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Artigo: Como Eurico merece ser lembrado e o que não pode ser esquecido

TEXTO DE ALEXANDRE RODRIGUES, ESCRITOR E JORNALISTA

Eu me lembro que tinha uma eleição, era importante, mas, mesmo sendo mesário, a cabeça estava em outra votação, a escolha do presidente do Vasco. Isso aconteceu na metade dos anos 80. No que podia entender – só tinha 18 anos, me deem um crédito –, eu torcia por Eurico, o dirigente que anos antes havia impedido Roberto Dinamite de ir para o Flamengo.

Eurico, ainda com uns 40 e poucos anos, encarnava àquela altura a revolta de jovens vascaínos, como eu, que haviam sobrevivido ao rolo compressor que foi crescer vendo o Flamengo de Zico, Junior, Adílio, Nunes e cia jogar. Uma disparidade doída que só não deixou uma marca insuportável porque Roberto Dinamite, antes e depois de uma experiência fracassada no Barcelona, nos salvou do pior, brilhando aguerridamente em times fracos para nunca deixar a superioridade flamenguista entrar em campo.

Em gratidão, troquei na época a foto do papa que estava emoldurada na sala da minha casa pela dele. Meus pais protestaram, mas depois de um tempo ficou tudo bem.

Se Dinamite nos salvou, isso foi porque Eurico o buscou na Espanha e não deixou que voltasse para o Flamengo, etc – era o que pensava. Merecia ser presidente do Vasco – era o que eu defendia. Muitos creditavam a modorrenta penúria vascaína em quase três décadas, com três estaduais, um Brasileiro, uns torneios e mais nada, ao poder envelhecido no clube. Até hoje existe essa força invisível – os sócios beneméritos.

O adversário de Eurico, Antônio Soares Calçada, era um sessentão ligado, dizia o noticiário, às forças tradicionais. O Vasco precisava se modernizar e aquilo – renovação – que hoje muitos torcedores veem em Julio Brant, o jovem executivo garfado na última eleição para a presidência, era simbolizado, veja só, por Eurico.

Mas Eurico perdeu, ainda que não tanto. Convidado por Calçada, aceitou se juntar ao adversário. Aos 18 anos, talvez tenha sido minha primeira lição de realpolitik, mas o fato é que deu certo. Pacificado, o clube iniciou a maior década e meia de sua história – seis estaduais, três Brasileiros, uma Libertadores, um Rio-São Paulo e uma Mercosul.

É lógico que, como para qualquer vascaíno, é figura emblemática da minha própria relação com o clube, com um misto de admiração e repúdio. Muitos veem mais a virtude, como os jogadores e os ex-jogadores, mesmo desafetos como Edmundo, Juninho e Roberto, que assim que a morte foi anunciada se puseram a homenageá-lo. Entre erros e acertos, somos todos humanos, mas foi alguém que amou, viveu e defendeu o Vasco. É mais do que justo que seja lembrado assim.

Um comentarista lembra que foi seu jeito de comandar, por exemplo, contratando Bebeto, o maior ídolo do Flamengo, que fez do Vasco x Flamengo e não o Fla-Flu, como antes, o principal clássico do Rio. Eurico, provocador, promoveu o Vasco. Flamenguistas ultrajados levaram a rivalidade a um novo patamar. Deu certo. Fora ter criado a Copa do Brasil no breve tempo em que foi diretor da CBF, muitas vezes foi visionário. É justo ser lembrado por isso também.

Alguém vai falar então das viradas de mesa, do Clube dos 13, das invasões de campo, das contas no exterior, daquela final da Copa João Havelange, do "roubo da renda do jogo" e principalmente do pecado de ter feito do Vasco por um bom tempo um clube antipático aos outros torcedores. O que explica a penúria financeira, seguida de três rebaixamentos. Patrocinadores rejeitavam Eurico, logo, rejeitavam o Vasco, que se enfraqueceu. Do mesmo jeito, é justo que isso não seja esquecido.

Existe um belo perfil, escrito por Roberto Kaz e publicado pela Piauí no comecinho da revista, em 2006. Eurico vive a plenitude do personagem que criou para si. Os charutos e suspensórios sempre me pareceram maneiras de ajudar a compor. Criar uma imagem de chefão. Coisa de quem no mesmo texto confessa ter lido Cervantes e Dostoievski.

Uma espécie de sombra baixou nas últimas horas, desde que li sobre a morte. Me vi dando F5 numa página de notícias do Vasco, verificando a romaria de lembranças de nomes ligados ao clube. Melancolia. A morte não liberta ninguém dos seus erros, mas tem esse poder de fazer todo mundo ser visto de maneira justa. Como Eurico será lembrado? Acabo de ler um texto chamando-o de “icônico”.

É, foi.

Fonte: (ge)
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