O rumo do futebol brasileiro está prestes a ser mudado. O escandaloso lance de Jô, ao marcar com o braço e dar a vitória ao Corinthians sobre o Vasco, por 1 a 0, pelo Brasileirão, acelerou o aperto da CBF no gatilho relacionado aos árbitros de vídeo. Pressionados por Eurico Miranda, que foi à entidade máxima do futebol na manhã desta segunda-feira (18), a medida mostra que o clube de São Januário não sangrou à toa. Mais do que isso: o sangue derramado não foi apenas por si.
Em pleno 2017, o futebol, mais do que nunca, é caracterizado como negócio. Dinheiro, trabalho e planejamento (nem de todos) vão dando o tom. Quando Jô empurrou a bola com o braço, a primeira coisa que me veio à cabeça:
Não entro no mérito de crucificar Jô. Ele foi ensinado a vencer a qualquer custo em um país em que muitos pobres e sem acesso à educação enxergam o futebol como única esperança. E, pela cultura errada e encruada na sociedade, só desta forma Jô alcançaria o seu sonho. Não vou julgar um cara que, com 16 anos, estava estreando pelo time paulista com a carga nas costas de sustentar sua família enquanto deveria estar em uma sala de aula. Não vou.
Não entro no mérito dos clubes. Não se trata de Vasco e Corinthians. Trata-se do esforço de milhares de pessoas em torno daquele momento. De jogadores ao porteiro dos clubes durante a semana. Do sentimento e do bolso do torcedor, que consome e investe muitas vezes o dinheiro que não tem em um ingresso caro para assistir ao seu time. O resultado dentro de campo impulsionado por erros, muitas vezes deploráveis, são pequenos para os danos que ele gera fora dele.
Fica o questionamento: vale mudar a regra no meio da competição? Sem titubear. O que você prefere: começar a acertar agora ou manter os erros recorrentes e danosos para muitos além das quatro linhas até o fim do ano? A resposta é muito simples para aqueles que são a favor da justiça. Não há mais espaço para erros humanos serem justificados enquanto câmeras, muito mais eficientes, são capazes de dar o veredito correto.
Enfim, evolução no futebol. Será o extermínio da maioria dos erros. A justiça para os esforçados. A recompensa para o trabalho. E nem pense em dizer que "vai tirar a graça do futebol" ou irá "mudar a dinâmica do jogo". A graça do futebol e da vida é ser honesto. Não há argumento que mude isso. Se a CBF quer tentar recuperar um pouco do prestígio soterrado que tinha, a esperança de que a mudança será implementada da melhor forma possível é a que fica. Decisão correta entre tantos equívocos.
O futebol já sangrou por muito tempo pelas injustiças. Que o derrame agora seja dentro de campo pela vontade de vencer. Seja suor ou sangue: ambos terão o embasamento da verdade.

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