A pressão vivida no comando do Corinthians envolve uma peculiaridade que traz recordações contrastantes para Antônio Lopes. A presença de um grupo de investidores que permite a contratação de reforços caros e badalados, como funciona a MSI em sua atual equipe, já rendeu mais fracassos do que sucessos na carreira do técnico.
Antônio Lopes tem duas referências parecidas com a vivida hoje no Corinthians, onde conta em seu elenco com quatro jogadores de seleções, como os brasileiros Gustavo Nery e Ricardinho e os argentinos Tevez e Mascherano. E as duas reservam lembranças mais amargas do que doces: os resultados decepcionantes quando o Vasco era bancado pelo Bank of América e o fracasso retumbante com o Grêmio gerido pela ISL.
Centro da desconfiança da diretoria do Corinthians por não ter conseguido até este momento da temporada imprimir o ritmo esperado para uma equipe que conta com reforços avaliados em mais de R$ 150 milhões, Lopes dirigirá a equipe na próxima quinta-feira obrigado a não perder o confronto contra o Tigres, pela Libertadores, para não correr o sério risco de ser demitido. Mas não só.
A pressão faz com que Lopes esteja ameaçado de ter a glória da conquista do Brasileirão de 2005 apagada por uma decepção na competição mais desejada pela Corinthians e sua parceira de investimentos milionários, o que repetiria o desgosto vivido por Lopes quando dirigia o Vasco no final da década de 90.
Responsável por dirigir a equipe carioca no título brasileiro de 1997, Lopes se beneficiou no ano seguinte do acordo assinado entre Vasco e Bank of America, uma parceria que previa injeção de US$ 100 milhões em dez anos de contrato e que acabou ajudando na conquista da Libertadores, com a contratação de jogadores como Luizão e Donizete.
No auge da parceria entre Vasco e seu investidor, porém, o Vasco fraquejou nas mãos de Lopes: perdeu a decisão do Mundial Interclubes para o Real Madrid, em 1998, deixou o Flamengo conquistar o Estadual do Rio do ano seguinte e sucumbiu diante do próprio Corinthians na final do primeiro Mundial de Clubes da Fifa, em 2000.
Desgastado, Lopes seguiu direto para o Grêmio acreditando que a então realidade financeira facilitaria seu trabalho, já que o clube gaúcho acabara de fechar acordo com a ISL, gigante do marketing esportivo e parceira da Fifa.
E mesmo com os reforços de Zinho, Paulo Nunes, Marinho, Zinho, Nenê, Ânderson Lima e dos argentinos Amato e Astrada, avaliados em R$ 27 milhões, Lopes não conseguiu vingar. Acumulou eliminações precoces na Copa do Brasil e na extinta Copa Sul-Minas, além da perda do título estadual para o Caxias. Cinco meses depois, o atual técnico corintiano caiu.
MILHÕES DE CONFUSÕES.
O tetracampeonato brasileiro e a possibilidade de conquistar o título inédito da Libertadores fazem a diretoria do Corinthians se preocupar mais com o futuro do que com a nebulosa realidade da parceria firmada com a MSI, desconhecido grupo de investidores representado por Kia Joorabchian que chegou ao clube em 2004.
Nem a suspeita do dinheiro sair da mão de figuras controversas como Boris Berezovski e Badri Patarkatsishvilli, acusados de crimes na ex-União Soviética, desencorajou o presidente Alberto Dualib a topar o negócio. O que virá pela frente, porém, ninguém sabe. Assim como não sabiam Vasco e Grêmio quando acertaram com o Bank of America e ISL, respectivamente.
O Vasco acertou em 1998 um contrato de dez anos que, após as contratações milionárias de jogadores como Edmundo, Romário, Juninho Paulista, virou briga jurídica que se estendeu além do rompimento, ocorrido em 2001.
Já o Grêmio esfregou as mãos quando assinou com a ISL, parceira da Fifa e gigante do marketing esportivo. Resultado: a empresa faliu e o imbróglio se segue até hoje, envolvendo acusações de desvio de cheques no valor de US$ 310 mil.