Neste fim-de-semana tive contato íntimo com o belíssimo material do repórter Lúcio de Castro sobre Romário. Ao lado do editor Dinho Artigliri, vi e revi várias vezes o documentário, madrugada adentro, que mostrou do nascimento ao gol 1000 de um dos maiores jogadores do mundo.
Lúcio optou por um corte jornalístico inteligente. Basicamente, o VT era dividido em Pobreza Estrelinha Glória Expectativa. Mas com ênfase nas origens, nas pessoas e no ambiente que cercaram a formação do ser humano Romário. Foi claro perceber que o marrento de hoje era o menino desconfiado de ontem. A franqueza de hoje era a coragem de ontem ao enfrentar zagueiros maiores.
A reportagem é uma metáfora mastodôntica desse país maluco. O texto de Lúcio é sutil e delicadamente cutuca essa relação social onde só os bons de bola sobrevivem à crueldade da desigualdade. Ver a história de Romário é ver a saga de milhares de jogadores brasileiros. Nem todos viram Romário. Aliás, pouquíssimos.
Em vez de se orgulharem, a classe política brasileira deveria se envergonhar de ter fracasso durante séculos na tentativa de inserir o mais pobre no mundo Miami dos ricos. Esmolas e pirataria costumam enganar os que desfilam marcas fajutas pelas ruas das grandes cidades.
Romário disse a Lúcio: eu me considero um bom caráter. E a gente pára para pensar e repensar toda a trajetória dele. Não é que ele tem razão? Muitos reclamaram do tratamento especial que ele recebia. Outros do excesso de bolas que ele recebia.
Mas, em primeira pessoa assumida, eu vos digo: em todas as vezes que falei, entrevistei ou encontrei Romário, ele foi leal e correto. O que marcava fazia. O que falava garantia.
Não se trata de gastar palavras para alguém que não precisa de elogios. Apenas um cadinho de reflexões depois de saber que muitos chegaram às lágrimas após a reportagem no EE.
Boa semana a todos.
Mais lidas