Caros leitores, não se enganem. Pior que a atuação horrenda – principalmente no primeiro tempo – e o 2 a 1 que o Brasil de Pelotas nos impôs ontem foi a entrevista coletiva dada pelo nosso treinador após o jogo. Faltando quatro jogos para o fim do campeonato, com o quinto lugar mais próximo a cada rodada e uma aparente incapacidade de tirar sua equipe de um pântano de mediocridade, Jorginho fez declarações que evidenciam ora uma grande desconexão com a realidade, ora uma teimosia muito perigosa para o atual momento do time.
Mas vejamos o que disse o técnico vascaíno:
“Primeiro tempo foi muito ruim, nós jogamos só na vontade, não teve criatividade nenhuma, não mantivemos posse de bola. Apesar de termos posse de bola maior no primeiro tempo, não conseguimos ser efetivos. Eles conseguiram muito bem finalizar várias vezes, não conseguimos fazer isso. Melhoramos muito no segundo tempo”
Admitir a péssima atuação da sua equipe no primeiro tempo é até bom, mas esse reconhecimento não chega a ser um grande mérito para Jorginho. Só um cego não veria o desastre que foi o Vasco na etapa inicial, quando tivemos uma das piores atuações dentro de uma competição onde essa foi a tônica do Vasco. Agora, para achar que “melhoramos muito” no segundo tempo, só se nosso treinador voltou do intervalo usando óculos da Pollyana. Ter feito um gol, na única boa jogada que o time conseguiu nos 90 minutos, não seria o bastante para dizer que melhoramos, muito menos que melhoramos muito.
“Agora temos que correr atrás desse prejuízo. Só dependemos da gente, não precisamos depender de outros resultados. Isso é fundamental. E que a gente mantenha dessa forma, para não dependermos de ninguém (para subir)”
Faltando quatro rodadas para o fim do Brasileiro e sem estarmos ainda garantidos na elite em 2017, Jorginho ainda fala em “correr atrás do prejuízo”, como se a queda de rendimento do time fosse algo recente. Não é, e correr atrás desse prejuízo é um substituto para o “precisamos de trabalho para sair dessa fase”, a antiga desculpa padrão dada pelo treinador há séculos após cada resultado ruim. Dizer isso após ter NOVE DIAS apenas treinando e o time piorar em todos os sentidos é algo inexplicável. Aliás, é a segunda vez que isso acontece: Jorginho ter um bom tempo para “trabalhar” o time e ele voltar pior do que estava antes.
“No início, pela arrancada que tivemos, criou-se uma expectativa muito grande de que a coisa seria mais simples, mas não é. (...) Perdemos a gordura que nós tínhamos, e agora a coisa está bem apertada”
O otimismo do começo do campeonato não teria mais sentido hoje em dia, obviamente. Mas usar o bom início de competição para justificar a expectativa por uma Série B sem problemas para o Vasco é demonstrar uma completa falta de noção do tamanho do clube. Não, Jorginho, não foi a “arrancada que tivemos” que criou qualquer expectativa. Foi, sim, o fato de termos um elenco milionário na comparação ao dos adversários, de termos um monte de jogadores consagrados - ainda que veteranos - no grupo, de termos um técnico (sabe-se lá porque) incensado no comando do time e, principalmente, porque o Vasco é um clube gigante e teria sim a obrigação de fazer uma Série B sem complicações. Ou pelo menos não tão problemática como a que temos feito.
“Precisávamos realmente pressionar. Infelizmente tomamos um gol de fora da área e outro que não esperávamos tomar depois dos 40 minutos”
Ao dizer isso, Jorginho procura justificar a derrota apenas por conta dos gols que sofremos. Acontece que mesmo sofrendo dois gols, poderíamos ter vencido se fizéssemos três ou mais. Só que isso seria impossível em um jogo que praticamente não criamos, finalizamos muito pouco e mal, nessas poucas vezes. A defesa do Vasco nem de longe apresenta a mesma segurança de antes, mas a principal derrocada do time é na parte ofensiva.
“Acabamos tomando um gol numa infelicidade. Um jogador não conseguiu entrar na linha de impedimento e acabamos tomando esse gol”
Talvez a infelicidade citada tenha sido as escolhas do Jorginho. Colocar Bruno Gallo no jogo ou insistir com Madson (o tal jogador que “não conseguiu” entrar na linha de impedimento). O pior de tudo é saber que na próxima partida teremos Madson em campo mais uma vez. E Julio Cesar. E provavelmente Jorge Henrique.
Em um dos raros momentos de lucidez na entrevista, Jorginho praticamente jogou a toalha sobre a possibilidade do título da Série B e reconheceu que o objetivo do Vasco, agora, é simplesmente subir. Ainda assim, ao dizer que “porque no Vasco não vai ter nenhuma foto do time campeão da Série B de 2016 se isso acontecer”, o treinador se presta ao papel de desdenhar de algo que, agora, já não tem mais possibilidade de conquistar. Seria mais digno se o treinador assumisse sua responsabilidade na mudança de metas do time. Se antes se falava em fazer a melhor campanha de um grande na Série B e agora temos que lutar para apenas fazer a mínima obrigação de voltar à elite, Jorginho tem grande parcela de culpa nisso tudo.
As atuações…
Martín Silva – mesmo que o segundo gol não tenha sido uma bola completamente indefensável, foi um dos melhores do time. Fez pelo menos duas boas defesas e não teve culpa no primeiro gol.
Madson – dormindo no lance, não se adiantou com a linha da zaga e deu condições para que o jogador do Brasil recebesse a bola que originou o segundo gol.
Luan – se complicou em alguns lances, talvez pela falta de ritmo depois de algum tempo fora de combate.
Rodrigo – também teve dificuldades, sem ter a desculpa que Luan teve. No primeiro gol do Brasil, falhou ao tentar dar o bote em Diogo Oliveira.
Júlio César – a nulidade de sempre, mas não chegou a comprometer.
William – mostrou a disposição de sempre, mas foi mais estabanado que de costume. Passou metade do tempo em que esteve em campo se estabacando sozinho, inclusive quando dava combate ao Diogo Oliveira, no lance em que marcou com chute de fora da área. Deu lugar ao Bruno Gallo, que mais uma vez foi mal. No lance do segundo gol, não conseguiu evitar a finalização do jogador do Brasil.
Douglas Luiz – mesmo não tendo uma atuação tão boa como em outras partidas, foi mais uma vez o melhor do time em campo, dessa vez marcando um gol.
Andrezinho – limitou-se a ajudar na saída de bola, sendo muito pouco efetivo na criação de jogadas.
Nenê – mostrou empenho, mas pouco conseguiu fazer. Ainda assim, foi mais uma vez decisivo, fazendo bela jogada individual e deixando Douglas Luiz na cara para marcar o gol vascaíno.
Jorge Henrique – para uma análise do jogador, só mesmo perguntando para o Jorginho. O treinador deve ter visto algo que dificilmente qualquer outra pessoa tenha visto. Saiu no intervalo para a entrada do Thalles, que obrigou o Brasil a mudar seu esquema de marcação e facilitou um pouco as coisas. Mas de prático, fez muito pouco.
Éderson – ontem foi uma figura nula em campo, protagonizando um “mistério Tostines”: ele pouco participou por que não recebeu bolas ou não recebeu bolas por que se movimentou pouco? Deu lugar ao Jr. Dutra, que mal conseguiu ser citado pela transmissão.