dinâmico. Assim, contribuem ativamente na construção ofensiva, muitas vezes desempenhando o papel de “falsos 9” ou atuando como pivôs que saem da área para gerar superioridade, sustentação e fluidez.

Cano, no Fluminense, foi uma exceção bem-sucedida a essa “lógica”, embora também tenha precisado se adaptar ao estilo do treinador, recuando com mais frequência e participando mais da articulação coletiva — característica essa que está longe de ser um ponto forte de Vegetti.

O argentino é um centroavante à moda antiga, de perfil clássico e tradicional. Forte fisicamente, Vegetti tem como diferencial o jogo dentro da área, onde se impõe diante dos zagueiros graças ao seu senso de colocação diferenciado, impulsão e instinto goleador, especialmente em jogadas aéreas. Ou seja, são atributos que costumam se alinhar melhor a um jogo mais direto, com menos ênfase na troca de passes curtos e na posse prolongada.

Em um time de Diniz, cujo “mantra” é valorizar a técnica e a inteligência posicional, Vegetti pode encontrar dificuldades caso tenha que desempenhar uma função que exija mais mobilidade e precisão fora de sua zona de conforto.

Como Vegetti pode “se transformar” com Diniz?

Apesar das diferenças elencadas, com equilíbrio, a combinação Diniz + Vegetti tem tudo para surpreender e dar muitas alegrias ao torcedor vascaíno. O treinador já demonstrou em outros trabalhos a capacidade de potencializar jogadores de perfis diversos, extraindo o melhor deles e favorecendo o modelo coletivo.

Em um plantel que carece de nomes decisivos no terço final, desprezar um atacante como o camisa 99, tão perigoso na área e identificado com a arquibancada cruzmaltina, certamente seria um erro.

Com sensibilidade tática e intervenções precisas, Diniz pode ampliar o repertório e transformar o jogo de Vegetti, tornando-o não só mais participativo, bem como mais decisivo em diferentes fases da partida. Abaixo, listamos alguns movimentos interessantes a serem trabalhados.

1. Tornar Vegetti mais participativo no jogo coletivo

Diniz pode trabalhar para que Vegetti:

• Saia mais da área em certos momentos, use seu bom pivô e ajude nas tabelas curtas;
• Participe da construção em zonas centrais, mesmo que de forma simples, atraindo marcadores para abrir espaços e favorecer a infiltração dos meias e pontas;
• Aprenda a fazer a “pressão coordenada” na saída adversária, característica marcante e essencial no modelo “dinizista”.

2. Potencializar seu jogo físico em um sistema técnico

Vegetti pode ser moldado por Diniz para ser a referência física que complementa a leveza dos demais jogadores de ataque:

• Quando o adversário marca baixo, ele pode ser a peça que fixa/prende os zagueiros, enquanto os jogadores mais leves circulam ao redor;
• No ataque posicional, pode ser usado como “âncora” para triangulações rápidas, servindo de apoio e sustentação ofensiva

3. Aprimorar fundamentos técnicos simples

Ainda que Vegetti apresente limitações técnicas, Diniz pode:

• Trabalhar passes curtos sob pressão, recepção orientada e decisões rápidas;
• Estimular movimentos diagonais curtos, sem exigir que o argentino vire um “falso 9”.

Vegetti é o cara do Vasco, e Diniz sabe disso

Desde a sua chegada ao Vasco, em agosto de 2023, Vegetti já mostrou o quanto seria importante para a equipe. E essa importância ficou ainda mais evidente na atual temporada. O argentino é responsável por 47,2% dos gols do time em 2025, além de ter dado duas assistências.

Antes da chegada de Diniz, com Carille, Felipe e outro estilo de jogo, também ficou ainda mais claro uma das principais características de Vegetti: o jogo pelo alto. Dos 15 gols marcados antes de Diniz, sete foram de cabeça.

Se o novo técnico seguir potencializando o faro de gol de Vegetti, é provável que em breve o camisa 99 já tenha a sua melhor temporada da carreira em número de gols. Até o momento, este recorde é de 23 tentos em 2023 e 2024 (neste primeiro ano, foram 13 pelo Belgrano, da Argentina, e 10 pelo Vasco).

— Ele (Diniz) me disse que eu já fazia muitos gols, mas que agora vou fazer ainda mais gols. E eu acredito no que ele fala. Estou muito feliz — disse Vegetti após a vitória sobre o Fortaleza.

— Vegetti não encaixar comigo por quê? Camisa 9, argentino, sabe como é… Conexão comigo é instantânea. O cara faz o mais difícil, que é gol. Além de tudo é um homem e um líder impressionante. O cara corre, lidera, é exemplo para todo mundo. Para jogar comigo, essas características são muito mais impressionantes que o cara ter refino técnico. Ele tem as coisas mais importantes: valentia, coragem, liderança, personalidade. E faz muito gol. Quase um pacote completo — exaltou Diniz.