— Definitivamente, ele vai entrando no radar da Seleção. O Coutinho é um jogador que tem genialidade, e são poucos os que têm isso. Ele tem genialidade, está ficando com a forma física cada vez mais apurada. Todo mundo sabe que eu sou um cara que dá muito treino, e o Coutinho é um dos que mais treina. Tudo que a natureza falava e os aspectos normativos da fisiologia sugeririam ao Coutinho, nós estamos fazendo ao contrário. O Coutinho era poupado de treino e jogo. Hoje, ele treina e joga quase mais do que todo mundo.
— Às vezes eu tiro em jogos de caráter diferente. Hoje, jogou até os 30 do segundo tempo, e bem. O fato de a gente poder contar com um cara como o Coutinho facilita muito as coisas. O adversário respeita, o time fica mais confiante, e ele tem lampejos que não são coisas treináveis. Hoje ele fez uns cinco lances dos mais bonitos. É corta-luz, é toque de calcanhar, mudança de direção, enfiada de bola, drible. Ele é um cara que tá entrando em uma forma que, se continuar assim, é um postulante cada vez mais claro para disputar a Copa do Mundo.
— Acho que é porque foram todos jogadores muito rápidos. Um jogador de construção, que é o Nuno, e o Vegetti que é um finalizador (os substituídos). Entraram dois jogadores que têm boa técnica, jogadores de drible e de velocidade. Ganhamos, obviamente, mais projeção para o ataque com o time mais vertical. Não ganhamos mais controle. Quando a gente tinha espaço para explorar as costas, conseguia conectar o passe mais para frente e os jogadores conseguiam dar mais solução para a gente avançar de maneira vertical mais rápido.
— Eu acho que isso é fruto de persistência e de um bom trabalho. Quando os resultados não acontecem e o time tem performance, às vezes tem uma histeria externa de que as coisas estão erradas. Se calha em um momento desse de jogar mal e perder, aí está tudo errado. Acho que fomos e continuamos construindo muita coisa no Vasco. E com o trabalho de muita gente. O Vasco tem um material humano que certamente é um dos melhores do Brasil. Parte médica, fisiologia, massagistas, nutrição, cozinheiro. É uma comunidade que trabalha de maneira diferente. Esse é o maior patrimônio do Vasco hoje interno. Eu tenho experiência no futebol de muitos anos como jogador e treinador, e é um ambiente diferente e de pessoas muito capazes. Conseguimos elevar o nível dos jogadores do lado de fora e de dentro. Trabalhamos muito.
— Eu sou um cara que exijo muito. É bom falarmos do estafe porque o futebol não se resume ao treinador e ao jogador. Tem muita coisa envolvida e um time com muita dificuldade de dinheiro. Conseguimos fazer coisas diferentes. A torcida é o maior patrimônio, é diferente. Quem vem jogar aqui sabe, não é comum jogar com uma torcida dessa. Sempre tento fazer essa conexão porque é muito importante conectar a arquibancada com o time. Quando começa a acontecer como aconteceu hoje, fica mais fácil. É como se a torcida entrasse no campo. Como se tirasse gol ou ajudasse a fazer. Temos de trabalhar muito para isso seguir. E quando falo do trabalho de todo mundo, tem duas pessoas pouco citadas: o Clauber (Rocha, gerente de futebol) e o Felipe Maestro. São duas pessoas essenciais para o meu trabalho, chegam 7h comigo no clube. Saímos de lá 16h, 17h. Ninguém vai lá brincar. Chegam lá e trabalham, conversam com os jogadores. Na época de contratações debatem sobre os nomes, falam do dinheiro.
— Por que está dando certo? Porque muita gente está trabalhando de forma consistente, sem afrouxar e nos momentos de maior pressão é todo mundo mais junto e conectado. Obviamente a maior parcela de responsabilidade é dos jogadores. Quando as coisas ficaram com mais pressão, eles souberam se juntar. Quando tem pressão externa ou você afrouxa ou fica mais junto. Não fica igual. E esse time está aprendendo a ficar cada vez mais conectado.
— Se eu pudesse ter o estádio sempre cheio, a energia é muito boa da torcida. Quando eu vinha jogar aqui, no fim da década de 90 e início de 2000, talvez o auge da história do Vasco, jogar contra já era gostoso. Tanta a energia que tinha no estádio. E isso me marcou muito. Uma das vontades que eu tinha de trabalhar no Vasco era essa coisa que eu sentia da torcida. Estando aqui, é muito bom. O convite está sempre feito para eles comparecerem. Hoje, tenho convicção que ajudaram muito o time em todos os momentos do jogo. Foi uma dobradinha de muito brilho.
— Se você perguntasse um mês atrás, responderia até que poderia ser. Nesse momento, tenho convicção que não. O Vasco entrou concentrado porque os jogadores ganharam mais consciência daquilo que tem que ser e que o maior adversário a ser vencido é o próprio Vasco. Estávamos quase encostados na zona de rebaixamento desde que eu cheguei. Não interessa se é o Cruzeiro, o Flamengo, o G-6, o time que está lá embaixo, o Vitória ou o Juventude. O Vasco o concorrente maior é ele com ele mesmo. Tínhamos de sair de lá. Não ligamos para o adversário. Trabalhamos, sabemos que o adversário tem seus alcances de maneira privilegiada, o time do Cruzeiro tem poucas limitações, tem mais coisas positivas, assim como o Flamengo e o próprio Bahia. Contra o Ceará o que aconteceu foi uma desmobilização que não pode acontecer. Aquele jogo com o Botafogo foi uma descarga muito grande de energia e ficamos com pouco tempo para recuperar.
— Contra o Ceará nós desconectamos não por conta do Ceará, mas de um saber ganhar do Botafogo e ganhar no jogo seguinte. Foi o que aconteceu do jogo do Flamengo para o Bahia e para hoje. Isso foi um aprendizado que o time vai tendo. Não é uma coisa comum. Agira temos que ir escapando dessa zona de baixo para depois começar a olhar para a parte de cima da tabela. O Palmeiras vamos nos esforçar da mesma maneira. Sabemos que jogar lá é muito difícil e no Allianz é mais ainda. Campo de grama sintética, mais rápido, os caras molham muito o campo. Um aproveitamento grande. Vamos preparar da melhor maneira para ir a São Paulo e fazer uma boa partida.