Toda argamassa de parede que o garoto Bruno levava para entrega ainda estava ontem no chão da Avenida Nossa Senhora da Penha. Foi em frente à Escola Municipal Monsenhor da Penha, às 18 horas, pouco depois do horário de saída do colégio, que Adriano, com dois amigos na sua BMW branca, deu uma encostada no motoboy na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo do Alemão.
As versões do pequeno acidente são variadas. Adriano pediu que os fatos fossem apurados. Mas, apesar da presença de muitos policiais momentos depois da batida, não foi feito boletim de ocorrência e ontem a assessoria de imprensa da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que passou as primeiras informações na noite do acidente, disse que não iria mais se pronunciar.
Segundo testemunhas, três funcionários que trabalham em frente ao local da batida, Adriano não percebeu o motociclista saindo da calçada da loja de argamassa e bateu na moto vermelha de Bruno. Na hora, o jogador, que estaria com mais dois amigos e só teria retornado ao local e encostado o carro na calçada do colégio depois da polícia ir atrás da sua BMW, combinou de pagar o prejuízo do motoboy, que não sofreu nada nem quis prestar queixa.
Nas ruas da favela, quem comenta sobre o acontecido e se identifica são aqueles que defendem o Imperador mesmo com ressalvas. Jorge Luis, de 54 anos, professor da escolinha de futebol, diz que gosta muito de Adriano, mas não aguenta mais responder sobre ele.
- Chega de Adriano! É chato, toda vez é isso. A chance que ele tem, infelizmente, não aproveita - diz o professor, que lembra outros garotos com potencial para fazer sucesso na comunidade. - Não tem só o Adriano aqui, não.
Um dos talentos que saíram da Vila Cruzeiro já está no Vasco desde os oito anos. Caio Monteiro hoje tem 15 anos e foi campeão da Copa Brasil-Japão pelo clube de São Januário no último fim de semana. Ex-morador da favela, hoje ele mora com a mãe Cássia Monteiro Costa e o pai Beto Lalá em Olaria.
- O que a gente lamenta é que o Adriano lutou muito para chegar longe. Meu filho também é assim. Sai cedo de casa para treinar no Vasco, estuda por lá mesmo... - conta Cássia.
Falta de apoio
Durante algumas horas em que a reportagem do Jogo Extra esteve na Vila Cruzeiro, vizinhos de Adriano citaram os hábitos conhecidos do jogador do Flamengo na comunidade onde nasceu, que se repetiram na segunda-feira. O jogador subiu a rua conhecida como Terrinha, no alto da favela, soltou pipa ao lado da caixa d´água, bateu bola com as crianças e comprou cerveja junto aos amigos.
No campo onde o Imperador começou a jogar, o garoto Vitor Hugo, de 19 anos, lembra que há pouco tempo ganhou presente de Adriano.
- Ele me deu moral. Fomos uns 20 com o Adriano na loja de tênis, ele comprou chuteira para todo mundo - contou Vitor.
Mas a maioria cobra maior participação do Imperador em ajudar a comunidade. O professor Jorge Luis lembra que ele já teve um milionário patrocínio de multinacional de material esportivo e, com um pouco de esforço, poderia ter conseguido itens para a garotada.
- Temos uns 300 meninos jogando hoje em dia. Não custava nada conseguir uns tênis de segunda mão. Tem muito garoto que joga descalço.