Futebol

Jornalista Sérgio Cabral opina sobre o caso Bernardo

Quando eu tinha meus sete, oito anos de idade, os meninos maiores aproveitavam as discussões entre meninos menores para promoverem uma briga entre eles. Mas havia um ritual: primeiramente, os meninos maiores passavam a mão na cabeça de um dos contendores e fingiam tirar o cabelo dele para colocar na cabeça do outro. Este, então, era estimulado e buscar o cabelo de volta, mas o adversário impedia batendo no braço dele. Daí em diante, saíam no sopapo.

É claro que, depois de um certo tempo, esse ritual acabou, como comprovou Daniel, filho do poeta Paulo Mendes Campos, que, ainda menino, apanhou feio durante uma temporada em Minas Gerais. Quando chegou em casa, todo arrebentado, o pai perguntou: \"Mas como você permitiu isso, meu filho?\" Justificativa de Daniel: \"Não sabia que aqui a briga começasse logo\".

Outro caso é mais recente e ocorreu com Bernardo, jogador (por enquanto) do Vasco. Que ele tem todo o direito de exigir do clube o pagamento em dia, não há a menor dúvida. Que oVasco não tem o direito de deixar de cumprir seus compromissos com os profissionais que lhe prestam serviço, também não há a menor dúvida.

O problema é que, pelo menos do ponto de vista ético, haveria um ritual a ser cumprido. A primeira providência seria Bernardo procurar a diretoria do clube para expor sua preocupação por não receber o que lhe é devido e até anunciar que pretendia entrar com uma
ação na Justiça. O que não pode é, sem conversa nem nada, o Vasco ser surpreendido por uma ação com tudo para ser vitoriosa, que deixará o clube sem qualquer direito sobre o jogador. Tudo isso depois de um imenso esforço para levantar três milhões de reais para pagar ao Cruzeiro os direitos federativos dele. Como vascaíno, espero que o Vasco pague o que deve ao jogador e promova as pazes dele com a torcida, da qual, aliás, era uma espécie de quindim.

Bernardo era tão querido pelos torcedores que foi até perdoado pelas péssimas atuações que andou apresentando ultimamente, algumas vezes compensadas por uma falta muito bem cobrada. E olha que a torcida vascaína sabe ser cruel até com jogadores que não erram tanto. Agora, não sei como ficarão as relações com o jogador, que, aliás, foi pela primeira vez vaiado, ao deixar o campo na partida contra o Volta Redonda.

Não sei se o processo é coisa de procuradores ou do próprio pai dele, o ex-jogador Hélio Doido. Seja de quem for, aconselharia outro caminho para resolver o problema, já que castigar o Vasco com um prejuízo de três milhões de reais, que se somará à obrigação de pagar todos os atrasados, poderá até ser correto, mas resultar á, certamente, em muito ódio. É melhor o Vasco pagar logo o que deve, pedir desculpas pelo atraso, enquanto Bernardo suspende a ação na Justiça.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)

Fonte: Coluna de Sérgio Cabral - Lance!