Os lances de fair play acontecem com frequência no futebol brasileiro, mas é quando falta o "jogo limpo" que o tema entra em discussão e causa polêmica. Foi assim em casos recentes envolvendo jogadores com o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, e o atacante William, do Cruzeiro. Para o comentarista de arbitragem Leonardo Gaciba, o futebol brasileiro não serve de exemplo neste quesito.
- Infelizmente, no Brasil, o jogador que consegue cavar um pênalti é considerado esperto. Jogador que sofre uma falta dentro da área e acaba seguindo na jogada é criticado, por nós da imprensa e torcedores, por não ter caído no momento do contato - afirmou.
Para Gaciba, as atitudes demonstram que o país está longe de cumprir o que seria o verdadeiro fair play, um conceito ligado ao respeito.
- O fair play, no Brasil, é impressionante. Ele foi meio distorcido, seu sentido ficou muito pequeno. No Brasil, (fair play) é devolver a bola para o jogador quando este está machucado e, quando ele cai machucado, o árbitro para o jogo e o jogador, na bola ao chão, devolve a bola. O fair play é muito maior do que isso - considerou Gaciba.
O são-paulino Rogério Ceni, por exemplo, impediu um ataque do Botafogo ao colocar uma segunda bola em jogo para retardar o lance. Willian, do Cruzeiro, foi criticado por falta de fair play ao devolver uma bola na "fogueira" para o adversário e recuperá-la em seguida. Os dois casos levantaram muitas discussões sobre fair play - ou melhor, sobre a falta dele.
- O fair play é uma categoria que foi criada ou recriada pelo barão Pierre de Coubertin no nascimento dos Jogos Olímpicos, no final do século 19, e que significa basicamente respeito às regras, ao adversário e a quem está vendo o espetáculo esportivo - explicou o sociólogo Mauricio Murad.
Apesar de ser um conceito universal, ele acredita que a ideia de fair play pode mudar de um lugar para o outro. No entanto, defende que a essência deve ser mantida.
- Em princípio, o fair play é uma questão de valor, de ética, de pensamento, de ideologia. Ele vai variar minimamente, de acordo com a cultura onde está inserido. Agora, há questões éticas mais profundas, mas gerais, que deverão ser preservadas considerando-se qualquer cultura - afirmou o sociólogo.
Mais lidas