Futebol

Copa do Brasil ressuscita futebol carioca

Há anos virou lugar-comum criticar o futebol do Rio, com seus quatro grandes clubes disputando a duras penas as principais competições nacionais. Contudo, esse primeiro semestre de 2006 tem dado, pelo menos, uma esperança que há muito os torcedores não tinham.

Isso porque três dos seus principais clubes começam a decidir, esta semana, as semifinais da Copa do Brasil, principal torneio no país depois do Brasileiro. Flamengo, Fluminense e Vasco realizam campanhas irrepreensíveis até o momento e pelos menos um estará na decisão da competição.

\"Isso mostra o poder do futebol do Rio. Está aí a prova para quem falava mal. São três grandes nas semifinais e uma boa possibilidade de termos uma final carioca\" disse o ala-direito Rogério do Fluminense.

O jogador estará em campo nesta quinta-feira, às 20h30, no Maracanã, no clássico entre o Tricolor e o Vasco. Na outra semifinal, o Flamengo terá pela frente o Ipatinga-MG, \"intruso\" nessa farra carioca na Copa do Brasil. A partida de ida será quarta-feira, às 21h45, em Ipatinga. Ter três clubes nesta fase ao mesmo tempo é algo inédito para o Rio.

\"O futebol carioca sempre foi forte, passou por um momento delicado, mas vem se fortalecendo bastante. Acreditamos que esse será um ano de virada e o Rio vai ser visto com outros olhos\", disse o goleiro rubro-negro Diego.

Entretanto, os críticos de plantão tratam de relembrar dois fatos que irritam os cariocas quando abordados por eles. O primeiro é que nos últimos três anos equipes da cidade chegaram à decisão do torneio, e em todas as oportunidades ficaram com o vice-campeonato.

Em 2003 e 2004 o Flamengo encarou Cruzeiro e Santo André e em ambas foi derrotado. Já no ano passado foi a vez do Fluminense sucumbir diante do Paulista. E em todos os anos, times cariocas brigaram com unhas e dentes para não serem rebaixados no Brasileirão.

\"Vasco, Fluminense e Flamengo estão demonstrando que têm condições de fazer uma boa final de Copa do Brasil e um ótimo Campeonato Brasileiro. Essa é uma grande mostra da evolução das equipes cariocas\", defendeu o técnico Waldemar Lemos, do Mengo.

\"Perdemos por um detalhe ano passado para o Paulista. A equipe agora é forte igual à de 2005. Teremos o Maracanã ao nosso lado e isso é muito importante. Espero que o título venha dessa vez\", completou o atacante Tuta, do Fluminense.

Outro fato rebatido pelos cariocas é o de as grandes forças do futebol brasileiro, como São Paulo, Internacional e Corinthians não terem disputado o torneio, já que participavam da Libertadores.

Para os atletas, a Copa do Brasil não perde em competitividade e muito menos em importância por conta disso. \"Ué, o Santos não estava na competição? Vários times grandes ficaram pelo caminho. E, desde 2002, é normal um time pequeno chegar à final. Só em 2003 isso não aconteceu\", disse o meia Renato, do Flamengo.

Até mesmo quem está fora defende os cariocas. O técnico do Botafogo, Carlos Roberto, exalta a importância do bom desempenho do Rio de Janeiro.

\"Não é porque os times que estão na Libertadores não estão na Copa do Brasil que os times do Rio chegaram. Eles passaram por todos os seus adversários, mostrando que subiram de produção\", disse o treinador, que viu sua equipe ser eliminada justamente pelo Ipatinga, na segunda fase.

Para não ser surpreendido pelos mineiros e não ficar com um quarto vice-campeonato da competição - fora vice também em 1997 -, o Flamengo decidiu priorizar o torneio e poupou jogadores no clássico contra o Botafogo, no último domingo.

Mesmo procedimento adotado pelo Vasco, que mandou a campo contra o Grêmio, nesta última rodada, um time praticamente todo composto por reservas. \"O time está cansado e posso perder algum jogador por lesão, mas aqui não há titulares nem reservas e quem entrar vai se doar\", afirmou o técnico vascaíno, Renato Gaúcho.

A decisão, pelo menos por enquanto, se mostrou acertada. O Flamengo venceu o clássico e o Vasco triunfou no Sul. Após quatro rodadas de Brasileiro, os três cariocas também vão bem na competição. O Flu co-lidera com Santos e Inter, com dez pontos. O Vasco é o sexto, com oito pontos e o Mengo vem logo atrás, com seis pontos, no oitavo lugar.

\"Falam muito do futebol do Rio e isso nos motiva. Existem grandes profissionais aqui e esses resultados refletem o trabalho de cada clube. No Estadual só um podia ganhar e falaram mal de todos. Agora são três clubes nas semifinais e isso mostra que os times estão bem\", disse o zagueiro Thiago, do Fluminense.

EDILSON CULPA IMPRENSA - Um dos principais jogadores do Vasco, o pentacampeão Edílson resolveu criticar a imprensa. Para ele, são os jornalistas, e não os maus resultados, que criam a recente imagem ruim do futebol carioca.

\"A imprensa, principalmente a de São Paulo, quer difamar os times do Rio. De tanto ouvir, tem gente que acaba acreditando\", disse o Capetinha.

MULAMBADA SOBERBA EM 2004 - Quase dois anos depois, a trágica derrota para o Santo André, na final da Copa do Brasil de 2004, ainda causa calafrios na Gávea. Mas, o que pouca gente sabe, é que a preparação para aquela decisão esteve longe de ser adequada e o clima de \"já ganhou\" instaurou-se no clube.

Antes mesmo da primeira partida, em São Paulo, alguns jogadores do Flamengo contabilizavam o título em seus currículos. Recém-efetivado como titular, o volante Ibson brincou no avião que levava a delegação à capital paulista: \"Em seis meses de titularidade já são dois [Estadual e Copa do Brasil]\". Prontamente, o capitão e \"dono\" daquele time, Felipe rebateu, brincando: \"\"Você é juvenil ainda. Com essa Copa do Brasil só vai faltar o Mundial para mim\".

Depois do empate por 2 a 2 no confronto de ida, a euforia também transferiu-se para os torcedores. O clube transformou-se em palco para demonstrações de fanatismo descabidas, com torcedores vindos de diversas partes do país. Enquanto treinavam, os jogadores souberam que uma enorme confusão ocorrera no lado de fora da Gávea.

Por outro lado, familiares ligavam freqüentemente para os atletas atrás das entradas de cortesias que eles têm direito. O assédio da imprensa também cresceu de tal forma que na véspera da final, os jogadores só deixaram o clube após as 19h.

Meses depois do fracasso contra o Santo André, o técnico Abel Braga contou que o maior erro naquela ocasião foi não retirar a equipe do Rio de Janeiro após a primeira partida. Em 2005, o treinador \"aprendeu a lição\" e viajou com o Fluminense na final contra o Paulista. Porém, o clube carioca não conseguiu reverter o placar - 2 a 0 -, do primeiro duelo.

Fonte: Pelé.Net