Rayan mal sabe, mas na comemoração do gol contra o Fluminense - o primeiro da virada vascaína sobre o Tricolor na última quinta-feira, pela Copa do Brasil - ele sentou numa cadeira das mais cativas da imprensa esportiva carioca. O banquinho era de André Durão, fotógrafo há 42 anos e que completa a partida de número 5 mil neste domingo, quando os rivais decidem quem vai para a decisão do torneio nacional às 20h30, novamente no Maracanã.
"Tudo começou em um America (0) x (0)Vasco, em 16/10/1983. Foi meu primeiro jogo. Lembro até hoje, da chegada ao Maracanã e do nervosismo na entrada no gramado. Fiquei posicionado na entrada da grande área. Na época não havia placas publicitárias. Não publiquei foto nenhuma no Jornal do Brasil nesta partida - ainda estava estagiando. Aprendendo, estou até hoje.
Nestes 5.000 jogos, foram muitas histórias engraçadas e algumas tristes. Lembro de um jogo entre America e Americano, no campo do Andaraí, quando um torcedor no alambrado que ficava colado na beira do campo gritou: "vou fazer xixi na sua careca". Aí veio a surpresa. No segundo tempo, o cara cumpriu o prometido. Fiquei todo molhado, mas ganhei uma camisa do America para voltar para a redação.
Em um jogo da seleção pré-olímpica em La Paz, em 1987, me atiraram um osso de lhama nas costas. Estava lá quando os alambrados do Maracanã desabaram em 1992 e em São Januário em 2000. Dias muito tristes. Trabalhei no meio da Covid-19, presenciei o caso da fogueteira Rosemary no Brasil x Chile em 1989.
O que também me deixa triste são as despedidas de craques do futebol. Estive no último jogo profissional do Zico em Juiz de Fora (MG), na despedida de Roberto Dinamite, mais recentemente a do Fred do Fluminense. Quando estes caras param de jogar é como se o tempo estivesse me roubando oportunidades.
Nunca me programei para chegar a estes números e nem me tornar um fotógrafo melhor do que nenhum outro. Só adquiro mesmo experiência na profissão e na vida. Tive o privilégio de ter fotografado jogos de juniores, Copas do Mundo, Copa America, Pré-olímpico, jogos olímpicos. Estou muito contente com a possibilidade de cobrir a próxima Copa do Mundo Feminina no Brasil. Um dos poucos trabalhos que nunca fiz. Porque a Copa do Mundo de 2014 e a medalha Olimpica de 2016 no Maracanã foram muito especiais no Maracanã. O Maracanã é o meu Coliseu, onde já travei muitas batalhas por fotos boas e por posição no gramado.
Mas eu não poderia chegar a este número de jogos sem a ajuda da família. Minha mulher Mariza fala até que nem adianta disputar com a fotografia esportiva. Sei que foi dificil para ela e para os filhos que nunca me cobraram pela ausência em algumas datas importantes e finais de semana. Já fiz coisas que hoje até me envergonho um pouco. Quando meu filho nasceu, por volta das 17h, saí do hospital correndo para fazer a final do Campeonato Carioca e voltei depois, a 1h, para dormir com a minha mulher.
Mas agora é continuar fotografando e aprendendo com os novatos, com as novas linguagens.
Tenho que agradecer sempre as oportunidades que tive na vida. Primeira porta que se abriu em 1983 no Jornal do Brasil aos 17 anos. Depois a chegada no grupo Globo, que eu sempre chamo carinhosamente de família Marinho. Se me perguntarem o que pretendo fazer, a resposta é sempre continuar por mais um bom período no grupo Globo e quem sabe completar mais 1.500 partidas. E, claro, fotografar muito nas próximas Copas masculina e feminina e jogos olímpicos.
Obrigado a todos que ajudaram e contribuiram para a minha carreira. Tive diversos professores durante este caminho, como Ari Gomes, Alberto Ferreira, Philot, Ronaldo Theobald, Sebastião Marinho."
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