A trégua na violenta guerra de torcidas organizadas, que comumente se enfrentam na Praça do Barreto e já resultou na morte de pelo menos seis pessoas, pode estar perto do fim. A Polícia Civil entrou em estado de alerta e voltou a monitorar alguns membros da 7ª Família da Força Jovem do Vasco e do 8º Pelotão da Torcida Jovem do Flamengo, depois da morte de André Nogueira, de 27 anos, chefe da 7ª Família, no último fim de semana. Para o delegado da 73ª DP (Neves), Luiz Antônio Ferreira, torcedores podem estar se articulando para vingar a morte de Nogueira.
Eles deram uma trégua, logo depois da operação, porque sabiam que, se fossem pegos, seriam presos e dessa vez não sairiam tão facilmente. Mas agora, têm outros pontos de encontro, e podemos não conseguir frustrar os ataques. A história mostra que todos os confrontos foram violentamente revidados. Eles já invadiram um hospital para agredir outro torcedor , teme Ferreira.
Namorada de vascaíno presta depoimento
Na última quarta-feira, a namorada de Nogueira prestou o primeiro de uma série de depoimentos que devem ajudar a polícia a identificar os autores do crime. Ele foi morto dia 16, com vários tiros, na porta da casa dela, no Camarão, em São Gonçalo. Esse foi o terceiro ataque ao vascaíno, que sofrera outros dois atentados, segundo apurou o inquérito da 73ª DP. Ambos foram orquestrados por integrantes do 8º Pelotão da Torcida Jovem do Flamengo.
Integrantes de torcidas são soltos em poucas semanas
Em setembro de 2010, a delegacia de Neves deflagrou a Operação Hooligans, que prendeu 26 membros das duas torcidas, acusados de homicídio, formação de quadrilha, lesão corporal e dano ao patrimônio público. No entanto, algumas semanas depois todos foram soltos. Em seguida, os acusados e seus advogados foram advertidos pela juíza Patrícia Acioli, assassinada ano passado por policiais militares, sobre a reincidência de confrontos entre as duas torcidas.
Ela os avisou que a soltura deles não era o fim do processo e que seriam novamente presos, caso voltassem a se enfrentar. Com a morte dela, eles têm a falsa sensação de que nossas ações serão menos severas, o que não acontecerá disse Ferreira.
De acordo com o delegado, com a morte de Nogueira, a investigação tomará outros rumos, já que os torcedores mais violentos estão identificados. A polícia trabalha para tentar frustrar conflitos marcados para outros locais, que não a Praça do Barreto.
Ainda segundo Ferreira, a tabela dos campeonatos está favorecendo a investigação, já que os dois times não se enfrentaram. No entanto, basta que apenas um deles entre em campo para que a torcida se reúna e seja alvo de ataques.
Guerra que dura anosOs confrontos sangrentos entre integrantes das duas torcidas organizadas duram anos e fizeram dezenas de vítimas. No maior e mais audacioso deles, em março de 2010, cerca de 30 vascaínos foram atacados por flamenguistas que, em três carros, fizeram disparos contra os rivais, próximo à Praça do Barreto, tradicional ponto de encontro dos cruzmaltinos. Um jovem morreu e outros dois torcedores foram levados para o Pronto- Socorro de São Gonçalo (PSSG).
Segundo a polícia, um torcedor do Flamengo teria ido até o PSSG para zombar dos vascaínos, que aguardavam notícias dos colegas, mas acabou reconhecido e espancado por vascaínos. O flamenguista tentou fugir, entrando no hospital, mas foi perseguido por dezenas de vascaínos. Na briga, equipamentos dos hospital foram quebrados, e pacientes ficaram assustados com a balbúrdia. O rapaz que foi linchado teve traumatismo craniano.
Ano passado, cinco pessoas foram baleadas e uma morreu em outro ataque, no Barreto, após um jogo entre os dois times.