A aparente calma de Álvaro Lins, que demonstrou desenvoltura ao discursar e não parecia se deixar acuar nem mesmo pelas vaias, era mais um ingrediente para uma certeza que dominava o plenário: a cassação era improvável.
Nos corredores, falava-se que assessores de Lins vinham batendo de porta em porta, nos gabinetes, para angariar votos contra a cassação.
Alguns acreditavam ainda que a estratégia dos aliados de Lins seria reduzir o quórum, o que o favoreceria.
- Se tivermos menos de 50 parlamentares na sessão, ele escapa - disse um dos deputados.
Mas, a previsão não se concretizou.
Apenas sete deputados não compareceram.
Três deles estavam de licença: Graça Pereira (DEM), que teria entrado de licença médica antes mesmo do recesso; Sula do Carmo (PMDB); e Dionísio Lins (PP) pediram licença na semana passada, ele, por motivos de saúde, e ela, sem remuneração, para tratar de assuntos particulares, segundo sua assessoria. Também não votaram: Natalino (sem partido), preso desde 21 de julho, acusado de chefiar uma milícia; Beatriz Santos (PRB); Altineu Côrtes (PT); e Roberto Dinamite (PMDB).
Os comentários eram de que o presidente da Alerj, Jorge Picciani, decidiu manter uma certa distância nos últimos dias. Na semana passada, um relatório da inteligência da Polícia Federal, publicado pelo GLOBO, trabalhava com a informação de que Lins estaria tentando chantagear Picciani ameaçando vazar um processo da época em que o presidente da Alerj era fiscal de renda em Mato Grosso e fora acusado de irregularidades no cargo.
Na última quinta-feira, depois de várias tentativas frustradas, Lins teria praticamente invadido o escritório de Picciani na Rua da Alfândega, no Centro, onde também costuma despachar, para tentar conversar com ele sobre a votação. Os seguranças não conseguiram impedilo de subir até o andar da presidência. Na ocasião, Picciani o recebeu por alguns minutos, de pé, e teria dito a ele que votaria a favor da cassação. Mas que que não faria campanha pelo sim ou pelo não.