Cria do Vasco, Dudu concilia a carreira de jogador com outra profissão

O que um jogador de futebol faz quando para de jogar? Aos 26 anos, Dudu, meia revelado nas categorias de base do Vasco, tem dedicado parte de sua vida para não perder noites de sono com essa pergunta. Ele concilia a carreira de jogador com os estudos sobre o mercado financeiro e quer ajudar outros jogadores a terem uma aposentadoria sossegada.

Para quem não se recorda, Dudu fez parte da geração 98 da base do Vasco que também tinha Douglas Luiz, que hoje joga no Nottingham Forest. Ele é um meia destro sobre quem foi gerada certa expectativa, mas acabou recebendo poucas chances no profissional e deixou o clube em 2021 com apenas quatro partidas disputadas no time de cima - o único gol saiu numa goleada por 5 a 2 sobre o Volta Redonda, no Campeonato Carioca de 2019.

Depois disso, ainda defendeu o CRB e Figueirense antes de fazer carreira em clubes de ligas intermediárias na Europa. O último foi o Hapoel Tel Aviv, de Israel, onde sofreu uma lesão grave no joelho em outubro do ano passado, da qual se recuperou apenas recentemente. Ele se diz pronto para voltar a jogar.

Dudu começou a se preocupar com dinheiro quando ainda estava na base do Vasco, no momento em que teve seu primeiro salto significativo de salário no clube e foi conversar sobre investimentos com a gerente de sua conta no banco.

- Vou ser sincero: eu devo ter entendido umas três, quatro palavras que ela falou durante a reunião. Quando saí, falei: "preciso me movimentar". Não posso ser totalmente refém do que ela vai me oferecer porque eu não tenho conhecimento, não vou conseguir nem discutir com ela - contou ele ao ge.

Três anos atrás, ele conheceu o escritório do qual recentemente virou sócio, se apaixonou pelo modelo de investimento e desde então tenta espalhar para os amigos o conceito de liberdade financeira. Segundo ele, nada mais é do que aproveitar a carreira de jogador com planejamento e conseguir viver do dinheiro que foi juntado quando pendurar as chuteiras.

Dudu hoje é gerente de relacionamento na Az Guidance, que gerencia patrimônios. Ele tem certificação profissional pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros (ANBIMA) e é agente autônomo de investimento pela Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Imobiliários, Câmbio e Mercadorias (ANCORD).

"É cansativa pra caramba nossa rotina de atleta, virar profissional, pressão, tudo o que envolve futebol. Não adianta nada você viver isso durante 15, 20 anos e não ter uma recompensa lá na frente", afirmou.

- A galera ainda tem muito esse pensamento de que futebol vai ser para sempre. Por diversos motivos, às vezes o cara está num momento muito bom, acha que não vai acabar nunca aquilo ali, então não se preocupa com parte financeira. Ou então teve trauma no início, passou por pirâmide, foi enganado e acha que mercado financeiro não é para ele - completou.

"Descobri que ele só tinha R$ 50 mil"

Como faz parte do meio do futebol, Dudu tem sido o responsável por transformar jogadores em clientes. A empresa do modelo multi family office hoje gerencia aproximadamente R$ 5 bilhões em patrimônio, de acordo com ele.

O jogador ex-Vasco diz que falar sobre investimento ainda é tabu para muitos jogadores e contou que se assustou quando descobriu que um amigo em fim de carreira, que jogou a Série A no Bahia, tinha apenas R$ 50 mil na conta.

- Para mim ele estava totalmente consolidado no pós-carreira, já nos 34, 35 anos. Conversando, descobri que ele tinha R$ 50 mil na conta, era o que ele tinha investido em toda a carreira. Passou por clube grande, teve nível bom. Não chegou a passar por seleção brasileira, mas jogou Série A, Europa. Acabou torrando dinheiro em coisas que não faziam sentido para ele - explicou Dudu.

"Ele passou por clube que tinha problema de salário, isso é uma grande questão também que acontece no futebol. Ele não estava planejado para isso. Teve que torrar, torrar, torrar.. Ficou no sufoco e me ligou para pedir ajuda", completou.

Outro erro normalmente cometido por jogadores de futebol, segundo Dudu, é o investimento exagerado em imóveis.

- Teve caso de um amigo pessoal meu que, quando acabou a carreira, tinha R$ 10 milhões de patrimônio. Mas, de dinheiro líquido, ele tinha era R$ 90 mil no banco. O resto era tudo em imóvel. Acontece alguma coisa e ele precisa de R$ 100 mil, ele não tem. Vai ficar endividado, vai entrar no cheque especial talvez sem necessidade. Ou então vai ter que vender um imóvel amanhã, mas a gente sabe que vender na pressa é um mau negócio. Esse caso me assustou muito quando conversei com essa pessoa. Não que imóvel seja um mau negócio, mas tem que ser bem dividido - concluiu.