Clube

Opinião: "Que Clube é esse..."

\"Que Clube é esse...\"


“Heróis do mar, nobre povo,

Gente valente e imortal...”


É em analogia ao hino da terra-mãe de muitos de nós, o nosso querido Portugal, que começamos essa Declaração de Amor prestando homenagem àqueles que com sangue, suor e lágrimas construíram a grandeza desse Clube. Esse Clube que já nasceu grande, que foi herói no mar, como que a referendar o nome que lhe foi dado, e que, ao passar das raias náuticas para o verde dos gramados agigantou-se. Que Clube é esse...!!!

Que Clube é esse que traz em seu hino um forte traço, traço marcante do congraçamento: traço de união Brasil–Portugal. Não há como negar que seja esse o Clube que melhor representa o elo da luso-brasilidade e que está presente desde a sua fundação.

Há portugueses e brasileiros associados de muitas casas portuguesas, é verdade. Entretanto, todos têm uma paixão em comum: esse Clube. Assim, é imperiosa a pergunta: que outro clube conseguiria isso? Que Clube é esse...!!!

Que Clube é esse que, seguindo a boa tradição lusitana da miscigenação, abraça e em suas fileiras etnias diferentes. E não estamos falando dos dias de hoje e sim de um tempo em que o convívio social nos grandes clubes era prerrogativa de gente de extratos sociais mais favorecidos. Aí vem um Clube, dito de portugueses, e acolhe brasileiros, brancos ou não, abastados ou não e se afirma naquele cenário...até então elitista...Que Clube é esse...!!!

Que Clube é esse que, desde os seus primeiros momentos de vida, tem dado bela demonstração de igualdade de raças. E naqueles primeiros momentos isso não foi nada fácil. Já em 1904 elegia um presidente de origem negra, quando mal havíamos completado 16 anos da Abolição da Escravatura. Um belo e pioneiro exemplo que só um Clube como esse poderia dar. Que Clube é esse...!!!

Que Clube é esse que, além de tão belas demonstrações de convivência social que deu à sociedade brasileira, nos momentos mais difíceis da Pátria, disse “Presente!” e mostrou o que é civismo ao abrir suas portas para ações que expressassem o amor pelo Brasil. Que no firme propósito de cooperar para com a formação do brasileiro disposto a defender nossa Pátria, cria em suas dependências uma Escola de Instrução Militar. Sim, é verdade. Houve tempo, tempo de guerra, da Segunda Grande Guerra, tempo em que a Nação Brasileira precisou enfrentar inimigos que ameaçavam seu território. Tempo que esperamos não mais aconteçam. E em exemplo jamais visto, esse Clube, a gente desse Clube, dá uma demonstração de amor ao Brasil, doando aviões à Força Expedicionária Brasileira. Que Clube é esse...!!!

Que Clube é esse que, mantendo sua destinação pioneira, cria o conceito de Responsabilidade Social, lá pelos anos 20. Hoje, todos sabemos o que é isso. Todos estimulamos isso. Hoje é moda. Contudo, lá atrás, nos já longínquos anos 20, isso não era nada fácil. Somente por inspiração divina é que alguém, ou alguma instituição, poderia se engajar nesses conceitos tão nobres. E aí, em 1923, emerge da 2ª Divisão do Futebol Carioca, um Clube de Regatas, já grande, grandíssimo, no remo e, para espanto geral de todos, afronta os demais com a justa pretensão de ser grande como eles. Logo o Clube dos portugueses, o Clube que tinha negros em sua equipe principal de futebol, sem contar com os que tinham pouca, ou quase nenhuma, instrução...isso, na visão aristrocática dos demais, era demais!!!

A ação de sustentar contra tudo e contra todos a permanência daqueles atletas humildes, mas apaixonados por esse Clube, pouco letrados, mas dispostos a dar o sangue por esse Clube, despertou a ira de quem não adepto desse Clube. Mas a cepa dos dirigiam esse Clube era boa e mantiveram-se firmes em seus propósitos. Estava implantado o conceito de inclusão social. Isso nos trouxe mais simpatizantes. Nos trouxe mais apaixonados.

Clube de portugueses...negros e brancos pobres na equipe...e Campeão, logo no primeiro ano em que disputa a principal Divisão do principal Campeonato do Brasil, o do Rio de Janeiro...Foi muita afronta!

Os grandes já haviam consolidado suas posições naquele cenário e não admitiriam um intruso naquele seleto clube. Mas e aquele Clube? O dos portugueses, negros etc...A pergunta era corrente...Que Clube é esse?

Que Clube é esse que ao levar sua gente aos estádios mudou a maneira de se “ver” futebol, de se entender o quanto um enorme público mudava a relação torcida x jogadores. Os estádios ficavam cada vez menores...

Tentaram então outro golpe que supunham nos liquidaria: aquele Clube não tinha uma casa própria, não tinha estádio...

Só não contavam com a fibra da nossa gente. Só não se lembravam que uma raça de heróis não degenera. Tínhamos que ter um estádio? Para fazer daquele grupo de grandes tínhamos que ter um campo do padrão do que eles tinham? Era isso? Só isso? Então lhes demos o maior estádio da América do Sul. Aí, não havia mais o que contestar. Havia chegado mais um grande! Que Clube é esse...!!!

Que Clube é esse que em toda a sua história tem demonstrado ser a síntese de todos os grandes clubes brasileiros. Que tem uma torcida apaixonada, fiel, que o acompanha aonde ele estiver e para o que der e vier. Uma imensa torcida bem feliz, de Norte a Sul deste País. Que por esse Clube haverá de torcer, torcer, até morrer. Vamos todos, sempre, cantar de coração pois Cruz de Malta é o nosso pendão.

Clube glorioso, não podes e não deves perder pra ninguém. As tuas glórias vem do passado, do presente e, temos a certeza, também virão de um futuro que ficará marcado na história do desporto brasileiro.

És glória do desporto nacional, és internacional, pois fostes tu o primeiro Clube brasileiro a se sagrar campeão no exterior, em 1948, Santiago do Chile. Campeão Sul-americano de Clubes Campeões. Campeão dos Campeões, eternamente em nossos corações. Clube tantas vezes campeão, seja na terra, seja no mar.

Tua história, tão gloriosa no campo esportivo quanto a dos outros, é diferente porquanto elas transcendem os muros dos estádios, das quadras, das piscinas. Tão ímpar é a tua história, marcada pela luta contra a discriminação, contra o preconceito social e racial. Tão ímpar que mesmo aquele que não é adepto desse Clube a conhece.

Que outro Clube conseguiria internar nos corações e mentes de simpatizantes de outras agremiações escalações que viraram lendas. É só incitar aqueles que foram da geração dos nossos avós a relembrarem Jaguaré, Brilhante e Itália, que estes continuarão com Tinoco, Fausto e Mola.

Já para os de uma geração posterior é só iniciar com os nomes de Barbosa, Augusto e Rafaneli, e eles completarão com Eli, Danilo e Jorge. Todos, sem exceção, comentarão sobre o “Expresso da Vitória”. Que Clube é esse...!!!

Esse é o Club de Regatas Vasco da Gama, para uns Vasco da Gama e para nós, apaixonados que somos, simplesmente Vasco.

Querido Vasco, te amamos, pois tu és em essência, a nossa essência. Brava gente brasileira e portuguesa.

Vasco, querido, somos apaixonados por ti, pois demonstras uma capacidade, sem igual, de recuperação.

E essa recuperação começou por algo sem precedentes na vida dos grandes clubes brasileiros: eleger seu maior ídolo para presidente. E elegemos Roberto Dinamite. Ele, tão acostumado a resolver os problemas do Vasco dentro de campo, foi ali colocado para resolver todos os problemas do Vasco.

O Vasco de hoje recupera-se. Recupera-se dos danos que lhe foram impostos nos campos esportivo, social e institucional.

Quando muitos acreditavam que um insucesso desportivo, como o do final de 2008, fosse suficiente para que sucumbíssemos, eis que acorda o “Gigante da Colina” e dá demonstrações inequívocas da força de sua gente, brasileira e portuguesa, branca e negra, rica e pobre.

Quando pensavam que estávamos na marca do penalty, eis que trazemos a marca Penalty.

Quando supunham que não tínhamos mais força, que não tínhamos mais energia, se apresenta a Eletrobrás como nossa parceira.

E, por fim, para sepultar as esperanças daqueles que se achavam donos do Vasco, é feito um chamamento para que apareçam os verdadeiros donos do Vasco. E passados três meses do lançamento da campanha ”O Vasco é meu”, apareceram, por enquanto, 35.000 novos donos do Vasco. Essa turma é boa, é mesmo da fuzarca!

Estás vendo, Clube querido, que um filho teu não foge à luta, luta desportiva e pelos ideais da bom competir. Seus filhos nunca fugirão ao teu chamamento.

Vasco amado, nos emocionamos de ver tremular a tua bandeira. Teu pavilhão não é uma mera composição estética, a mais bela por sinal, mas sim a representação de tudo pelo que passaram os nossos ancestrais: o negro representa o desconhecido dos mares singrados pelo grande almirante que te dá nome; a faixa branca, a gloriosa rota vencida pelas grandes navegações portuguesas e a cruz, ah...essa cruz, a inabalável fé cristã.

Salve lindo pendão da esperança!

Parabéns, querido Vasco!

Vida longa a ti!

Glórias mil é o que te desejamos.

E, por fim, um trecho dos Lusíadas como a te balizar, Vasco, traçando um paralelo entre a vida no mar e a tua vida desportiva,

Trabalha por mostrar, Vasco da Gama

Que essas navegações que o mundo canta

Não merecem tamanha glória e fama

Como a tua, que o céu e a terra espanta!


Muito obrigado, Vasco, por existires!

Autor:

João Ernesto da Costa Ferreira

Conselheiro e Diretor de Patrimônio Histórico do C. R. Vasco da Gama

Fonte: -
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