Quem imagina que a distante e glacial Sibéria — destino escolhido pelo presidente Eurico Miranda para cumprir penitência, caso o Vasco seja rebaixado para a Série B do Brasileiro — seja um castigo dos deuses, pode estar enganado. Que o diga o ex-vascaíno e estudante de tecnologia de software Bruno Magalhães, 28 anos. Há três meses, ele ganhou uma bolsa de estudos na Tyumen State University e trocou a ensolarada Cariacica, no Espírito Santo, pela gélida Tyumen, a 12.845 quilômetros de casa.
Um lugar tão frio que a saliva congela instantaneamente quando a temperatura passa dos 25 graus negativos. E olha que, no inverno, o termômetro chega facilmente à casa dos -40°. Nada que desanime o estudante, que encontrou na região polar muito calor humano, uma chance de se graduar e belas mulheres.
“Se o Vasco cair e Eurico cumprir sua promessa, vai encontrar aqui mulheres bonitas, comida boa e vodca de primeira. Nem charuto vai faltar, pois há importados do mundo inteiro com preços camaradas”, garante Bruno, que, mesmo sem falar russo, já arrumou até uma namorada — a bela estudante de análises de sistema Gaya Bulygina.
Ele só troca o tom de entusiasmo pelo de provocação quando fala do antigo time de coração. Ex-vascaíno, para desgosto do pai, seu Jorge, torcedor cruzmaltino fanático e que morreu recentemente, Bruno não tem dúvida do destino do time hoje.
“Vai cair. Se Eurico vier mesmo, posso lhe apresentar a cidade. Ao lado do campo de futebol, tem um bairro com mansões. Se ele comprar uma delas, pode ver o futebol da varanda de casa e soltar suas baforadas”, provoca, para depois explicar seu ressentimento com o time de infância.
“Eu me lembro bem dos Cariocas que perdemos vários anos para o Flamengo. Meus irmãos, que são rubro-negros, me zoaram tanto com essa coisa de vice que tomei raiva de futebol”, justifica Bruno, que só lamenta a possível queda do Vasco por causa do pai.
“Aonde ele estiver ficará triste. Mas não tem jeito. Até hoje não entendo o que acontece. Pelo menos eu não sofro mais.”