Futebol

O dia em que virei vascaíno (*)

Por Cal Gomes

\"PeléNo dia 20 de novembro de 1969, há exatos 40 anos, pela primeira vez, vi o Vasco na minha frente.

E minha memória ainda guarda detalhes daquele dia... daquela noite.

Naquela pequenina casa de uma cidade encravada e escondida entre a topografia deslumbrante de Jerônimo Monteiro, interior do Espirito Santo, sentei-me desconfortavelmente no colo de meu pai... em uma poltrona no canto de uma sala que perfumava a cera que minha mãe, no final da tarde, passara no assoalho de tábuas corridas.

Naquele início de noite, após o jantar, fui convidado a \"sossegar o facho\" e a \"sentar quietinho\" para ver televisão.

Naquele momento, a conversa entre sapos e grilos, que vinha lá de fora, era mais interessante para mim.

Entediado, aborrecido, mas resignado, voltei meus pequenos olhos para aquele aparelho de televisão que se equilibrava entre quatro pés palitos.

A imagem em preto e branco, vinda da extinta e saudosa TV Tupi, mostrava um cenário desconhecido para mim... garoto da roça: um amontoado de homens misturados no meio de um pasto... correndo atrás de uma bola branca.

Pedi explicações a meu pai sobre o que estava vendo.

Ele se animou e foi me contando o enredo com sotaque caipira:

\"Isso é um jogo de futebol. Um time contra o outro. Ganha quem colocar mais vezes aquela bola branca dentro daquilo ali que eles chamam de traves.\"

Ainda sem entender muito aquelas explicações, continuei ouvindo:

\"Pelé

\"Esse jogo já acabou. Ele aconteceu ontem. Foi quando aquele \"escurinho\" ali, com a camisa branca, marcou o seu gol número 1000. Ele é o melhor de todos. Se chama Pelé... e o time dele é o Santos.\"

Por alguns minutos, parei de ouvir para perguntar.

E sem tirar os olhos da tela, apontei:

- E aquele outro time com a camisa preta... quem é?.

Meu pai respondeu, sorrindo:

\"A

\"Esse é o Vasco... Vasco da Gama. É o meu time... é o time que eu gosto.\"

Maravilhado, e já apaixonado por aqueles uniformes correndo no \"pasto\" do Maracanã, camisas pretas com a faixa branca, calções brancos, meiões pretos, comecei a me interessar por aquela partida de futebol.

E continuei o diálogo com meu querido pai:

- Então vou ser Vasco também!

Mas ele me avisou:

\"O

\"Esse jogo nós perdemos, filho...\"

Respondi:

- Tudo bem, pai... amanhã nós vamos ganhar.

E desde aquele dia, nunca mais deixei de amar e de torcer pelo Vasco.

Perdendo ou ganhando.

E talvez eu deva isso também a Pelé... e ao seu milésimo gol.

Obrigado, meu Rei.

Cal Gomes, capixaba, 48 anos, morador de Ipanema desde 1970, é jornalista e publicitário.

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