No anúncio das escalações antes de Vasco e Atlético-MG, no último domingo, o sinal da torcida foi claro: o único nome vaiado entre todos os titulares da equipe de Fernando Diniz foi o do zagueiro João Victor. No espaço de um ano, o jogador passou de unanimidade entre os vascaínos no time titular a principal alvo da torcida em São Januário, o que culminou na venda do atleta. Ele se despediu do elenco nesta quarta-feira.
Mesmo assim, o zagueiro era considerado titular absoluto do time de Diniz. O mais rápido e mais alto entre todos os defensores, João Victor recebeu total respaldo do treinador do Vasco na coletiva depois do jogo de domingo. Segundo ele, o jogador queria se redimir com a torcida em campo.
Tudo mudou após a proposta do CSKA, enviada depois da partida do último fim de semana. Com uma negociação vantajosa para o zagueiro, ele sinalizou a vontade de deixar o clube imediatamente, depois de conversar com a família. Entende-se que as ameaças sofridas e as cobranças pesaram na decisão. O jogador quer uma mudança de ares na carreira após o desgaste no Vasco.
O clube não se opôs à venda, mas queria negociar pelo preço certo. A transação final, em torno de 5 milhões de euros (pouco mais de R$ 30 milhões) e mais 25% de uma futura venda, foi considerada positiva pela gestão vascaína. Além disso, o Vasco se livra da obrigação de pagar mais 1 milhão de euros (cerca de R$ 6 milhões) ao fim do ano, em caso de permanência na Série A.
O zagueiro de 26 anos custou 6 milhões de euros (R$ 32 milhões em valores da época), mas o valor da sua contratação subiu para 7 milhões de euros, com a permanência do Vasco na Série A em 2024 - e chegaria a 8 milhões de euros ao fim desse ano, também em caso de permanência da Série A.
A direção de Pedrinho entende que conseguiu diminuir o prejuízo em relação aos valores pelos quais João Victor foi contratado pelo Vasco. Indiretamente, a gestão sempre criticou os números da transferência que trouxe o zagueiro do Benfica para São Januário. Quem contratou o jogador foi Alexandre Mattos, criticado por Pedrinho pelos bônus em caso de permanência na Série A.
Ao receber um dinheiro agora pela venda do atleta, o Vasco pode intensificar as conversas para contratar um substituto nesta janela de transferências. Carlos Cuesta é o principal alvo do clube neste momento. A direção avançou nas últimas horas para fechar com o colombiano.
Desgaste com a torcida
O desgaste com João Victor tem relação com a expectativa criada em torno de sua contratação. Comprado no início de 2024 por R$ 32 milhões, o jogador nunca rendeu como o torcedor esperava. Ele teve dificuldade para se firmar como titular com Ramón Díaz, com quem admitiu publicamente ter tido problemas de relacionamento. O técnico optou diversas vezes por usar Maicon e Léo como dupla titular na defesa.
- Não senti (falta) nem um pouco. Acho que foi a melhor escolha a ser feita (saída de Ramón), acho que não estava mais fazendo com que o grupo jogasse. Também, no meu modo de ver, fazia algumas escolhas erradas, mas não vou ficar entrando muito nesse mérito - disse o jogador em entrevista ao canal "Mario Coelho Vasco" (assista abaixo).
João Victor diz que não sentiu saída de Ramon Díaz do Vasco
O ge, em agosto do ano passado, perguntou aos torcedores do Vasco qual zagueiro deveria ser titular. João Victor foi apontado por 98% dos torcedores, o que demonstrava o apoio ao jogador.
Com a chegada de Rafael Paiva, João Victor se tornou titular da defesa, mas perdeu espaço após uma lesão. Recuperado, retomou a vaga, mas chegou a ser sacado em alguns momentos, como na partida de ida contra o Atlético-MG, na semifinal da Copa do Brasil. Ao fim de 2024, a paciência da torcida já não era a mesma, principalmente após as expulsões contra Flamengo, Athletico-PR e Botafogo. Ainda assim, ele era considerado titular por boa parte dos torcedores.
O desgaste se intensificou depois de uma discussão acalorada entre João Victor e um grupo de torcedores, após o empate em 0 a 0 contra o Sampaio Correa, no Carioca. O episódio se somou a atuações ruins do zagueiro em jogos do Brasileirão, como contra o Corinthians, Ceará, Vitória, Bragantino e Del Valle.
Como comparação, em uma pesquisa em junho deste ano no ge, apenas 9% dos torcedores escalaram João Victor como titular.
A relação com a torcida piorou após outros dois casos. Depois da goleada por 4 a 0 sofrida para o Independiente del Valle em Quito, pela Sul-Americana, torcedores relataram que João Victor ironizou críticas na volta da delegação ao hotel. O mesmo ocorreu quando a principal organizada do clube esteve no CT para reclamar de saídas do jogador em seu tempo livre, e ele respondeu aos torcedores.
Com a sequência de más atuações, a paciência da torcida se esgotou. O jogador era vaiado com frequência em São Januário, mesmo em jogos que não havia falhado, como na partida contra o Atlético-MG, no último domingo. Contra o Grêmio, o zagueiro também foi vaiado desde o primeiro minuto do jogo.
Pressionado, João Victor não pediu para ser afastado ou transferido antes da partida contra o Atlético-MG. O zagueiro apenas manifestou o desejo de sair do Vasco depois que recebeu a proposta do CSKA, da Rússia, que já havia mostrado interesse no jogador no ano passado. O clube aceitou liberá-lo para os russos nos valores apresentados.
Ele treinou normalmente nesta quarta-feira, mas não deve mais jogar pelo Vasco. João Victor era querido pelo elenco. O jogador é um dos melhores amigos de Lucas Piton, Adson e de outros atletas no plantel. JV fez 75 jogos oficiais pelo Vasco e marcou três gols.