Clube

Felipe, ex-Vasco, lidera cerveja e churrasco no Qatar

Cerveja, praia e futebol. O domingo no Brasil tem um roteiro que se repete sempre. No Qatar, apesar de toda a rigorosidade religiosa, o velho \"jeitinho\" foi colocado em prática novamente. Mas com uma diferença: o domingo no mundo islâmico acontece na sexta-feira cristã. Nada, porém, que impeça os brasileiros que vivem no país de se encontrarem e disputarem uma animada partida de futebol.


Carlos Augusto Ferrari/GLOBOESPORTE.COM
Os peladeiros se refrescam na pelada tradicional. Sol, futebol, calor... no Qatar

As semelhanças com uma “pelada” em Copacabana são apenas o calor de quase 40 graus por volta das 11h e as brincadeiras quando alguém comete algum deslize em campo. No mais, sem cerveja ou beldades desfilando de biquíni. Pelo contrário. É proibido consumir bebida alcoólica no país. Os estrangeiros são autorizados apenas a ingerir em casa ou nos hotéis e com uma carteirinha de autorização. Já as mulheres circulam com o corpo todo coberto pelas burcas.

- Nós precisamos tomar alguns cuidados aqui, como não abraçar e não beijar a esposa ou namorada nas ruas. Temos que respeitar porque eles também nos respeitam – disse o meia Felipe, ex-Flamengo, Vasco e Palmeiras, que atua há quase cinco anos no Al-Sadd.



Curiosamente, durante a brincadeira, o sistema de som de uma mesquita localizada atrás do campo chamava os fiéis para o momento de oração. Isso se repete a cada cinco horas. Apressados com seus carros de luxo, frutos principalmente do trabalho com o petróleo, alguns deles quase causaram colisões, evitadas por um mecanismo mundial: a buzina.

Com o dia livre, boa parte dos brasileiros peladeiros, em sua maioria integrantes de comissões técnicas, aproveita também para matar a saudade do país através do churrasco, costumeiramente na casa de Felipe ou do atacante Serginho, ex-Corinthians e Vasco. E eles não reclamam das opções gastronômicas mesmo à distância da terra natal. Quando não é possível, volta à tona o jeitinho brasileiro.

- Nós só não podemos comer carne de porco. Eu consigo trazer linguiça e feijão na mala quando vou para o Brasil. Até hoje, nunca pegaram (risos). Mas o restante encontramos sem nenhum problema. As opção são muito grandes – acrescentou Felipe.

Apesar de o meio-campista ser o líder da festa, quem comanda a pelada é Celso Nogueira Fernandes, criador do jogo. Figurinha carimbada nos clubes do Qatar, ele mora no país há 21 anos e acompanhou toda a evolução tecnológica na última década por causa dos investimentos feitos pelos xeiques do petróleo.

- Eu vi o país crescer. Quando cheguei, você tinha que pegar uma fila para conseguir telefonar e ainda era muito caro. Nos últimos seis anos, o Qatar se transformou totalmente. Em alguns pontos da cidade só se via areia e agora você encontra os mais modernos prédios do mundo. Com a nossa pelada também foi assim. Começamos jogando contra as colônias de outros países, mas depois virou uma festa só brasileira – relembrou Fernandes, atualmente no Al Lacwuya.

Ele, aliás, jura que não troca a tradicional pelada com os brazucas em Doha por outra o Brasil. Totalmente adaptado à cultura e aos costumes, pensa em permanecer no Qatar mesmo depois que se afastar do futebol.

- Eu falo árabe e me dou muito bem aqui. Atualmente, não penso em ir para o Brasil porque lá minhas oportunidades seriam muito pequenas – completou.

Fonte: ge