Aos 51 anos, a decisão de Jorginho assumir o Vasco na zona de rebaixamento, com uma das piores campanhas da história em todas as edições de Campeonato Brasileiro, poderia não passar nem de longe por uma boa ideia. Mas na primeira partida sob seu comando, apoiado por seu fiel escudeiro Zinho, o treinador conseguiu reverter a sequência negativa vascaína e fez o time colocar mais a bola no chão e encontrar a saída que ele conhece bem.
Foi pelas laterais que o Vasco mais conseguiu superar o Flamengo em todo o jogo. Com Julio dos Santos e, às vezes, Serginho pelo lado de Madson, mas principalmente com Christiano, Nenê e Jorge Henrique, as jogadas vascaínas se construíram nas costas do garoto Jorge e no espaço que Pará deixava para os avanços da equipe de Jorginho.
Logo no início do jogo, escapada de Madson encontrou Nenê sozinho na área. O camisa 10 dominou, mas colocou sem força, para defesa de César. O lateral-direito criaria outra jogada, desta vez de bola parada, ao arremessar com força para a área. Julio dos Santos chutou para fora. Christiano, que fez outra boa partida, levou vantagem sobre Pará e cruzou bem para outra vez o paraguaio desperdiçar a oportunidade.
A orientação de Jorginho era para o time deixar de dar chutões para frente. Na linguagem moderna do futebol, parar de usar as ligações diretas. O treinador precisou intervir quando Rodrigo lançou pela segunda vez, de canhota, da zaga para o campo do Flamengo. Jorginho gesticulou com dois dedos, indicando que ele repetia uma jogada que ele não queria. E numa das rápidas paradas de jogo chamou tanto o zagueiro quanto Guiñazu para passar mais instruções. Em pé quase o tempo todo, na segunda etapa Jorginho teve a companhia de Zinho, que levantava do banco e trocava ideias com o técnico na beira do campo.
- Fui lateral, sei que eles (Madson e Christiano) são a surpresa. Fico feliz de além deles terem colocado realmente sangue nos olhos, não desistiram. Todos foram muito bem - elogiou o treinador.
A liberdade para os laterais veio do treinador. Jorginho queria até saída simultânea dos laterais, sempre com a cobertura de Guiñazu e Serginho. Aliás, o último volante foi chamado de "leão" por Jorginho, pela importância dentro da partida.
Sem mexer no time até o meio do segundo tempo, Jorginho pretende manter a base para as próximas partidas. Ele gostou de Julio dos Santos, jogador que deixou o time ainda com Doriva e recebeu chances no fim da passagem de Celso Roth. Foi no preciso pé direito do paraguaio que saiu - aí sim - o longo lançamento para Riascos. O colombiano tinha Madson chegando, mas tocou para Jorge Henrique fazer um golaço.
Pouco depois, para completar a disposição dos laterais do Vasco, Madson ganhou uma bola esticada pelos rubro-negros, passou com facilidade por Wallace e conseguiu a expulsão do capitão do Flamengo. Na crise, a melhor saída é mesmo pelas laterais.
- É uma vitória que dá moral. Estamos bem nos clássicos. O Jorginho falou que a prioridade não era a Copa do Brasil, mas era o rival. Isso foi muito importante para nós - disse Madson.